lanhos
Prazer em estiletar –se.
Desmanchar-se em arrepios e dor fina, era uma pequena morte.
Sempre ...sempre... com aquela que chamava de “amiga”, uma faca que estava ao alcance de suas mãos numa gaveta próxima ao seu computador, quando de uma noite solitária , ou uma rejeição, acompanhava a agonia de um corte...um pequeno e finíssimo corte. Nos antebraços, parte interna, quase sempre. E havia muitas cicatrizes daquelas...
E eu, estupefata ...
Era verdade!
Aquilo que parecia uma fantasia virtual, era a realidade nua e crua.
Nem sei o que me fez ir visitar aquela mulher que era vista com parcimônia por alguns da cidade mineira, mística.
Excêntrica ... era uma criatura meio que andrógina, no seu jeito.
Mas eu que havia acompanhado de longe uma noite inteira de agonia e vinho...muito vinho... e conversas telefônicas com amigos comuns a convencer-lhes que vida era a opção, fui convocada para vê-la de pertinho...
Nosso encontro foi surreal...
Como se eu levasse um pedaço daquele que a traíra silenciosamente.
Abraçou-me? Não . Abraçou-o.
Foram horas de curiosidade, de catarse, de radiância... estávamos felizes, de verdade.
Eu representava o que ela só tinha vivido virtualmente, até aquele momento.
Como se coubesse em mim toda a realidade uma de paixão e dor vividas....
Fiquei meio-espectadora ...
E vi que escarificarem-se era um hábito de outros vários amigos seus...
Sangrar nos momentos de angústia, destilando a dor pungente em seu interior...
São Tomé das Letras...
Cidade intrigante!