ÁRVORE, adultos, crianças, árvores


E foi assim de repente que ela apareceu bem no centro da pracinha. Enorme, frondosa, grande, muito grande. Na manhã em que a árvore apareceu o céu estava azul, muito azul, nenhuma nuvem no céu e mesmo assim  não era possível ver o fim da árvore. Seria o pé de feijão onde morava o gigante com a pata dos ovos de ouro? Todo mundo da cidade logo soube da grande novidade e correram para a praça. O padeiro o leiteiro o açougueiro o carvoeiro a costureira a tecedeira a moça que estava noiva o noivo da moça que estava noiva o namorado da moça que estava noiva os pais da noiva e do noivo os avós de todo mundo todas as mães da cidade e seus filhos estavam na praça olhando a árvore gigante.

O silêncio era tão assustador quanto o misterioso aparecimento da árvore. Ninguém dava um pio, nem seu Benedito nem os passarinhos do seu Benedito, todo mundo caladinho. Dona Maricota que todo mundo sabe vive com a língua ocupada o dia inteiro fazendo fofocas estava muda com os olhos mais arregalados que os olhos da coruja que dorme lá no sino da igreja da matriz. O Juquinha filho da dona Teresinha aproveitou que ninguém estava prestando atenção nele e abriu as portas das gaiolas dos passarinhos do seu Benedito. Todos os passarinhos voaram rapidamente para aquela árvore gigante.

Marianinha, filha do seu Anacleto dono da quitanda, chamou o Juquinha e disse que estava com vontade de chegar pertinho da árvore. Juquinha adorou a idéia, pegou na mão de Marianinha e foram para perto da árvore. Ninguém viu. Todos ainda olhavam para o alto da árvore. Marianinha e Juquinha ficaram maravilhados com o tronco da árvore. Bem de pertinho eles puderam ver o que não dava para ser visto de longe, e logo todas as crianças da cidade juntaram-se a eles ao redor da árvore, e ninguém percebeu nada, todos os adultos ainda olhavam para o alto da árvore e nada viam. As crianças estavam maravilhadas com o que viam no tronco da árvore. Todas as crianças colherem do tronco um pequenino fruto multicolorido e comeram, todas as crianças comeram, cada uma um pequenino fruto, e nenhum adulto viu nada, todos olhavam para o alto da gigantesca árvore.

O dia passou, a noite chegou, mas era uma noite diferente, não se via nada a um palmo do nariz e mesmo assim todos ainda olhavam para o alto. Quando o dia amanheceu encontrou as pessoas olhando para o céu que estava especialmente azul. Não havia mais árvore gigante na praça, ela desaparecera durante a madrugada estranhamente escura. No entanto, em toda a praça e em cada rua da cidade apareceram árvores, muitas árvores. Mas não eram gigantes, eram árvores normais ainda jovens. Os adultos da cidade abaixaram suas cabeças e viram as pequenas e coloridas árvores e sorriram, voltaram para suas casas, para seus trabalhos, para seus negócios sem perceber que não havia uma única criança em parte alguma da cidade.






 
Yamãnu_1
Enviado por Yamãnu_1 em 24/07/2013
Reeditado em 25/07/2013
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