madrugada transpassada

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berrava feito animal amedrontado. mas não estava com medo :seu espírito é forte o bastante para não temer. berrava dizendo q morreria :não iria morrer :mas é justo q se berre q morrerá neste mundo de mortos vivos. na verdade estava muito bêbada. e a essa altura da madrugada já não havia mais vinho e estávamos no escuro. sobre o chão frio e duro :colchões. e sobre eles nossos corpos desfalecidos e nus. chorando como q uma faca a perfurasse a garganta :berrava q morreria. como estava menos bêbado :agarrei-a e cuidei para q se sentisse protegida. pedia socorro :estava caindo. na verdade estava bêbada em meus braços :mas neste mundo de profundos abismos :é justo berrar por estar em queda. breves cochilos eram interrompidos por choro demasiado. 'o mundo está girando!' :berrava como se não soubesse q esse mundo não para :apesar de todos os dias serem os mesmos. chorou e berrou e caiu e morreu :até vomitar. creio mesmo q enchera um balde. chorou e berrou e caiu e morreu :até dormir profundamente como ignorasse tudo o q ocorrera. olho-a já há um bom tempo sob a pouca luz q invade pela janela :esta criatura tão nua e tão viva e tão bêbada e tão forte e tão vulnerável :todos os males do mundo a transpassaram nesta madrugada :espero q ao menos por ora tenham sido expulsos junto com o vômito.

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geovanne otavio ursulino
Enviado por geovanne otavio ursulino em 05/10/2013
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