CONFISSÃO

Hoje faz um século da morte do grande soberano Lucian Demon, líder de um clã venerado por todos como herói de guerra, mas somente eu sei a verdade da morte desse senhor, e chegou a hora de revelar, porque cansei dele ser visto como o imortal e senhor correto e centrado que todos viam.

Muito bem, foi em uma noite de inverno, em terras distantes que tudo aconteceu.

Havia começado uma guerra, e meu senhor e outros membros de nosso Clã foram participar dela, a guerra em si foi breve e com certeza vencemos, pela fúria e desejo de sangue que nossa própria espécie possui.

Fiquei em meus domínios como foi ordenado pelo meu senhor, mesmo sendo um Vampira da Ordem dos Drakons ele não me permitiu seguir com eles como eu desejava, sempre fui guerreira e jamais fugi a luta, mas tinha os meus para proteger em meus domínios, então concordei em ficar, até o momento que achei conveniente.

Chegavam mensagens quase que diariamente da frente de combate e sabia que estávamos avançando sobre os inimigos, e me alegrava e me orgulhava pelo meu exercito.

Mas as coisas não foram tão simples assim, na ausência de meu soberano e senhor muitas coisas aconteceram, inclusive minhas lembranças voltaram à tona, lembranças que não desejava mais, a traição de meu marido, as intrigas no mundo dos lobos e tudo mais, tentava lhidar com isso, afinal havia o aceitado de volta e o amava mais que tudo.

Admito que não estava sendo fácil, comecei a me isolar de tudo e todos por isso, me doía demais essas lembranças, me feriam como a lâmina de minha adaga em meus inimigos que deixava agonizando até a morte.

E era isso que estava acontecendo comigo lentamente, minha morte, a dor que sentia era quase que insuportável, mas me mantinha sobre o controle lembrando de meu amor e lealdade a ele, nesse momento era o que me mantinha viva, até que outras verdades foram reveladas.

Certa tarde estava em meus aposentos quando fui chamada com urgência por uma de minhas servas... minha irmã Natasha Vladesko se fazia presente em meus domínios e a presença dela alegrou minha alma. Ordenei que a recebessem com todas as honras, me aprontei rapidamente e desci.

- Minha doce e amada irmã, seja bem vinda a meus domínios!

- Emini querida... que saudades... finalmente a encontrei!

Abraçamo-nos, como eu amava minha irmã, ela era tudo que havia restado de minha família, ela casou-se com um Conde e se mudou para outras terras, reinando ao lado dele, e finalmente nos reencontramos.

- O que a trás aqui amada e onde está seu marido e filhos?

- Não puderam seguir comigo minha adorada, precisava vê-la, estava preocupada com você...

- Como vês... estou bem...

- Não está não minha irmã... e essas olheiras? Conheço tua alma, teu sorriso não me engana... senti que precisava de mim!

- Sempre preciso sabes disso... amo-te!

Embora houvesse um sorriso em meu rosto ela sabia que não estava bem, eramos por demais unidas, apesar da distância, e ela sabia disso.

Fomos direto para a sala de visitas, ordenei que preparassem alimento adequado a minha irmã afinal foram dias de viagem, e que providenciassem hospedagem aos animais e aos servos de minha irmã e assim foi feito.

Depois de acomodadas, notei que o semblante dela não era dos melhores, algo havia acontecido e eu sabia que não era coisa boa, então fui direto ao assunto.

- Minha irmã, estas com problemas? Algo que possa ajudar?

- Não minha amada, apenas preocupada com você, nada mais, precisava ver como estava, já que te sentia triste e abatida e realmente estas.

- Minha irmã estou bem, talvez seja apenas cansaço, e preocupação com os meus que estão nessa maldita guerra! Nada mais que isso!

- Entendo minha irmã, mas não creio que seja apenas isso... infelizmente, começo você demais para acreditar que seja apenas isso.

- Não se preocupe minha amada, hoje dia de festa nesse castelo minha amada irmã está ao meu lado novamente.

Passamos horas conversando até que ela se recolheu a seus aposentos e eu aos meus, pensativa, estava preocupada com os meus na batalha apesar de tudo estar saindo como planejado e creio que não preciso me preocupar com isso, ao menos por enquanto.

Algo estava errado comigo e eu não conseguia descobrir o que era e isso me deixava extremamente irritada, fora de mim, então decidi me isolar , abri minhas asas e voei para o mais longe possível de tudo e todos, foi então que ouvi e vi algo que me afetou por demais.

Dois seres não identificados falavam sobre Lucian Demon e sua esposa, então me ocultei para ouvir a conversa, falaram coisas horríveis que feriram meu coração e minha alma, seria possível que Lucian Demon fosse esse monstro insensível e sem coração que eles diziam? Pensei em aparecer e acabar com essa farsa toda, mata-los por desonrarem meu esposo e a mim mesma, estava furiosa e realmente naquele momento desejava o sangue daqueles seres, mas resolvi agir com cautela, então voltei ao meu Castelo e mandei chamar minha serva mais fiel.

