EPÍLOGO DA HISTÓRIA ENTRE DOIS MUNDOS CONTADA PELO VELHO CHICO
Começa assim, o terceiro dia do mesmo dia, na vida do jovem José Amaranto Junior. Lá fora o mesmo sol iluminava as mesmas planícies e montes, enchendo-as de luz dourada, naquela simpática cidadezinha. O palco da nossa historia entre dois mundos. Eu, “Velho Chico”, sentia novas brisas alentadoras naquela mesma manhã...
Ao quarto, o vemos absorto. Zezinho olha o calendário. Vê que está no mesmo dia pela terceira vez. Mas, ao invés de atender o avô, ele fixa o olhar além da janela do seu quarto.
Nesse instante sua visão dilata-se, desprendido de seu corpo, volita em direção à rua. Observa o sol nascendo e toda a cidade num apanhado só. Segue até minhas margens e contempla as luzes movendo-se em minha superfície que refletia a natureza.
Retorna a sua casa e penetrando pela porta da frente, presencia a cena: seus avós cordialmente, como sempre, acomodando dois brutamontes, vestidos de terno preto, óculos escuros, com ar de poderosos.
Na verdade a sua mente estava ali e seu corpo estático em seu quarto. Sentia uma presença como a tudo comandar. O fenômeno o fez entender que estava ligado a um mundo superior que o dirigia. Deixou-se levar por aqueles instantes e, os segundos que são fugidios em nosso mundo, naquela realidade pareciam eternos. Pois, com a visão e a mente dilatadas, o tempo, como o entendemos, era como se não existisse. Era só uma criação humana que fazia a história desumana, nos erros que são varridos pelos ventos eternos.
No quarto, seu corpo tornara-se quase uma estátua e, de sua cabeça luz mais intensa se desprende juntando-se a ele. Naquele instante à sua frente abre-se um turbilhão onde ele entra. Numa velocidade talvez acima do pensamento, penetrou em distinto espaço... Nunca visto antes. Luzes diversas de todos os tons, um caminho luminoso margeando nuvens de algodão luminosas. Ao seu encontro uma luz. Percebe que é o ser com quem fizera contato no dia anterior, dizendo: - Aqui o seu servo e amigo, para lhe ajudar. Pensou Zezinho naquele instante: “como um ser tão radiante e poderoso pode fazer-se servo?”. Instantaneamente uma flecha de pensamento o penetrou, dizendo: “Nenhum poder pode ser verdadeiro se não tiver a vontade de servir com amor a criatura e ao Criador”!
Em seguida, Zezinho percebeu ao corpo sutil que o levara até ali, se juntar material denso para dá-lo forma e tangibilidade. Mas, ainda sim, entendeu que aquele novo corpo em seu planeta uma brisa seria, uma silhueta vaporosa, como pó que nos feixes solares somente se via.
O anfitrião o levou para uma cidade encimada a uma natureza deslumbrante. Algo que nem mesmo a mais selvagem paisagem humana poderia se igualar. Tudo emitia luz. As águas, as flores e os animais. Pássaros cruzavam os céus em coloridos voos desenhando arco-íris sobre paraísos florestais.
Os seres, com a forma humana, eram quase angelicais. As vestimentas delicadas, sem transparecer os corpos sob os tecidos luminosos e coloridos, deixavam perceber a postura altiva e jovial em todos. Via-se a madureza da idade nos rostos sem as rugas do tempo. Com sorrisos sempre nas faces.
As construções com formas orgânicas: de folhas, flores e frutos. Mescladas com formas geométricas estilizadas.
Aproximando-se vinham duas silhuetas, que ao serem reconhecidas fizeram nosso herói correr como criança ao seu encontro. Eram seus pais. Ali se abraçaram enternecidamente e conversaram os quatro longamente...
Ao final da experiência sem igual, Zezinho recebe do companheiro que ali o conduzira as considerações: - Ao voltar, sentirá a mente mais ágil e o corpo mais leve. Logo perceberá seus poderes de volta e, também alguns dos nossos, que já vivem entre vocês, a lhes ajudarem. Compreenderá sua missão à medida que o tempo na Terra passar.
Voltando ao quarto tomou posse do seu corpo. Não sentiu o peso angustiante da matéria, sim leveza e consciência tranquila. Cônscio dos seus deveres pôs-se de pé e seguiu para a sala de refeições, após a higiene pessoal.
Chegando a mesa, cumprimentou todos simpaticamente. Escutou a sua avó dizer que não demorara a se arrumar. Percebeu ai a sutileza da sua experiência ímpar.
Sentou-se à mesa, após se servir do saboroso café. A mesa farta como sempre, com frutas, pães, bolos. Sentiu, no entanto, a “psicosfera” pesada com os visitantes. Percebeu que alguém os havia mandado pra lá. Quando ia romper o silêncio! Ouviu-se a campainha. O avô foi atender e qual não foi a surpresa. Era dona Maria do Céu... A velhinha simpática, que todos admiravam.
“Mas, o que fazia ela ali?”, pensou José. À sua presença o ambiente mudou. E, após cumprimentar a todos, colocando as mãos sobre os ombros dos visitantes, eles sorriram. E dona Maria falou: - Foi o Geraldo quem os mandou aqui, não foi? Eu trouxe o que vocês procuram! E depositou sobre a mesa, o que parecia um pequeno meteorito.
Observando, Zezinho fala em silêncio: “Geraldo...! O filho do Prefeito... Certo que viu o meu encontro inusitado ontem. Vive pela madrugada como um boêmio... Bisbilhota a vida alheia e exagera na bebida”.
Dona Maria disse ao nosso herói para seguir seu caminho. Havia dominado completamente a situação. Percebi que ela era um “infiltrado amigo entre nós” com grande poder de persuasão. Os dois brutamontes? Ela os conhecia desde bebês, era amiga das duas famílias.
Em chegando ao portão, a rua deserta. Resolveu solucionar os problemas, que sabia o aguardavam. Foi ao porto e a empresa de distribuição de gás, intuiu aos funcionários: a sanar a avaria e o vazamento. Voltou. Fez seu trabalho diário...
Mais tarde, na embarcação, impediu o menino de cair ao rio, no restaurante cooperou com a entrega do buquê de flores. E depois impediu o outro menino de soltar a bombinha. Aí sem usar poderes...
Na praça da cidade que aniversariava, após os festejos, Zezinho saboreia um sorvete. Vê uma minivan parar. Saltar em sua direção um casal que se aproxima. Cumprimentam-no: - Jonas e Débora Green. Estamos procurando este endereço. Um sítio que compramos. – Você nos ajudaria? Deixa um papel em suas mãos. Logo vê que a propriedade é ao lado da sua. Sabia estar à venda. Seguiram até o veículo. No seu interior, foi apresentado aos quatro filhos do casal. Os gêmeos, Pedro e Pietro; o adolescente Carlos e Camila, a jovem que acabara de fazer dezoito anos, com quem trocou olhares enternecidos. E pensou nosso herói: Que família linda! Vamos ser grandes amigos...
Então, seguiram em diálogo são, sob um pôr de sol colorindo o inicio da noite cheia de um romântico luar. E eu segui em meu infindo encontro com o atlântico mar, preparando-me para receber um novo amanhecer.
(3ª parte da “História entre dois mundos contada pelo Velho Chico”. As 1ª e 2ª partes nos livros: “O jogo da vida” – Dezembro de 2012 e “Contos selecionados...”– Março de 2013 - todos na CBJE; Estão também em minha escrivaninha).