A Janela
Ela entrou no espaço vazio, a porta fechou-se atrás dela. Estava tudo escuro, não havia uma única luz. Era assim que ela via e sentia tudo dentro de si mesma, escuro e frio.
Por um momento ela deixou-se cair ao chão, abraçou-se ao corpo, no escuro, a tentar proteger-se de algo que pudesse aparecer ali. Algo que pudesse assusta-la. Porque no escuro, tudo é sempre tão assustador e nunca se sabe o que pode acontecer.
Tudo o que conseguia fazer era sentir e ouvir. Podia falar. Mas com quem? Se não havia ninguém na escuridão?
Ainda assim não deixou de o fazer:
“ Está alguém ai?”
Não houve resposta. Estava sozinha.
Mesmo a tentar, porém tudo o que ouvia era o silêncio, e o silêncio por vezes machuca, quando tudo o que se quer é uma resposta, seja ela qual for. Não era burra, não era otária como parecia por vezes, mas ela sabia, sabia que o silêncio, a renúncia, o abandono haviam-lhe levado para aquele lugar e dessa forma, talvez, teria a destruído para sempre.
Seria aquele quarto escuro o inferno? O abismo? Seu castigo por amar tanto? Por acreditar tanto? Por sonhar? Por esperar? Esperar por algo que nunca veio, esperar por nada?! Pois tudo o que ela conseguiu foi ser guiada, mais uma vez para a escuridão.
O coração acelerado parecia dizer-lhe coisas. Dizia-lhe para se arrastar pelo chão frio, e foi o que ela fez, com suas mãos pequeninas tateava por todos os cantos a procura de algo. Arrastou-se, a tremer, não sabia se era de frio, não sabia se era de medo, por horas a fio. Estava cansada, mas não desistiu.
Ela continuou, continuou e já sentia as lágrimas a virem banhar o seu rosto. Um rosto que pertencia a um corpo que ela não via, mas que sabia que possuía. Esse corpo cansado e sem esperanças adormeceu. Ela estava na escuridão, então escuridão se tornou. E nos seus sonhos ela via estrelas cadentes, raios de sol que lhe enchiam de vida, que lhe enchiam de luz…
De qualquer forma ela sabia que poderia encontrar o caminho de volta para longe dali, e por isso acordou fraca e quase a perder os sentidos novamente. Continuava cansada, triste e destruída, mas ainda assim, não desistiu.
Arrastou-se mais um pouco, até que suas mãos bateram com algo duro e que ao ser tocado desfazia-se em pó e que cheirava a tinta, era frio, era gesso. Tocou mais uma vez, e sentiu então a parede do quarto. Permitiu-se tentar ficar de pé, a firmar-se na parede.
Sentiu um parapeito, sentiu um trinco?
Sorriu.
Era uma porta? Era uma esperança?
Ainda melhor…
Quando uma porta se fecha, uma janela se abre. Assustada e cheia de medo rodou aquilo que trancava a janela e a puxou de encontro para o seu peito com força, mas com cuidado. Porque não sabia que demónios haveria ali, como também não sabia o que esperava-lhe do outro lado, o que poderia ser a sua salvação.
Tinha que arriscar! O que tinha a perder?
Ela mal conseguia respirar quando seus pulmões se encheram do ar que vinha lá de fora. Abriu os olhos e logo os tapou para que não ficasse cega com aquele raio de sol. O mais perfeito e maravilhoso raio de sol que alguma vez já vira.
Olhou lá para fora e a sorrir sentiu o raio de sol queimar-lhe a pele, trazer-lhe de volta a vida. Ela o amava por isso. Seria-lhe eternamente grata. Assim também como o mar, com seu azul infinito trazia-lhe paz, trazia-lhe amor.
Seria possível? Oh, não!
Sentiu medo. Quis voltar para trás…
O quarto era pequeno, mas parecia ser tão maior, devido ao tempo em que ficara presa a tentar achar uma saída. Mas agora depois de atravessá-lo sabia que todo o sofrimento que ali estivera valera a pena.
Aquela janela estava aberta, e ela podia sair. Podia ver o raio de sol, que tanto amava. Podia ver o azul do céu e do infinito mar. Ela tinha uma vida novamente.
Poderia sonhar! Por que não?
Cuidadosamente permitiu-se olhar para trás mais uma vez para o quarto vazio e limpou a lágrima que corria em seu rosto. Era o fim, não precisava sofrer mais. Porque lá fora ela podia tentar mais uma vez ser feliz… e dessa vez ela sabia que faria tudo direito e nada nem ninguém a trariam para a escuridão novamente.
Caso acontecesse algum acidente e ela fosse parar ali?
Não fazia mal, porque dentro de si sempre haveria forças para se amar, para se salvar, para ir em busca de mais uma janela quando a porta se fechasse, só bastava acreditar, ter esperanças, lutar…
Lauren Adams
14/03/12