O barraco da Rua J
Toda vez que acontecia alguma coisa na favela o povo fazia um burburinho. Sempre juntava muita gente, e no final os comentários eram diversos. Nesse dia não foi diferente. Minha mãe dona Libera como era chamada, ouviu um alvoroço na rua e foi à janela. Nervosa com tantas pessoas indo na mesma direção, perguntou para uma vizinha que morava em frente, e que saia bem na hora.
— O que aconteceu, por que tanta gente?
— Mulher de Deus, correu um boato, que está chovendo no quintal de um barraco da rua J, mesmo com todo este sol! Andam dizendo que está mal assombrado.
Estou indo conferir! Vamos? Incentivou a vizinha.
Minha mãe não era de fazer isso, quer dizer, ir ver acontecimentos, ela sempre falava; daqui a pouco fico sabendo de tudo, vou lá perder meu tempo! Além do mais não acredito em fantasmas. Mas eu curiosa que sempre fui, escutei toda a conversa, e não ia deixar de conferir de perto aquela história que só de ouvir me arrepiava. Ela nem reparou na minha saída, afinal, não sou boba, fui pela porta dos fundos!
Quando cheguei à rua J, sem muito acreditar, mas já com medo, caminhei lentamente para o barraco mal assombrado. Todos falavam impressionados; é mal assombrado mesmo, olha tá chovendo! As pessoas estavam sem acreditar, dentro do quintal e no barraco chovia. Fora, o sol queimava as nossas cabeças. Me arrepiei e fiquei me perguntando; como pode isso? Virei-me para o lado e vi que uma menina mais ou menos da minha idade, olhava à sua volta admirada, achei engraçado o fato de ela estar olhando para as pessoas, e não como eu e todos, que olhávamos em direção ao barraco!
—Você está aqui há muito tempo, já ouviu os comentários? Indaguei! Ela ficou me olhando durante uns minutos e respondeu.
— Eles morreram e estão chorando!
—Eles quem?
—E sem responder ela disse; Eles estão aqui!
— Eu não estava entendendo nada, e resolvi perguntar o nome dela. Mas antes que eu perguntasse ela falou novamente.
—Estamos todos aqui, juntos!
—Sim estamos! Retruquei assustada. E sem muito esperar disse:
—Meu nome é Joana e o seu? Com um sorriso nos olhos e nos lábios ela me respondeu:
—Claudia.
— Onde você mora Claudia? E descobri que ela tinha sumido num piscar de olhos! Atônita, e olhando em todas as direções, não consegui mais vê-la.
A chuva cessou de repente e eu como todo mundo, fui para casa, sem esquecer nem do acontecimento e nem da garota. Só sabia o nome dela. E me perguntava por que nunca a tinha visto em lugar algum, afinal, eu morava numa rua antes daquela.
No caminho, encontrei a vizinha que havia conversado com a minha mãe, a Maria do Carmo, que logo me perguntou!
—Sua mãe não veio? E eu respondi!
—Não, mas eu vim e ela nem sabe! Você chegou a conhecer toda a história sobre aquele barraco?
—Sim! Até conheci a família... Tem dez anos que eles faleceram, na época disseram que a menina teve morte natural, mas os pais não aceitaram e tomaram veneno para morrer também. A mãe chegou a dar entrada no hospital, mas não resistiu. Antes porem, ainda falou com a amiga que morava do lado e era madrinha da menina! Contou-lhe do pacto que fez com o marido. E antes de morrer disse... Vamos continuar juntos! Desde essa época o barraco ficou vazio, não apareceu nenhum parente, e ninguém tem coragem de entrar lá. A garota era linda, tinha uns cabelos louros, lisos e os olhos azuis, e na época tinha a sua idade! Nessa hora eu parei, engoli seco, devia ser loucura o meu pensamento, mas olhei totalmente arrepiada para a vizinha e perguntei!
—E o nome dela, era Claudia? A vizinha me olhou, e exclamou!
—Sim! Como sabe?
—Não, eu não sei! Respondi assustada e sem querer acreditar.