Surreal - Parte 3
Fiquei parada, olhando sem acreditar, comecei a achar que talvez estivesse enlouquecendo. Seth me olhava com uma expressão curiosa, ao mesmo tempo parecia intrigado e divertido, como se ele soubesse o que eu estava pensando e tentando imaginar o que eu faria a seguir.
- Você primeiro! Eu disse, decidindo entrar nessa aventura, estando louca ou não.
Ele começou a descer as escadas e fui atrás dele, quando passei do segundo degrau a porta da árvore se fechou nos deixando na penumbra; depois de algum tempo descendo, avistamos o fim das escadas e o começo de um corredor com muitas portas fechadas, era iluminado por tochas acesas a intervalos regulares e se perdiam de vista.
Seth parou na primeira porta e me convidou a entrar tirando um molho de chaves do bolso de sua calça verde musgo que combinava admiravelmente com uma espécie de bata de cetim verde esmeralda, como seus olhos. Pensando bem a respeito, ele até parecia um elfo, só que sem as orelhas pontudas. Sorri mentalmente á este pensamento absurdo.
Abriu a porta e entramos, o lugar parecia uma cozinha antiga, me trazia uma espécie de recordação, de um sentimento, não do lugar propriamente dito. A cozinha continha uma mesa grande de madeira, com várias cadeiras ao seu redor, um fogão a lenha, grande e vermelho que estava aceso, cozinhando alguma coisa em grandes panelas de barro. Isto era tudo que continha na cozinha.
- Pode sentar aí enquanto trago seu jantar.
- Tudo bem. Disse eu sentando na cadeira mais próxima do fogão.
- O cheiro está ótimo...
- Claro que sim, é seu prato predileto!
- Como sabe qual é meu prato preferido??
- Sei muitas coisas sobre você, mas é melhor você comer antes que esfrie. Disse ele trazendo um prato com frango assado, purê de batatas, quiabo refogado e uma espiga de milho verde com manteiga.
- Este não é meu prato predileto...
- Come, e você se lembrará...
Um pouco contrariada comecei a comer e logo me veio uma lembrança da mais tenra infância... Eu estava em uma cozinha parecida com esta, com meus três anos de idade, sentada na cadeira e balançando meus pezinhos, minha avó me dava de comer exatamente este prato e me contava histórias que me levavam para outro mundo. Realmente este era um de meus momentos preferidos já não lembrados de minha existência. Minha avó já morrera há muito tempo, ninguém nunca mais me contou histórias.
Acabei de comer em silêncio e pensando sobre aquela lembrança... Como pude me esquecer? Como pude deixar de lembrar como a imaginação foi importante em minha infância e como deixei aquela menininha crescer na mais árida e seca realidade?
- Venha, está na hora de abrirmos mais uma porta.
- O que haverá a seguir?
- Tente imaginar... Disse ele com um sorriso enigmático.