Experiência de outra vida (Da coleção 7 contos em uma semana)

Acordo com o despertador do celular anunciando mais um dia de trabalho, ou mais uma semana, pois já é segunda – feira novamente. Levanto e preparo lentamente o café, saboreio ainda meio sonolento, pego minha mochila e saio para o ponto de ônibus. Pareço não ter dormindo bem, pois o corpo ainda pede cama, uma preguiça típica de uma segunda. Pontualmente as 06:50 o ônibus pára, entro e me acomodo em um canto confortável, a viagem é um pouco longa até o trabalho e penso em descansar mais um pouco. Já se passaram cerca de 15 minutos. No balançar do ônibus sinto um prazer inexplicável, de repente tudo parece parar: o barulho, o balaço e uma leveza e uma sensação de bem estar toma conta de mim, entro num estado de transe e a sensação não me deixa abrir os olhos. Como que um sonho, enxergo uma luz brilhante e diferente de qualquer outra já vista, logo após me vejo em um campo com flores e pessoas, e um aroma de perfume e a sensação de leveza, “se for um sonho, não quero acordar agora”, penso. As pessoas parecem não se importar com a minha presença e eu tento, de alguma forma, chegar a algum lugar, porém, enquanto mais caminho, mais parece não ter fim. Vejo pessoas, agora conhecidas que me esperam em um lugar que parece ser uma espécie de estufa, rodeada de plantas rasteiras e parreiras carregadas, noto que as pessoas que me recepcionam são conhecidos que, em outrora já haviam partido, mais elas parecem serenas e felizes e eu, de certa forma me sinto mais a vontade. O frescor do tempo, bem diferente do calor que sentia quando sai de casa, tudo agora era bom. Sinto um toque suave e sutil nos meus ombros, me viro e vejo, é meu pai, já falecido há tempos.

- Filho! – disse ele com uma voz que parece ser musicas. - volte, não é a sua hora.

Sem entender o que significava, questiono:

- Mais pai, gosto daqui. Sinto muito sua falta. Quero ficar.

- Não, não é sua hora, terá outra oportunidade, mais não hoje.

E, ao tentar perguntar o porquê, sinto algo me puxar, meus pés flutuam e a força é cada vez maior me afastando do bosque com as uvas, me rebato tentando me livrar mais meus esforços são em vão.

- Logo voltará, não se preocupe. Eu estou bem...

Foram as ultimas palavras ouvidas antes de vê a luz novamente, agora se afastando, afastando... De repente ouço barulhos sem nexos, buzinas, gritos, sirene e minha vista meio turva enxerga a figura de uma pessoa sobre meu peito gritando:

- Está vivo! Está vivo!

Era um paramédico me reanimando, vejo destroços por todos os lados, sangue e corpos sendo cobertos, sem entender o que aconteceu me levam para dentro de uma ambulância e fecham a porta. Fui sobrevivente de um acidente de trânsito.