CUBATA
A casa destoava em tudo e por tudo do bairro “Vidas Felizes”. Quando as mansões começaram a ser construídas seus proprietários tentaram por todas as formas legais desalojar a família que residia na casa. Entre eles, referiam-se a casa como cubata. Em menos de um ano sessenta e seis mansões estavam prontas e habitadas, e os moradores irritadíssimos com a presença da cubata na vizinhança. Não encontram meios legais para desalojar a família e por abaixo aquela coisa horrorosa.
A casa era composta por quatro cômodos e nela viviam duas pessoas. Duas senhoras de idade não sabida, mas certamente não menos de oitenta anos. Raramente eram vistas fora dos limites do terreno do lar em que moravam, terreno cultivado com hortaliças flores e um pé de caju. Todas as quartas-feiras um senhor de aproximadamente setenta anos era recebido pelas duas senhoras no portão precisamente as seis horas. Sol, chuva, frio, não importavam, quarta-feira às seis horas ele chegava levando sacolas e bolsas.
O homem tirava o surrado chapéu, beijava as mãos das duas senhoras, cruzavam os quatorze passos do portão até a porta da casa e entravam. Vinte ou trina minutos depois o homem saía da casa e dava início o cuidar das flores, hortaliças, carpir o terreno. Vez ou outra ele repregava uma ou duas tábuas soltas da casa, recolocava uma janela caída no último vendaval. Verdadeiro mistério que aquela casa resistisse a vendaval. Às dezoito horas as senhoras o acompanhavam até o portão e despediam-se. Não seriam vistas até a próxima quarta-feira as seis hora.
Tudo que a vizinhança sabia daquelas três pessoas era o que você sabe agora. Ninguém sabia absolutamente mais nada além do que você sabe agora sobre aquelas senhoras e aquele senhor, e por não saberem, ainda mais detestavam suas duas vizinhas e o misterioso homem. Ódio sem nenhuma razão de ser. O que eles odiavam era a pobreza, a quase miséria, a feiúra (velhice) das pessoas e da casa. Algo precisava ser feito urgentemente, não era mais possível suportar a simples visão da cubata e habitantes. Não houve laudo oficial, dizem que provavelmente uma vela esquecida acesa deu início ao incêndio.
O misterioso homem das quartas-feiras construiu duas cruzes com madeira calcinada pelas chamas. Cravou-as de frente para a rua o mais perto possível uma da outra até que a trave de uma tocasse na outra. Ao redor das cruzes num raio de três metros vicejam lírios que jamais morrem, e deles emanam aromas de perfumes inebriantes entre as seis e dezoito horas. Nas demais horas expurga fedentina insuportável que invade todas as mansões do bairro Vidas Felizes.