Romance no Cemitério (English Version Available)

Era uma noite aparentemente normal. Seu Antônio saíra de casa e encaminhava-se a sua jornada noturna no cemitério municipal. Esperava que fossem apenas mais algumas horas chatas e cansativas de trabalho.

Assim que chegou ao local, pôs-se a caminhar silenciosamente, contando as horas para aquela noite acabar rápido.

De repente, ele ouviu um barulho. Algo, além dele, andava pelo cemitério. Ele estremeceu de medo.

Seria um bandido? Drogados? Uma alma penada?

Ele precisava descobrir. Andou lentamente. Não queria que percebessem sua presença. Após alguns passos, avistou a sombra de duas pessoas na parede do cemitério. Não conseguia ver as pessoas, só avistava as sombras.

Ele permaneceu parado onde estava, observando. E ficou surpreso com o que viu: as sombras pareciam se abraçar. Um abraço verdadeiro.

-Um casal –ele sussurrou.

Ficou mais curioso. Queria saber quem eram aquelas pessoas e o porquê de escolherem um cemitério para namorar.

Deu mais alguns passos, mas percebeu que as sombras se beijavam em seguida. Não querendo ser inconveniente, recuou um pouco. As sombras pareciam felizes. O velho sentiu-se um pouco comovido com aquela cena.

Não precisava de uma explicação, de um motivo, não precisava sequer compreender aquela situação, afinal, eles estavam felizes.

De repente, as sombras pararam de se beijar. E, de mãos dadas, caminharam em direção à saída. Para Seu Antônio, não importava mais saber quem eram aquelas pessoas. Apesar disso, foi atrás deles, só por curiosidade. Ao virar à direita, ele parou chocado. Na verdade, as sombras não eram de pessoas, tratava-se de dois esqueletos que caminhavam calmamente, atravessando o portão do cemitério e sumindo logo em seguida.

O velho ficou confuso. Sentou-se no chão e ficou olhando para o nada.

Aqueles esqueletos, a quem pertenciam?

Seriam de um homem e de uma mulher? Seriam de dois homens? Seriam de duas mulheres? De negros? Ou seriam de brancos? Seriam de pessoas magras ou seriam de gordas? Ele nunca saberia.

A única convicção que tinha era de que, independente de tudo o que ele acreditava ou achava certo, eles eram felizes.

Versão em Inglês: http://liandersonferreira.blogspot.com.br/2015/07/a-romance-in-cemetery.html