Um Encontro Alucinado

A estrada era de terra
Eu não sabia a direção,
Era noite de céu nublado
Eu andava palmo a palmo
Enfrentava a escuridão.

O caminho era estranho
No barranco eu escorava,
Procurava o rumo certo
Mas na pedra tropeçava.

Com a mão esquerda, segurava o litro
Com a direita ia roçando,
Os galhos que tinham nas margens
Do meu rosto ia livrando.

Olhos arregalados tentando enxergar
O caminho de volta que leva a meu lar,
A escuridão invadiu o meu mundo
Apavorado começo a chorar.

De repente me assustei,
Com as duas mãos apertei
O litro que tinha na mão,
Não sabia se era miragem
Ou se era assombração.

Vi uma luz forte clareando
Parecia um lampião,
Andava em zigue - zague
Mudava de direção.

Novamente se apagou
Me deixou na escuridão,
Olhava pra todo lado
Se andasse ia ao chão.

Tomei mais um gole de pinga
Disparou meu coração,
Precisava de força e coragem
Pra esquecer aquela visão.

A pinga desceu queimando
Logo veio a reação,
Vi ascender dois olhos de fogo
Vindo em minha direção.

Dei dois passos pra frente
Tropecei na assombração,
Pus o litro debaixo do braço
Agarrei com as duas mãos.

Quanto mais eu apertava
Mais forte sua luz clareava,
Não sabia se era um sonho
Ou se era alucinação
A verdade é que eu tinha agarrado
O vagalume maior do sertão.

Achei o caminho de casa
Acabou-se a escuridão,
Quando a luz ficava fraca
Só bastava um apertão.

Vo cuntá pô meu cumpadi
Qui mi ispera nu portão,
Com minha famia intera
Rezando e se dando as mão.

Cheguei intero e vivinho,
No litro inda tem um restinho,
cês num vai aquerditá,
Ispere eu tomá um golinho
Mi deixe um instante suzinho
Prá minha história contá.

Vim trazido por um bagalumi
Qui mi acudiu na escuridão,
Na horika qui mais precisava
Sua luis bem forti briava
Parecia um lampião.

Prá quem anda sózinho na noite
Im quarqué lugá du sertão,
Qui tenha a sorti qui tivi
Si encontri na escuridão.

Qui um bagalumi giganti
Pareça nu seu caminho,
Livrando seus pé du ispinho
É o qui desejo di coração...