O SECRETO DIÁRIO DE K

Hoje, minha torrada queimou. Também não gosto de cachorros. Gosto de gatos, eles são interesseiros e verdadeiros. Os gatos mostram-se. Decidi tomar apenas o café, o café quente. Enquanto aquele líquido negro adentrava em minha boca, eu sentia um prazer inenarrável, um prazer vigoroso, um prazer divino. Naquela manhã, minha mente estava forte novamente e eu cedia, cedia ao meu bel-prazer. Como desejava que aquele líquido fosse mais grosso, como eu desejava que fosse mais viscoso. Minha boca enchia-se de saliva e eu tinha apenas aquele pobre café em minha caneca.

_ Bom dia senhorita Júlia Kass! Chegou cedo hoje. O que aconteceu?!

Jorge, colega de trabalho e especulador assíduo de minha vida, inquiria-me. Passei por Jorge. Não falei nada. Queria mesmo me afogar em todos aqueles relatórios, eu não queria ser uma ameaça novamente. Confesso que nunca senti remorso, nunca senti piedade pelas pessoas que eu matei. Acho que existem seres divinos que estão nesse mundo para fazer outros seres, também divinos, experimentar os mais diferentes sentimentos e sensações. Aqui, eu estava: destinada a implantar o terror.

´´Tadeu sofreu pouco`` era o que eu pensava enquanto eu redigia mais um conselho amoroso em minha coluna semanal ´´ame-me o quanto eu te amo``. Eu gostava de aconselhar outras pessoas, gostava de saber que as pessoas recorriam aos meus conselhos, às minhas percepções amorosas. Eu gostava de ajudá-las.

Tadeu não saía da minha mente. De fato, ele poderia ter sido o último, mas naquele dia eu estava mais uma vez estranha, mais uma vez o meu desejo louco estava a me cercar, a me tentar. Eu, naquela noite, iria cair.

Fim de tarde. Ele, o terror, se instalou em mim.

_Júlia, que tal sairmos para algum barzinho próximo? Tomar um drink?

_Querido Jorge, se eu fosse você não me faria este convite...

( um sorriso e um semblante enigmáticos estavam em meu rosto).

_Não só faria como já fiz! E não aceito recusa! Ouviu ? mocinha.

_Certo, mas antes passaremos em minha casa.

_ Combinado!

A minha ansiedade crescia. Seria hoje o grande prazer. Ahhh que maravilha poder me revirar em cima de mais um corpo...

Chegamos. Deixei Jorge na sala. Dei-lhe um drink. Acrescentei a ele um veneno.

Logo, Jorge estava inerte. E eu estava com todo aquele homem apenas para mim. Tirei-lhe as vestes. Todas elas. Comecei com o meu pequeno canivete. Tirei suas unhas. Cada uma. Todas as vinte estavam em uma bacia pequena de inox. Enquanto tirava, ao mesmo tempo, sugava todo sangue que jorrava, que lavava meu corpo também nu.

Depois, retirei parte do fígado. Gosto de fígado. Gosto somente de fígado humano.

Não vejo utilidade para os olhos. Algumas pessoas não os merecem. Retirei os olhos. Confesso que retirar os olhos exige perícia, uma vez que podem ser estourados antes mesmo do seu deslocamento. O primordial é fazer uma grande abertura, confesso que a técnica que uso é orientada pela medicina veterinária a animais de pequeno porte, mas Jorge tem apenas 1,7 m e a todos que tem esta estatura eu aplico e não vejo mal. Sempre consigo tirar todo o globo ocular sem causar danos ao meu paladar.

O coração dele ainda batia. Retirei seu pênis. E todo prepúcio com o canivete. Coloquei em uma outra vasilha, esta , um cristal. Não vejo utilidade nas orelhas. Retirei-as. Não as como. São muito firmes. Temo prejudicar os dentes.

Logo mais, fiz um corte profundo em sua garganta que fez seu corpo reagir com um abrupto solavanco o qual fez derramar tudo o que eu desejava durante o café matinal: o sangue.

Suguei, senti aquele leve amargo, salgado e quente sangue. Quanto prazer...quantas sensações maravilhosas...meu corpo se retorcia banhado naquele líquido carmim. Dos meus seios eriçados pingava o precioso líquido, a minha fonte de vida.

Retirei todo seu couro cabeludo. (É apenas uma visão financeira de que, no futuro, eu possa vender perucas). Arranquei seu coração. Finalmente, lá, estava o coração de Jorge, o homem mais mulherengo da cidade, e eu estava com seu coração em minhas mãos.

( no outro dia...)

´´Querida Amanda, ame a si e viva da melhor forma possível! Ocupe seus dias com atividades diferentes; saia com seus amigos; leia um livro etc. Esqueça quem não te ama!``. Era o conselho que eu dava a uma de minhas leitoras através de minha coluna. Ela havia saído com Jorge. Enquanto isso, eu bebia o café quente e sentia seu gosto, não mais outro sabor, pois o desejo de antes havia saciado. Ao menos, por enquanto...

Eliane Vale
Enviado por Eliane Vale em 02/09/2012
Reeditado em 03/05/2015
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