"A MESA FARTA" Conto Surreal de: Flávio Cavalcante

A MESA FARTA

Conto de:

Flávio Cavalcante

Do que estava adiantando uma mesa grande e farta com todos os familiares ao redor para uma comemoração de alguma festividade que não consigo me lembrar do que se tratava. A mesa farta e longa era feita de madeira de lei e estava exposta lá frente do casarão da minha avó em São José da laje. Toda família sempre foi muito alegre e um encontro desses, era sinônimo de muita farra e muita batucada. Mas aquele momento não era pra esse fim. Parecia um momento de reflexão ou algo parecido. Estavam todos com expressões de muita tristeza, inclusive eu, que andava de um lado para o outro com uma vontade imensa de chorar. Era um tormento que eu não estava mais aguentando. O nó na garganta parecia querer me sufocar. Uma sensação muito ruim.

Encontravam-se todos os componentes da família e por si tratar de muita gente, observei em alguns cantos isolados a minha irmã rodeada de amigos que não são do meu conhecimento a identidade daquela gente, mas estava rodeada recebendo um apoio de abraço; via-se claramente que ela estava oprimida e vez por outra limpava seus olhos umedecidos em lágrimas. Fato que passei a observar em outros pontos daquele casarão, outros familiares na mesma situação.

Não aguentando aquele momento oprimido também me esvaí em lágrimas numa dor de saudade violenta. Parecia que meu coração estava á beira de uma explosão e eu estava num estado de total descontrole. Aquela gente reunida não parecia um almoço ou reunião de família, mas, me recordo perfeitamente que era algum momento de relembrar um passado bom e recente.

Lembro-me num flerte das minhas mais profundas lembranças um momento antes dessa reunião que eu estava no interior da casa. Um cômodo perto da cozinha. Eu ensinava alguém, alguma tarefa artística. Acho que era relacionada á arte. Acho que se tratava de alguma coisa com pintura ou coisa parecida. Também apagou da minha memória quem era a pessoa. Nesse meio tempo eu também preparava uma deliciosa e diferente pizza e os familiares convidados esperavam ansiosamente aquela guloseima que estava no forno.

Do lugar onde eu estava observava tudo que se passava no lado de fora. Via a mesa já ocupada pela família e vez por outra eu dava uma satisfação dizendo que a pizza estava quase pronta. E ninguém me respondia absolutamente nada. Não lembro se a pessoa que eu ensinava a tal tarefa ainda estava perto de mim, mas num passe de mágica dei uma olhada rápida e todos estavam se servindo de uma imensa pizza que não era a minha que estava no forno. Não entendi de onde surgiu. Só sei que todos se serviam.

Finalmente a minha saiu do forno. Interessante que a minha pizza era de um formato diferente. Não era uma pizza arredondada tipo pastelão como é o normal o formato das pizzas. A minha tinha um formato de um rocambole retangular e grosso. Parecia um bolo, mas naquele momento eu falava sempre a palavra pizza. Levei para fora e pus em meio á mesa a tal guloseima feita por mim. Teve um momento que eu falei pra Lilita, mulher do meu tio Kirson. “O INTERESSANTE É QUE EU RECEBO ESSAS RECEITAS E PONHO OUTROS INGREDIENTES E ACABA FICANDO MELHOR”. Num flash todos saboreavam aquele prato e me cobriam de elogios. Mas meu peito parecia ter uma ferida aberta. Uma angústia estava me matando aos poucos. Eu estava ali, mas minha mente estava numa viagem pelas estrelas e universos.

Lembro-me que cheguei perto da minha irmã Heryca e disse pra ela. “LEMBRA QUE NO ANO PASSADO ELE ESTAVA AQUI DO NOSSO LADO?” Bastando terminar essas palavras não aguentei e caí em prantos descarregando toda dor que estava presa dentro de mim. O soluço saía sem controle. Uma sensação de dor e saudade ao mesmo tempo. Algo como se tivesse acontecido uma perda recente de um familiar muito querido. O mais incrível é que acordei deste sonho ainda com a sensação de que aquele fato era uma realidade e no qual se tratava de um sonho que me marcou tanto que com medo de esquecer os detalhes, pus-me diante do computador para escrever detalhadamente tudo.

Ao acordar percebi que aquele encontro se tratava de uma reunião familiar de confraternização e lembranças dos meus pais que se foram de repente. Minha mãe faleceu em 27 de dezembro de 2009 e meu pai em 29 de janeiro de 2011. Diferença quase de um ano. Nesse intervalo foram alguns parentes muito próximos ligados á matriarca e ao patriarca. Vítimas de doenças causadas pela dor da saudade aumentando ainda mais a nossa. Esse sonho deixa bem claro que a gente tenta pôr uma peneira no sol, mas na realidade é uma forma de tentar esquecer aquele momento tão crucial que a vida pôs em nossa lida.

Hoje é domingo dia 21 de outubro de 2012. Começa hoje o horário de verão, na cidade do Rio de Janeiro.

QUE DEUS SEJA LOUVADO E NOS DÊ FORÇA PARA CONTINUAR O NOSSO AFÃ...

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 22/10/2012
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