Não vamos fazer nada? 
 
Os urubus esfolavam as vísceras da viúva, enquanto me olhavam com olhares ameaçadores, dois olhos negros, penetrantes, cortantes. Gritei com os que assistiam aquela cena, disse-lhes: não vamos fazer nada?

Ao ouvir essas palavras, essas aves repugnantes, avançaram com ímpeto sobre a vítima que sangrava; passantes se aglomeravam em torno da cena de horror, sua expressão era de pavor e de medo; paralisadas, impotentes diante da ferocidade das aves; não podiam fazer nada, pois enfrentar os urubus poderia custar-lhes a vida, já que centenas deles voavam baixo sobre nossas cabeças, alguém gritou “o que podemos fazer?'' ''Nada, os urubus reinam nessa terra!”, disse outro com ar de desagrado. 

Enquanto isso, os algozes sem dar a mínima aos gritos de horror dos passantes e sem querer saber de nada a não ser esfolar aquele corpo, avançavam com nova carga e a cada grito de indignação, faziam voos rasantes; e com seu bico duro e pontiagudo penetravam mortalmente naquele ser caído, inerte, que já sangrava por todos os orifícios;
A esta altura uma multidão se aglomerava em torno da carnificina;
As pessoas estavam impotentes sem poder salvar aquele ser que definhava; o ímpeto daquela colônia de sarcófagos que devoravam sua presa era assustador, atraídos estranhamente pelo cheiro de carne fresca. Um transeunte dizia: o fato é que os urubus são aves agourentas, carnívoras e sedentas por esfolar as tripas de suas vítimas! Antes comiam restos mortais - agora nos esfolam vivos!