Foragido do Inferno

A noite tombou, naturalmente, sobre o arrebol Norte Americano, e sob a escuridão, as estrelas testemunhavam a euforia de um fugitivo, com suas horas marcadas, um desfecho horrível o esperava. Ele estava ciente disso, e certamente, o fôlego iria se esgotar, e as relutâncias de nada valeriam. Num piscar de olhos, literalmente. Ele foge. Sem rumo dentre os becos de Nova York, seguindo por caminhos já conhecidos ou passagens cedidas pela sorte ou mesmo ponta pés. Desesperado, sem ambiguidades... Suas pernas comportam o medo, aquele sentimento presente em suas veias - a moléstia de todo o ser consciente de sua mortalidade; um agente tóxico e letal que corrói sua perspicácia e afeta o moral, e por fim o mais importante: O núcleo de consciência, a alma... Mas esse não era o caso daquele foragido sem nome, e sem alma. Possúia o medo das câimbras, mas não o medo da morte, pois dela já detinha certa intimidade. De antemão à caçada, havia apenas o medo de voltar para o inferno. Os credos de olhar para trás e a cisma dos rangidos das correntes... Da carne humana ensopada de sangue sendo serrada lentamente...

O simples fato de se inclinar e olhar para trás era abraçar a inclemente visão daquilo que estava por vir. - Ahn...? - E ele já estava em sua frente, como o viabilizado, inevitável como um karma. Num piscar de olhos...

Havia uma semântica ágil em seu algoz, uma presença cósmica, atemporal, determinada, que traria náuseas à qualquer sensitivo...

Uma lâmina curva traçou um único corte sem volta para o foragido. A garganta cedeu em vermelho... Afogou-se no próprio sangue, seus lábios espumavam num semblante há muito alquebrado pelo cansaço. Contemplando o talho mortal, sem recuar, fadado à indiferença, seu executor gozava do status que mantera sua integridade moral invicta há quase cinco séculos de campanha... Era um Amardad, um agente tático, sobretudo um dos caçadores-de cabeças dos lordes infernais de alta hierarquia e renome. Com os pés na realidade humana, era uma figura esguia e atlética, aparentava ter não mais que vinte e cinco anos, muito bem vigiados por outras centenas deles, no entanto, incógnitos, dissimulados pelo véu de nossas dimensões...

Invictus
Enviado por Invictus em 28/09/2012
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