SÓ USO PAPEL TICO TICO

Em 1959 eu consegui arrumar um trabalho numa banca de cereais, que foi no Mercado Municipal do Ipiranga, Rua Silva Bueno. O serviço era atender a clientela, pesando vários tipos de produtos alimentícios, cereais, engarrafar óleo em litros pra fazer comida, tais como: óleo de amendoim e de milho, sendo que o litro de óleo de milho era mais caro de todos, fazer entregas etc., foi quando dias depois conheci a dupla “Casctinha&Inhana”, que moravam na Rua Lord Cockrane, mas isso é outra história.

Primeiro dia de serviço, fui atender um cliente, peguei a lista e fui separando todos os itens, e quando finalizou o pedido ele lembrou que faltava papel higiênico.

Disse taxativamente em casa: “só uso papel tico-tico”. O proprietário da banca respondeu: “Larga de frescura na sua terra você usava sabugo de milho”. E ficou nessa conversa... O cliente respondeu. Tens razão lá na roça era assim mesmo.

Eu não entendi nada. O tempo passou, em 1965 viajei para Curitiba, quatro dias depois segui para o norte do Paraná. Passei por Rolandia, Arapongas, Sabaldia, Munhoz de Melo, foi um mês de férias inesquecíveis, fui conhecer os tios/tias enfim os meus parentes do lado paterno, família Oliveira, Liberato, Shibuta.

Eles moravam num sítio. Foi àquela festa conhecer os parentes. A luz de uma lamparina em cima de um fogão de lenha, a gente conversava sobre vários assuntos, comia pipoca salgada, pipoca doce, e num determinado instante percebi que um dos primos enchia o bolso de sabugos e sumia pro quintal. Num determinado momento a tia Lourença Franco Machado de Oliveira disse pra mim, você é muito “pandego?”, acho que ela quis dizer que eu era engraçado.

No outro dia fui dar umas voltas pelo quintal, conhecer coisas do interior, ouvia muito falar em “Tuia”, palavra muito usada nas letras de musicas caipiras, “cambal” e outras coisas mais, não sabia o que era tudo isso, enfim nasci no interior, mas vivia na capital de São Paulo, me chamavam de “jacu da cidade”. Na tuia iniciamos até um arrasta-pé, mas devido à movimentação dos bailarinos, que na mudança dos passos faziam emergir um pó branco do assoalho, e todos que ali estavam começaram a espirrar, diziam que o pó era um veneno muito usado na lavoura, e que todos conheciam por B.H.C.

Vi uma pequena casinha e resolvi entrar, era um banheirinho, com assento de madeira, no formato de “M”, e lá embaixo um poço bem fundo cheio de sabugos, eles diziam “latrina”, outros diziam “privada” foi quando descobri pra que servia os sabugos.

Tangerynus
Enviado por Tangerynus em 23/02/2013
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