Ela esteve entre nós, a morte.
(sobre o jogo entre Atlético Mineiro x Tijuna, pela Libertadores 2013)
Tanto a evocaram, os atleticanos pensaram que ela desceu sobre o estádio em forma de penalty, no último minuto, na hora de nossa morte. Restou dizermos “Amém”, e fazer a sua vontade.
Na grande área não foi derrubado somente o atacante do Tijuana; todos caímos sob o apito do juiz; quedamos como o soldado baleado com um só tiro após vários dias em guerra, com fome e sede. Caímos mortos no Horto. Um apito de penalty, a morte iminente. Acabou-se.
O ritual da execução e sentimo-nos o Tiradentes subindo as escadas do cadafalso. Há na turba alguém que se delicie, azuis de alegria.
A bola é colocada no ponto de tiro. O goleiro respira ofegante. O inimigo toma distância. Ambos dividirão pesos da vitória ou derrota em seus ombros. A balança vai ser colocada. O carrasco corre e chuta. A bola é arremessada.
CONGELEMOS ESTA IMAGEM: A BOLA PARTIU E ESTÁ ENTRE OS DOIS.
Na arquibancada a Morte sentada entre tantos mascarados dela. Esteve todo o tempo observando e não se manifestou. Ninguém deu conta de sua discreta presença, a não ser um torcedor, também fantasiado
- Este cara tá sempre quieto. Não mexe, não fala, nada… sujeito estranho. Só olha. Olha a máscara dele! Parece real. Deve ser silicone. Bacana.
- Reparei – respondeu outro.
Tanto a evocaram, a própria decidiu ver o jogo. Sentada, observou tudo e todos. Dona do tempo, pôde pensar, durante o voo da bola entre o goleiro e o carrasco, e lembrar-se de Zorba, o grego no momento de sua morte:
“ Um homem como eu deveria viver 1000 anos”.
Para nós, um milésimo de segundos, mas o suficiente para que a Morte decidisse:
- Um time como este deveria viver 1000 anos. Hoje não...
O resto já se sabe.
Ontem, até a Morte esteve do nosso lado.