___...Quando os céus derramaram lágrimas de sangue...___
Um rubro fel despencava do céu negrume! Anjos, serafins, querubins e demônios; plainavam em conjunto envoltos em suas asas alvas e negras sobre as camadas telúricas. Apesar de bem e mal voarem unidos, a trégua entre eles estava traçada; pois havia algo muito mais profundo acontecendo em nosso planeta!
- O homem, oh ser atrevido, ávido e atroz em seus desejos mais absurdos! - era o que exclamavam os deuses, ecoando em seu tom ríspido e gutural. Parecia que nada mais poderia se fazer, senão, planger. Planger lágrimas piedosas de sangue morno, amargo, nédio; fétido. O ser humano chegou num patamar execrável e inepto. Os animais sobressaíam-se em sua inteligência maioral sobre a reles humanidade.
Enquanto isso, anjos e demônios tentavam de todas as maneiras tirar o homem do pútrido lamaçal o qual ele próprio criara, mas era tarde! O tempo dado já havia passado e ele nem sequer deu-se conta, deixando seu rastro de ódio e destruição.
- O amor fora engolido, mal digerido e expelido pelas fezes pútridas desses abutres. - proferiam os demônios.
- Pobres humanos, eles não sabem o que fazem. - retrucavam os anjos.
Eros, vendo todo o amor que um dia plantara no coração da humanidade ser disseminado, cravava suas próprias flechas em seu nobre coração, a fim de amenizar a dor a qual sentira naquele fatídico momento.
Os gritos eram ensurdecedores, pois o amor não mais reinava no planeta. Gritos de ódio, gritos de dor, gritos; de horror. A paisagem era bucólica com um tom negrume e acre. As pastagens haviam secado, as chuvas escassas, a terra árida fazia com que as pessoas engolissem a terra excrementada que elas próprias plantaram.
Sim, era o início do fim. O início de uma nova era terrena, onde anjos, demônios e deuses, dominariam o nosso mundo; deixando que as bestas das profundezas devorassem a carne mau cuidada dos seres.
E as lágrimas carmesins continuavam aos cântaros a despencar céu abaixo, ruborizando um rio de amarguras, lamúrias e sofreguidão planeta afora.
Foram anos, ou melhor, algumas décadas da chuva profana, onde o sangue, aos poucos, fora excomungando toda a energia grotesca, e a mãe Terra, com o tempo, tornar-se-ava novamente úbere.
As bestas retornavam às profundezas, os deuses secavam suas lágrimas, os anjos, não tendo mais a quem proteger, escondiam-se por entre as nuvens, enquanto os demônios ficavam à espreita, na intenção de novamente atentar as boas almas que ainda restaram no planeta.
Da terra úbere, nascia uma planta enraizada pelas lágrimas rubras vindas dos céus, copulada ao lamento humano, originando o pleno, infinito e completo: Amor!