Perdendo a cabeça
Quatro dias já se passaram e ainda não decidi se acredito ou não no que vi. Parece mentira, coisa da minha cabeça, mas eu juro que não estou louco ainda!
"Segunda-feira, 10 de janeiro de 2008.
Nada pior do que começar a semana com um dia de trabalho tão chato como esse. Esperava chegar nesse prédio e encontrar pessoas bem dispostas, mas tudo que eu recebo em troca são olhares de estresse e ódio. Acostumado com tamanha falta de respeito me aprisiono em minha sala e lá fico até a hora do almoço. Não vejo sentido em minha vida. Vice-presidente de uma multinacional, família linda e grandes conquistas. Exemplo bom para muitos e tenho que chegar todos os dias nesse edifício e me deparar com essa rejeição. Enfim, não posso parar pra pensar nos outros tenho que pensar em mim e em minha família.
Hora do almoço. Relaxar um pouco, esse trabalho esta me tirando do sério. Acho que estou precisando distrair um pouco a cabeça. Fazer alguma coisa diferente... Ei! O que será isso? Diante de uma porta entreaberta escuto cochichos, risadas, vozes descompassadas. O que será? Motivado pela curiosidade abro lentamente a porta e me deparo com uma cena inacreditável.
Diante dos meus olhos uma cena impressionante, surreal para ser mais exato. Lúcia, envolvida por... Uma sombra. Estou ficando cego? É mesmo uma sombra a quem Lúcia esta a se atacar de forma tão sensual?
Que maldita dor de cabeça.
- Lú-lúcia? - A chamo. - Lúcia? - Me aproximo dela mesmo sabendo de sua atual condição. - Estou me sentindo mal Lúcia, me ajude! - Suplico a loira ofegante a minha frente. Algo não esta bem comigo. Mesmo tentando chacoalhá-la nada parece tirá-la do seu momento.
E que diabos é essa sombra? Será que a dor de cabeça esta afetando minha visão? Mas Lúcia esta tão clara para mim... Mesmo sabendo que forçar a minha visão piorará minha dor de cabeça assim farei. E aos poucos forço minha visão e a sombra parece se manifestar ao meu desejo. Uma silhueta masculina começa a surgir e aos poucos o sujeito me parece familiar.
Quem é você? Eu exijo saber. Aos poucos a imagem do homem quem Lúcia beijava com tanto fervor surgiu e meu espanto tomou conta de mim. Mas co-como isso é possível? Ele... Eu... Como?
- Lúcia! Lúcia olhe para mim! Lúcia! - A chamo desesperadamente. Que inferno esta acontecendo aqui? Mas ein?... Sinto algo escorrer pela minha nuca e automaticamente passo a mão para ver o que é. Hã...? Sangue? Isso aqui é sangue? Berro tal exclamação, mas parece que o casal adiante e ninguém naquele lugar me escutava. Corro para o fundo da sala e pelo reflexo do vidro busco encontrar o motivo do sangue.
- Mauro, mas o que significa isso? - Uma mulher grita meu nome na porta e pelo reflexo vejo ser Patrícia, minha esposa. Corro até seus braços, mas parece que ela nem notara minha presença. Presa na imagem a sua frente, vejo minha esposa começar a chorar e Lúcia assustada escondendo-se atrás de... Mim. Olhando para Patrícia sem reação, vejo o medo em meus olhos e a testa soar frio. Por Deus, o que estou fazendo aos braços de Lúcia escondido na sala do Arquivo Morto da empresa?
- Você é um monstro Mauro! Um filho da puta! - Patrícia me atira suas palavras com ódio e lágrimas. Por mais que eu tente dizer que estou aqui, que aquele Mauro não sou eu, ela insiste em me ignorar e desejar a morte àqueles dois. - Como pode me trair com essa... essa cadela? Como?? - Ela exigia uma resposta. Eu não tinha o que responder. - Você esta morto para mim Mauro - e apontando o dedo para mim ela completou sua frase. - MORTO! Nunca mais me procure! - Patrícia ficou a me olhar por mais alguns segundos e logo se retirou.
- PATRÍCIA, ESPERE! - Eu grito por ela. Me vejo parar na porta e chamá-la mais uma vez. Por mais que eu soubesse que o certo fosse correr atrás dela, minhas pernas não saiam do lugar e o máximo que eu fiz foi ver que todos os funcionários me olhavam com ódio e repugnância. Humilhado deixo meu corpo cair sob meus joelhos no chão e em posição de quem ora começo a chorar.
Esse homem a minha frente não pode ser eu realmente. Por que ninguém me escuta? Por que parece que ninguém me vê? Por que não para de sair sangue de algum lugar da minha cabeça e a dor esta mais insuportável do que tudo?
Subitamente me levanto do chão, sem pensar em mais nada, sem prestar atenção ao mundo a minha volta. Olho no fundo dos olhos de Lúcia.
- Essa foi a última vez Lúcia. - Falo em tom de ódio e condenação a quem destruiu minha vida.
Antes que eu pudesse tentar impedir inutilmente a minha atitude, já era tarde. Corri em direção ao vidro da sala e ignorando todos os meus sentidos de sobrevivência me atirei contra ele.
- Nãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaao! - Grito para mim mesmo e corro atrás do homem que acabará de se atirar do 21º andar.
Sangue, muito sangue. Poucos gemidos. A dor de sentir minha vida acabar segundo por segundo.
Vazio."
Quatro dias já se passaram e ainda não decidi se acredito ou não no que vi. Parece mentira, coisa da minha cabeça, mas eu juro que não estou louco ainda!
"Segunda-feira, 10 de janeiro de 2008. (...)"