Estrelas, Anjos e Exilados (Segunda Parte)

III – Visita de um Anjo

Lembrei-me alguns dias atrás de tudo isso e confesso que fiquei bastante triste com tudo. Senti-me ridículo, afinal, por que dar importância a essas coisas?

Por que nos sentimos perdidos de repente, como se tivessem jogado uma bomba em nossa frente e ficássemos atordoados como o choque de uma explosão que durante alguns minutos nos desorienta.

Era culpa o que sentia. De alguma forma eu poderia ter salvado sua vida: Todo dia penso nisso. Se ela me visse nesse estado de espírito, com certeza riria de mim por não ser do meu habitual normal. Em uma dessas noites, parecia que nada ia bem, ou melhor, que o bem nunca existira em minhas noites, ela apareceu.

Meus olhos estavam totalmente abertos o tempo todo. Sei que a vi ali, bem em minha frente.

Estava toda vestida em branco, num longo vestido de rendas e cabelos soutos, maiores que a um ano atrás – poderia, naturalmente, terem crescido durante esse tempo.

Ela realmente não pertencia mais a esse mundo. Seus passos eram leves; seu olhar era superior, porém caridoso por mirar-me; sua pureza maior que pureza de virgem que fora em vida. Formei uma nova concepção quanto aos habitantes do paraíso: Se todos fossem como ela, então quase ninguém nele habitaria por serem extremamente feios e incapazes de perceber essa beleza.

Pois ela disse-me:

- Aqui vim atendendo o seu chamado.

- Como é pos...

- Toda noite, em orações você tem me chamado. Então, aqui estou.

- Tem passado bem?

- Sim, diga-se que sim.

- Costuma ouvir as rezas com frequência?

- Algumas vezes, posso ouvir sua voz. Cada noite mais suplicante e sequiosa.

Percebera meu espanto e meu esforço para falar e compreensivamente, dirigiu-se a mim e disse:

- De nada tiveste culpa.

- Mentira, poderia ter feito algo, qualquer coisa. Não pretendia terminar à tarde daquela forma.

- Isso já passou. Só adiaríamos o inevitável se você tivesse feito algo.

- Então Deus quando cisma em matar alguém, nada ou ninguém pode impedi-lo?

- Deus não é nem nunca foi assassino... Um dia entenderá.

- Perdoe-me. Por isso e por outras coisas ditas.

- Quanto àquilo, em seu íntimo, a resposta sempre existiu.

- Como o amor dos passarinhos?

- Sim, como o amor dos passarinhos... Porque durante todo o tempo fomos, somos e continuaremos a ser um só.

- Ficará para sempre comigo?

- Só se eu for exilada algum dia...

- Isso nunca. Você é uma santa.

Ela sorrira, tocou em minha cabeça e falou algumas coisas baixinho que pouco ou nada entendi. À medida que falava, meus olhos pesavam; sentia-me pesado como dois; pouco a pouco ela desaparecia e por fim, adormeci.

Comprovar a verossimilhança do fato é impossível, visto que nenhuma testemunha estava no local e nenhum indício de sua presença em meu quarto estivesse. No entanto, sei que ela me visitara, e desde aquela noite rezo para que ela nunca se torne uma estrela cadente, pois desejo que para sempre sejamos um só e um só seremos para a eternidade. Se depender da minha fé, nenhuma estrala abandonará o firmamento.

Ferreira Lima
Enviado por Ferreira Lima em 31/08/2013
Código do texto: T4460769
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.