Sonhos à noite - In Cantos e Contos do dia e da noite
Línguas de fogo em lareira de aquário irrompem em imagens de vapor desenhando teu corpo que num frêmito cansado desvanesce-se aos poucos.Vejo tuas palavras ainda a boiar na superfície do fogo: desejo de igual ardor.A chama queima o amor.
Em pouco tempo tu te estendes no tapete da sala: convite vivo ao amor.Esquivo-me amando o tapete da sala.Deixaste teu cheiro impregnado no ar: um cheiro de saudade e lembrança.O tapete se enrola em mim.Sufoca-me.
Acordo.O quarto está vazio e o silêncio tem um peso de tristeza excessiva que me faz sentir uma lágrima teimosa nos lábios.Adormeço.
A superfície calma do mar e teu corpo,agora,alado feito anjo molha-me
a fronte em gotas de sal.Corro ( da espada em tuas mãos empunhada )
pela praia que se desfaz em largo jardim e sinto-te com a espada-em-sal-flores trespassar meu corpo com sinais de sangue e amor.A porta
se fecha com estrondo e vasculho alguma coisa no quarto;teu retrato me sorri e dele se desprende teus sonhos em asas negras de morte; o
sal deixa amarga a pele.Sinto dor e caio nos teus braços de sonho.Durmo.
- Deixa-me ficar aqui no teu coração.Não foge de mim, pois não há
remédio para o meu mal.Sou tua doença, - diz ela.
Ouço tais palavras jogadas sobre mim como uma maldição.Olho por entre flores do infinito jardim e vejo-te correndo com um buquê de rosas a ofertar para mim.Recebo e sorrio...Cactos ferem e amaldiçoo-te
pela ilusão criada,pois que acreditei.
Tu voas na carruagem sem rumo definido,invadindo céus e terras.
Limites infindos dos sonhos.Ouço teu olhar em mim.