- Mandra... quero que me faça um favor, e que seja nosso segredo por favor!

- Sempre minha senhora, sabes que pode confiar em mim, para o que precisar..

- Muito bem, preciso de roupas da plebe o mais rápido possível, preciso me ausentar por um tempo e se perguntarem por mim, diga que tive uma emergência para resolver, trate bem minha irmã e diga que em breve retorno, para que não se preocupe.

- Sim minha senhora, como desejar!

E assim foi feito, sai do castelo, disfarçada como uma simples mulher do povo e me dirigi ao acampamento onde meus guerreiros e meu soberano estava.

Qual foi minha surpresa quando vi que se preparavam para uma noite de orgias, liderada pelo senhor dessa casa, apenas observava e descobri que se dirigiriam para a taberna da próxima cidade, então segui antes pra lá.

Quando cheguei, troquei de roupa e me misturei as meretrizes do lugar, lindas encantadoras humanas, prontas pra saciar as feras que estavam por chegar, fui desejada por muitos, mas tinha um objetivo, o líder deles que bebia em sua mesa rodeado delas e se divertindo.

Então decidi me aproximar, na garantia de que estava tão bêbado que não reconheceria a própria esposa nesses trajes, sabia que não poderia me sentir, porque estava bêbado o suficiente para não deixar seus instintos falarem por ele.

O seduzi, e enfim o levei pra onde desejava, um quarto no terceiro andar desse lugar imundo, mas tudo bem, sou melhor que isso.

Quando o tive em meus braços senti que ia desistir de meu plano, mas agora era tarde demais.

- Meu senhor, me digas e tua esposa?

- Esqueça isso mulher, ela não é preocupação... vamos nos divertir!

Quando ele disse isso meu sangue ferveu, então decidi agir como tinha decidido. Uma parte de mim amava-o demais e a outra queria destruí-lo, transforma-lo em pó, mas não ainda, consegui convence-lo a me levar a sua tenda no acampamento, onde não teria testemunhas de meus atos, então agi da maneira como ele mais gostava, fazendo-o se sentir o maioral então concordou em me levar.

Por incrível que pareça sentia náuseas em beija-lo e sentir suas mãos em mim, acho que a mágoa nesse momento era maior do que o amor que sentia por ele.

Quando chegamos ao acampamento, tudo estava silencioso, então agora era a hora de agir.

Me fez deitar em sua cama, ele sabe seduzir quando deseja uma mulher, isso devo admitir, quando ele se virou, tirei minha adaga e a escondi entre os tecidos de sua cama, ele veio sobre mim, desejando-me mais que tudo, então nesse momento reuni todas minhas forças, era agora ou nunca.

Quando ele estava em meus braços disfarçadamente peguei meu punhal e ainda sentindo teu beijo quente cravei-o em seu coração, sem dó nem piedade.

Ouvi o grito de dor, e o cheiro do sangue a correr por entre sua pele, por um segundo em arrependi do que fiz, mas me mantive forte, quando seu corpo caiu ao meu lado, apenas observava o sangue correr e ele brigando consigo mesmo para ter forças para reagir.

Fiquei imóvel, vendo-o se debater, incapaz de retirar essa arma de suas entranhas, até hoje não entendo como tive coragem de matar quem tanto amei.

Quando não vi nem mais um movimento, e seus olhos não tinham mais o brilho, retirei minha adaga com cuidado, a enrolei em um dos panos e parti o mais rápido possível.

Quando cheguei ao Castelo tudo estava calmo, seguro como sempre, fui direto aos meus aposentos, me desfiz das roupas, tentei descansar, mas não conseguia, então fiquei esperando o dia amanhecer.

Ao amanhecer agi normalmente como se nada houvesse acontecido naquela noite, apenas minha irmã me achou diferente, mas consegui fazer com que ela não notasse nada.

Por volta do meio dia a noticia, um mensageiro veio do acampamento informando a morte do grande senhor Lucian Demon, a informação que me chegou foi que ele foi morto em combate, com um ferimento que não teve como ser salvo.

Somente eu sabia da verdade, mas preferi me manter assim quieta.

Só então senti a dor do que havia feito naquela noite, não matei apenas Lucian Demon meu amado esposo, soberano dessas terras, havia matado também parte de mim.

Então, essa foi a verdadeira história da morte de nosso soberano e senhor, que jamais poderá ser retirada de minhas entranhas.

Hoje sou apenas uma sobrevivente e nada mais, vivo para meus filhos e meus amigos, sempre protegidos em meus domínios e nada mais.

Condessa Drakon
Enviado por Condessa Drakon em 20/09/2013
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