Do novo mundo
Abri os olhos e encarei a imensidão diante de mim. Tudo muito vago, muito grande, muito... vazio. Nuvens pesadas faziam um céu cor de chumbo, que logo depois faria escorregar sobre meu corpo delicadas gotas prateadas. A chuva rasgava-me o âmago e lavava-me o corpo. Sentia-me leve e pesada. Como se algo me prendesse ao lugar em que estive antes, o parque de diversões, o céu colorido, a roda gigante com dois lugares, a grama verde no dimingo de sol, a garoa de verão. Minhas memórias anteriores em nada se assemelhavam com aquele ''mundo, vasto mundo'' que se impunha agora, majestosa e assustadoramente diante de meus olhos míopes. A miopia passou também. Talvez o impacto me tenha curado, talvez... Mas só talvez. Vasculhei meus bolsos em busca das certezas que trazia comigo. Nada. Apenas o ar e mais um pedaço do novo mundo. Eu as perdi. Solidão. O espaço imenso e hostil tragava-me, consumia-me, e eu... Eu só sentia vontade de fugir, de correr, de dormir para a ''eterna novidade do mundo''. Mas fiquei. Fiquei porque ao forçar um pouco mais vistas, além da imensa dor que senti, também pude divisar no horizonte umas quatro silhuetas. Anjos. E logo eu que nunca fui de ter fé. Aproximaram-se como soldados, todos armados, munidos de um tal abraço, de uma tal palavra, de um tal conselho. Fiz-me forte. Primeiro porque davam-me as forças e depois porque tive a ligeira sensação, de encarar pela primeira vez em muito tempo um céu mais azul.