Palácio de Espelhos

Em seu pequeno e vasto mundo novamente adentrou. Um escape, uma dissociação, talvez onde uma suposta paz reinava. Precisava de algo para se sentir feliz, esquecer do que o real lhe aguardava, não muito longe dali.

Era um palácio. Não tão majestoso quanto os de grandes reis da Europa medieval, ou tão rico quanto dos sultões, mas ainda assim, era teu. Nada havia ali além de espelhos. Mais e mais espelhos. Era como se estivesse num parque de diversões, porém, nada divertido.

Nenhuma imagem ali contida era verídica; eram diversas distorções, de todos os tipos: altura, largura, fisionomia como um todo. Mas não apenas disso, como também de caráter e capacidade. Tudo, absolutamente tudo que se encontrava naquele castelo daquele mundo não condizia com o real, mas admirava aquilo. E tinha plena convicção que era tudo que via: uma reles mortal, estúpida e incapaz.

E ali ficava. O que fora criado numa tentativa de liberdade tornara-se uma repetição cruel e psicótica do que já experimentava em realidade. Era uma nova prisão. E vinha de sua pobre e perturbada mente; era pior.

Daquele jogo ilusório não queria sair; gostava de lá. Tinha consciência de sua tristeza, mas não de que a ocasionava aquele espaço. Os vidros que a julgavam eram plumas onde, entre lágrimas, poderia adormecer.

Vira, após aquele período infinitesimal dentro de seu castelo de confinamento, um pequeno feixe de luz. Não sabia de onde vinha, afinal, os espelhos o redirecionavam, levando a garota presa, novamente, a lugar nenhum. Admirou-se com aquilo. Um fio iluminado por ali passando era estranho, mas bonito. Passou a caçá-lo.

Encontrando-o encontraria tudo que há muito anseia. Seguindo-o acharia o fim de seus medos, mutilações e autojulgamentos. Como se diz que há ao final do arco-íris um pote de ouro, no fim do caminho talvez seria novamente livre. "Talvez" pois nesses passos por entre vidros já em cacos, surgia viscos de temor. Mas nessa direção, poderia ser novamente ela.