Antes do Fim
Escuridão. Por mais que abrisse os olhos, não conseguia distinguir nada além da espessa escuridão, que flutuava ao seu redor, densa, quase tangível, enchendo seu coração de um pânico gelado. Afinal, onde se encontrava? Como tinha chegado ali? Sua mente estava nebulosa, como se as trevas que a rodeavam tivessem penetrado no seu cérebro, enchendo-o de escuridão.
De repente, escutou um barulho, como de algo raspando madeira. E um alçapão se abriu, deixando entrar um faixo de luz que a cegou. Uma mão gigante a tomou pela cintura e a tirou de onde estava. Ainda cega pelo resplendor, ela não percebeu que estava numa sala enorme, com as dimensões de um galpão. Só sentia seu coração latir velozmente, um medo sem nome agarrar-lhe a garganta, impedindo-a de gritar, os olhos lentamente se acostumando à luz. Começou a lutar para se livrar dos dedos fortes, grossos como troncos de árvores centenárias, mas o aperto não diminuiu.
Enquanto se debatia, o gigante abriu a panela, da qual saía um cheiro nauseabundo. Quando finalmente seus olhos se adaptaram à luz do local, um arrepio a percorreu, mas não teve tempo de mais nada. O gigante a pegou pelo pequeno pescoço e apertou. Depois, a jogou na panela, enquanto falava para sua esposa, sentada à mesa logo atrás dele: -A qualidade desses produtos enlatados está cada vez pior. Imagina, Gertrude, a nossa janta estava viva! Detesto ter que matar esses bichos...