À procura do leite da pedra
É muito escuro. Não dá para enxergar nada, na verdade, creio que não há nada para enxergar, é um universo profundo e vazio. De que adianta o seu tamanho, se não guarda nada?
Há uma luz à quilômetros daqui, posso ver, ou estou delirando? Peguei carona em um disco voador, explêndido veículo. Eu e o dono disparamos para o breu. Uma viagem para conhecer o vazio.
Nossa primeira parada é em um planeta terrivelmente quente. Sua paisagem magmática é marcante mas não há vida, nem um suspiro. Voltamos para a nave e o extra terrestre dispara para o nada.
Mais um pseudo destino, o segundo planeta, diferente do primeiro, é muito frio. Minha pele chega a queimar com a temperatura tão baixa e, por isso, também não há habitantes.
No terceiro planeta não existe nada, ou melhor, existe, nada. Nem oxigênio, porém não acredito que seja este o motivo de minha falta de ar.
O quarto planeta é uma zona. Muita gente, observamos de fora. Muita gritaria e confusão, uma imagem bem familiar que me dá um nó na garganta.
Ao chegar na esquina da galáxia mais próxima, pedi para virar à direita, mas o ET vira para a esquerda. Não sei pilotar o disco, estou em suas mãos. Sei que tenho algo para encontrar mas estou sem o controle da nave.
Tivemos mais umas paradas mas não consigo me lembrar, as memórias são turvas. O amigo externo me guia, e então, quando olho a minha volta, estou sozinha.
Encontro-me no duro karma impregnado desde os primórdios de meu tempo. Apresento-me sempre enclausurada nos sedimentos de minha abalada confiança acinzentada, ou será de cor preta?
Em uma tontura constante, sempre tentando na escuridão por trás de minhas pálpebras conseguir ver o brilho leitoso da resolução estrelar mais próxima.
Uma busca teimosa em ultrapassar a barreira limitada da mente para extrair palavras brancas ao mesmo tempo precisas e imprecisas que tocarão duros corações.
Permaneço sempre em minhas incansáveis jornadas, sem fins, da falta de confiança para o amor próprio e dos sentimentos com suas expressões físicas, pelo universo do escuro cérebro, na tentativa frustrada de arrancar leite de pedra.