FALA COMIGO MÃE
Na casa de sua mãe tudo permanecia igual. Ela caminhou novamente por cada cômodo, tocou em alguns objetos, velhos conhecidos seus. Cansada daquela rotina, que nem ela mesmo imaginava há quanto tempo realizava, sentou-se à mesa da cozinha.
O dia amanhecia, sua querida mãe, como de hábito, logo desceria as escadas, arrastando seus chinelos velhos, e começaria a lida do dia. Tristonha, Dulce tentava buscar respostas para o que lhe vinha acontecendo, mas, não conseguia compreender.
Dulce lembrava-se, que naquele dia, saira de casa, para ir ao trabalho, como sempre fazia. Ainda conseguia sentir, o cheiro gostoso da comida feita pela mãe, que ela carregava em uma marmita dentro da bolsa. De repente, o ônibus em que viajava se desgovernou em uma curva e caiu do alto de um barranco. Depois disso, ela só se lembrava de ter sido arremessada para fora do veículo.
Pensativa, a jovem refletia, que fora depois do acidente, que sua família passara a ignorá-la, ela chegara em casa toda suja de sangue, assustada, chorando muito, e foi logo à procura do colo de sua mãe. Porém, a encontra chorando mais do que ela mesma, e numa tristeza de fazer pena.
Tentara de todas as formas, conversar com a mãe, contar do terrível acidente que sofrera, e que precisava dos cuidados dela. Mas, havia sido em vão, dona Nita, parecia que não a ouvia e nem a via.
Desde então, tem sido assim, todos os dias. Ninguém na casa fala com ela, ou a ouve. Nem sua mãe, ou seus dois irmãos.
Enquanto repensa sobre tudo isso, Dulce, vê dona Nita, chegar à cozinha. A simples visão daquele rosto tão amado por ela, faz o pranto cair de seus olhos. Repleta de esperança, Dulce pensa: "quem sabe hoje, a senhora vai voltar a me dar atenção, preciso tanto dos seus cuidados, olha como ainda estou machucada pelo acidente". Mas como resposta somente o silêncio. Em dado momento dona Nita, vai até a sala, pega uma foto de Dulce, e a beija com carinho, lágrimas mornas escorrem de seus olhos tristonhos. Dulce grita: "Não chore mãe, eu estou aqui, bem ao seu lado, não entendo porque você, passa por mim todos os dias, sem me notar, preferindo beijar o meu retrato, ao invéns de beijar meu rosto".
Ao lado das duas mulheres, um fiel Guardião da família, habitante de moradas excelsas, tenta mais uma vez se aproximar, de Dulce, e convencê-la de que ali, não é mais o seu lugar, se continuar a insistir, vai continuar a sofrer. E pela milésima vez, a convida a seguí-lo, para sua nova morada.
E pela milésima vez, Dulce recusa, e teima em permanecer ao lado de sua mãe. Ela ainda não entendeu, que não pertence mais ao chamado mundo dos vivos. Que naquele acidente, perdeu a vida física, e em espírito continua a existir.
(foto da autora; New Jersey)
Na casa de sua mãe tudo permanecia igual. Ela caminhou novamente por cada cômodo, tocou em alguns objetos, velhos conhecidos seus. Cansada daquela rotina, que nem ela mesmo imaginava há quanto tempo realizava, sentou-se à mesa da cozinha.
O dia amanhecia, sua querida mãe, como de hábito, logo desceria as escadas, arrastando seus chinelos velhos, e começaria a lida do dia. Tristonha, Dulce tentava buscar respostas para o que lhe vinha acontecendo, mas, não conseguia compreender.
Dulce lembrava-se, que naquele dia, saira de casa, para ir ao trabalho, como sempre fazia. Ainda conseguia sentir, o cheiro gostoso da comida feita pela mãe, que ela carregava em uma marmita dentro da bolsa. De repente, o ônibus em que viajava se desgovernou em uma curva e caiu do alto de um barranco. Depois disso, ela só se lembrava de ter sido arremessada para fora do veículo.
Pensativa, a jovem refletia, que fora depois do acidente, que sua família passara a ignorá-la, ela chegara em casa toda suja de sangue, assustada, chorando muito, e foi logo à procura do colo de sua mãe. Porém, a encontra chorando mais do que ela mesma, e numa tristeza de fazer pena.
Tentara de todas as formas, conversar com a mãe, contar do terrível acidente que sofrera, e que precisava dos cuidados dela. Mas, havia sido em vão, dona Nita, parecia que não a ouvia e nem a via.
Desde então, tem sido assim, todos os dias. Ninguém na casa fala com ela, ou a ouve. Nem sua mãe, ou seus dois irmãos.
Enquanto repensa sobre tudo isso, Dulce, vê dona Nita, chegar à cozinha. A simples visão daquele rosto tão amado por ela, faz o pranto cair de seus olhos. Repleta de esperança, Dulce pensa: "quem sabe hoje, a senhora vai voltar a me dar atenção, preciso tanto dos seus cuidados, olha como ainda estou machucada pelo acidente". Mas como resposta somente o silêncio. Em dado momento dona Nita, vai até a sala, pega uma foto de Dulce, e a beija com carinho, lágrimas mornas escorrem de seus olhos tristonhos. Dulce grita: "Não chore mãe, eu estou aqui, bem ao seu lado, não entendo porque você, passa por mim todos os dias, sem me notar, preferindo beijar o meu retrato, ao invéns de beijar meu rosto".
Ao lado das duas mulheres, um fiel Guardião da família, habitante de moradas excelsas, tenta mais uma vez se aproximar, de Dulce, e convencê-la de que ali, não é mais o seu lugar, se continuar a insistir, vai continuar a sofrer. E pela milésima vez, a convida a seguí-lo, para sua nova morada.
E pela milésima vez, Dulce recusa, e teima em permanecer ao lado de sua mãe. Ela ainda não entendeu, que não pertence mais ao chamado mundo dos vivos. Que naquele acidente, perdeu a vida física, e em espírito continua a existir.
(foto da autora; New Jersey)