A SEMEADURA DO COSMOS

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A SEMEADURA DO COSMOS



 
Se ela perguntasse para que servem os bolsos do  pijama eu certamente teria dificuldades para responder, mas o que ela realmente perguntou também continha boa dose de embaraço.
--- Por que debaixo do seu saco é frio?
--- O quê?!!!
Ela continuava apalpando-o e insistiu.
--- É isso mesmo... por que aqui embaixo é frio?
--- Ora, por quê... ainda embasbacado com o inusitado, ocorreu-me isso.
--- ... Pra proteger os bichinhos aí... Acontece que os espermatozóides precisam de uma temperatura tal para se  conservarem, entendeu?  Encenei certo ar professoral com o intuito de justificar as idéias que vinham aflorando; porém ela me cortou.
--- O pouco que aqui deve ter --- apalpou-o novamente --- você não precisa mais deles; a família tá criada, sua idade não permite outra, sendo assim...
Nena, aqui, fez um gesto e estampou certa careta irônica demonstrando que para meu desprestígio não devia se alongar mais.
--- Pois fique você sabendo que nos exames de rotina que faço, no exame de cultura o campo apresentou uma contagem excepcional deles; é o mesmo ainda que produz um jovem saudável! Respondi-lhe cheio de si, orgulhoso. ... Ademais, --- completei --- você como nenhuma outra sabe o que um jovem saudável é capaz, não sabe? Devolvi-lhe a ironia.
--- Num acredito! Desdenhou.
--- É a pura verdade, te provo!
--- E pra que serve isso?
--- Ora, pra quê!... Tenho cá minhas razões!
--- Diga quais, quero saber.
Dono de mim neste ponto da conversa, já sabia até para que serviam os bolsos do pijama.
--- Se eu lhe disser você não vai acreditar... você dorme comigo e não percebe? 
--- Morro de curiosidade... conta!
--- É que eu tenho minhas subidas...
--- Subidas?!!! Mas que raios de subidas são essas?... Serão trepadas, você quer dizer?
--- Não!... São subidas mesmo!
--- Explica isso melhor... tá muito confuso.
--- Acontece que em certas noites eles vem, subo com eles e...
--- E o “quê”, homem!
--- Não se admire se eu lhe disser que sou um semeador do cosmos, um pai, sei lá, de milhares e milhares de criaturinhas...
--- Não diga! Expressou-se tão irônica quanto da primeira vez.
--- Imagine, Nena, só em nossa galáxia existe uma infinidade de planetas com as condições de vida da terra, não é maravilhoso!... É preciso povoá-los, levar a vida inteligente adaptada aqui até eles!
--- Meus Deus!  Disse-o com a expressão séria, a não dizer preocupada.
Desde esse dia Nena se afastou. Não sei se por extrema severidade na questão da fidelidade, ou se ela julgou-me um louco irrecuperável. Senão por uma, quiçá pelas duas razões, quem há de saber?
Desconheço a opinião de vocês, mas a verdade é que vou e confesso que gosto do que encontro e faço por lá.
Qual o juízo que fazem?
 
 
moura vieira
Enviado por moura vieira em 19/08/2013
Reeditado em 16/03/2021
Código do texto: T4441687
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