Primeiro conto - Parte III

III

Naquela noite eu não me lembro de ter sonhado, mas eu realmente teria achado que aquele homem e aquele livro não passavam de um surto da minha imaginação não fosse pela ponta de cigarro que continuava ali, no cinzeiro da sala. Quando minha avó me chamou para o café, escondi rapidamente o objeto e fui me deliciar com um sanduiche e chocolate quente. Após estar satisfeito, estava voltando para o quarto e no caminho, pela sala, observei uma imagem que não me era estranha. O primeiro quadro que decorava a parede, no início da escada, mostrava o rosto do nosso velho amigo ateniense Sócrates. A mesma imagem que estava no livro. Hoje eu falo com propriedade que não acredito em coincidências, mas tenho que admitir que foi uma sensação perturbadora. Olhei as outras pinturas e engoli seco, imaginando o que talvez provavelmente estivesse por vir.

Não é conveniente dizer quais as pinturas que embelezavam aquela parede já que matariam, como vocês já perceberam, boa parte das surpresas dessa humilde história. O sol percorreu o céu até o horizonte e como nas pinturas, o coloriu com todas as cores do espectro visível até morrer atrás da terra e deixar apenas escuridão.

Passei o dia aproveitando a nova brincadeira de perguntar o porquê de tudo e foi divertido, apesar de não ter conseguido achar resposta para quase nada. Esperei meus avós dormirem e fui até a sala onde o episódio da noite passada ocorrera. Deixei a luz do abajur acesa iluminando parcialmente a sala e enrolei um terço em minhas mãos. Ajoelhei na frente do sofá e apoiei meus braços, fechei os olhos e comecei a orar, ou seja lá como você queira chamar isso. Não lembro ao certo, mas acho que foi na metade da prece que senti uma presença além da minha.

"Ariel estava no portão da escola e decidiu que iria voltar a pé para casa neste dia. Sua mãe havia dito que era perigoso, mas ninguém iria saber. Ele foi até a esquina e viu uma placa onde estava escrito “volte” ignorou e continuou andando onde viu outra placa “perigoso” “não deve ser nada demais” ela pensou. Continuou e sinais continuaram aparecendo, mas Ariel acreditava em si e não nos sinais do mundo... Sempre haveria esperança de dar tudo certo... Talvez Ariel tenha chegado a salvo em casa."