O Outro Mundo

Recordo-me de um lugar, que mais me parecia um hall, mas que não me era conhecido. O tempo, tão incerto, ora chovia, ora fazia sol. Eu conversava ou talvez apenas ouvia. Mas não me recordo dos sons. Realmente existia som?

Havia um pressentimento, mas não sabia o que, exatamente. Todas as sensações ruins e todos aqueles pensamentos pessimistas me perseguiam. Olhava para as janelas e portas e corredores. As pessoas ao meu redor me pareciam estranhas, suspeitas, misteriosas.

Subia-me, cada vez mais, a desconfiança. E, novamente, o pessimismo. Talvez fosse neurose minha ou, talvez, eu estivesse à beira da loucura.

Não sei, ao certo, como o tempo correu tão rapidamente. Pareceu-me que o relógio corria sem parar. Não havia milésimos, segundos, minutos nem horas. Simplesmente o dia tornou-se noite.

E a noite, dispersa em escuridão, ainda deixou-me mais receosa. A minha sensação de que algo ocorreria soava com mais certeza e, insistentemente, me perturbava. Do que se tratava? O que poderia ser? Eu estava, mesmo, ficando louca?

Assim como o tempo correu rapidamente, também as pessoas sumiram rapidamente. Quando dei por mim; quando, inesperadamente percebi, me encontrava sozinha no hall. Essa solidão me trouxe mais insegurança, embora eu desconfiasse de todas aquelas pessoas que estavam ali. O que, afinal, elas estavam fazendo? O que, de fato, eu estava fazendo ali?

O que sei é que subi umas escadas, um tanto tortas, um tanto incertas. Ou eram meus passos que, bambos, me tornavam insegura? Meu corpo parecia sentir o que tanto perturbava minha mente. Mas eu ainda não fazia ideia do que ocorria. Segui o corredor que dava para uma porta entreaberta. Como sabia que ali se tratava de um quarto se não conhecia aquele lugar? Será que realmente não conhecia?

Alguns minutos depois ou talvez até horas, pois eu, de fato, não compreendia como o tempo corria naquele lugar, ouvi alguns passos vindos de fora. O meu coração, então, acelerou. E minha mente concretizava ainda mais aquela sensação de que algo iria ocorrer. Não tive a certeza se descia ou não para verificar o que ocorria. Mas, como todo ser humano, curiosa como sou, comecei a descer as escadas.

Meus pés, trêmulos, carregavam-me de forma tão estranha e insegura. Pareciam puxar-me para cima, de modo que nunca chegasse ao seu final; que chegasse próximo a porta. Mas, felizmente, ou melhor, infelizmente cheguei. E a dúvida, a cruel dúvida: abrir ou não abrir a porta? Eis a questão. E então, antes mesmo que eu decidisse qualquer coisa, a porta se chocou contra mim. Eu tentei empurrá-la, lutando inutilmente contra alguém do outro lado.

Sabia que tudo o que me perseguia desde o início do dia se tratava, então, deste momento. E não pude mais segurar a porta e caí sobre o chão gelado. A outra força então, vinha de um homem, de rosto duro e pesado, um olhar estranho e maldoso. E quando olhei para sua mão direita, havia uma pistola. Ao tentar levantar-me e correr desesperadamente dali, o homem, que nunca havia visto antes, assim como todo aquele lugar, atirou-me diretamente na barriga. E então, a última coisa que senti, foi minha mão se encher de um líquido quente e viscoso. Era o meu sangue.

De repente despertei-me. Eu não fazia mais parte daquele mundo, então. Entretanto, o que senti foi que meu estômago parecia não muito legal, mas não tive coragem de descer da cama e pegar um remédio que aliviasse essa dor. Havia o medo de abrir a porta. Havia o medo de que agora fosse, na verdade, o meu sonho e eu fosse acordar, de verdade, em outro mundo. Acho: a minha cota de ressurreições já havia chegado ao limite naquele dia.

Por Jéssica França
Enviado por Por Jéssica França em 29/09/2012
Código do texto: T3907425
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