Maldito telefone

O telefone tocou na calada da noite, sacudindo a mesa. Meus olhos se abriram e saltariam para fora se não os tivesses segurado. Tudo bem, foi um susto, mas quem poderia ser?

Lutei contra meu corpo e escutei o terceiro toque. As luzes do relógio estavam confusas, porém tinha certeza de que tarde era. Me pus de pé, peguei o telefone e ainda embriagado pelo sono, esperei alguém falar.

- Cuidando bem da invenção? Da minha invenção?

Mantive o silêncio, mas perdi a calma. ''Invenção!'' A palavra ecoava dentro da minha mente. Não tive resposta para o enigma.

- In-ven...

- Não gagueje, homem, pois a minha invenção não merece aprisionar suas dúvidas e incertezas.

Foi o limite! Sou dependente do sono, mas não um covarde.

- Quem está falando, e que diabos de invenção é essa? - Perguntei.

- Meu caro...

- Ei, não sou nada seu, e tenho a impressão de nem te conhecer - continuei.

- Isso não é problema, porque graças a minha invenção você pode me conhecer sem sair de casa.

- Não brinque comigo, rapaz!

- Sou de uma era diferente. Brincadeiras eu deixo para as crianças.

- Se você, seja lá quem for puder me dizer o que exatamente espera conseguir me ligando a uma hora dessas, seria útil!

- Quero saber o efeito da minha invenção na sua vida.

Dessa vez não engasguei.

- Se a sua invenção for ligar para os outros no meio da madrugada, na certa você errou na fórmula.

- Quanta rispidez!

- Até que não para o que você merece.

- O tratamento não condiz com o grande inventor que sou.

- Grande...tolo, irritante e inconveniente.

- Você deveria saber com quem está falando.

- Digo o mesmo.

- Sério, minha invenção mudou a sua vida e de quase todo o mundo. Muitas gerações me devem agradecimento. Quem sabe não começamos por você?

- Agradecer a alguém por algo que não sei é quase impossível. Ainda mais quando não sei quem é esse alguém.

Pois bem, prazer. Sou Graham Bell.

JBorsua
Enviado por JBorsua em 25/07/2013
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