DO OUTRO LADO DA RUA (15) – HERANÇA MALDITA
Chove torrecialmente, vou à casa de fundos “do outro lado da rua”, da minha boa velhinha, logo de manhã, desejando que esteja bem e com a disposição de sempre. Passei no mercado e comprei um pacote de doce de banana pois sei que dona Chiquinha gosta demais. Encontrei-a no fogão de lenha preparando seu café com bolinhos de chuva (que hoje justifica) e sua alegria foi contagiante quando me viu. Sentadas ali na cozinha, enquanto saboreávamos aquele café, a velhinha conta mais uma de suas histórias.
A chuva caia feito caixa d’água aberta, parecia até que o céu tinha se aberto para lavar o mundo, os relâmpagos eram de dar medo. Na casa grande, o coronel Eustáquio, pai de seu Porfírio, quando este ainda era criança, estava trancado no “quartinho do baú” com três grandes lamparinas de querosene acesas, abria um saco velho com um baú, esparramando sobre a mesa tudo o que tinha dentro.
Moedas, anéis, alguns cordões de ouro e...uma mecha de cabelos. Coronel Eustáquio exultava por sua aquisição. Tudo que ali existia fora adquirido através de herança, deixada por seu pai. De repente, um relâmpago muito mais forte do que antes, iluminou o quartinho com uma luz capaz de cegar os olhos.
O coronel cobriu os olhos com o braço e esperou um tempo. Quando os abriu, uma moça de cabelos dourados pelos ombros e toda vestida de renda branca estava parada na sua frente. Sua pele, muito clara e seus olhos tristes, davam-lhe um ar angelical.
O coronel nunca permitia que ninguém entrasse no quartinho do baú.Tanto que o lugar estava todo empoeirado e repleto de teias de aranha. Mas nem naquele cenário arrepiante, o coronel Eustáquio conseguia pensar em outra coisa, que não fosse sua riqueza e se pôs a esbravejar com a moça. Sem a menor paciência, o coronel foi até a porta para mandar que a moça se retirasse e percebeu que estava trancada. Verificou seu bolso e a única chave do quartinho do baú estava lá. O coronel ficou muito intrigado. Foi ver a janela, mas o quartinho estava no segundo andar da casa grande. A parede era lisa, não se podia escalar. Não havia nenhuma árvore ou coisa alguma que ajudasse ao acesso para a janela. O coronel ficou ainda mais intrigado. A moça pálida e vestida de branco, atravessou a mesa e se aproximou ainda mais. Foi aí que o coronel percebeu que se tratava de uma assombração. Sem raciocinar, pegou a garrucha que carregava nas costas, cerrou os olhos, e disparou chumbo em cima da moça...
Ele tinha certeza de que não havia errado um só disparo, mas quando abriu os olhos, a moça ainda se aproximava lentamente. Em desespero ele contornou a assombração e correu para tentar reunir toda a riqueza exposta na mesa. A assombração também se virou para a mesa pra onde ele foi e disse:
____ “Devorve o tisoro do meu pai”
Na tentativa desesperada de proteger sua fortuna, o coronel acabou derrubando as lamparinas e derramando o querosene por todo o quartinho.
O fogo tomou conta dos papéis, da mesa e até do baú de madeira, mas o coronel não conseguia deixar de tentar salvar aquela riqueza e ele nem conseguia gritar, pois a assombração estava tão perto que ele podia sentir seu hálito gelado em meio às labaredas.
A moça levou suas mãos às mãos do coronel e lhe tirou a mecha de cabelos e desapareceu, enquanto o fogo se alastrava por todo o quartinho, consumindo tudo...
Encerra-se assim a história do roubo de uma herança maldita, que fora surrupiada de alguém, que nunca ficaram sabendo. Minha doce velhinha soube dessa história pelo próprio coronal Porfírio seu padrinho, que a contara em uma noite de chuva, na fazenda Engenho Novo.
Chove torrecialmente, vou à casa de fundos “do outro lado da rua”, da minha boa velhinha, logo de manhã, desejando que esteja bem e com a disposição de sempre. Passei no mercado e comprei um pacote de doce de banana pois sei que dona Chiquinha gosta demais. Encontrei-a no fogão de lenha preparando seu café com bolinhos de chuva (que hoje justifica) e sua alegria foi contagiante quando me viu. Sentadas ali na cozinha, enquanto saboreávamos aquele café, a velhinha conta mais uma de suas histórias.
A chuva caia feito caixa d’água aberta, parecia até que o céu tinha se aberto para lavar o mundo, os relâmpagos eram de dar medo. Na casa grande, o coronel Eustáquio, pai de seu Porfírio, quando este ainda era criança, estava trancado no “quartinho do baú” com três grandes lamparinas de querosene acesas, abria um saco velho com um baú, esparramando sobre a mesa tudo o que tinha dentro.
Moedas, anéis, alguns cordões de ouro e...uma mecha de cabelos. Coronel Eustáquio exultava por sua aquisição. Tudo que ali existia fora adquirido através de herança, deixada por seu pai. De repente, um relâmpago muito mais forte do que antes, iluminou o quartinho com uma luz capaz de cegar os olhos.
O coronel cobriu os olhos com o braço e esperou um tempo. Quando os abriu, uma moça de cabelos dourados pelos ombros e toda vestida de renda branca estava parada na sua frente. Sua pele, muito clara e seus olhos tristes, davam-lhe um ar angelical.
O coronel nunca permitia que ninguém entrasse no quartinho do baú.Tanto que o lugar estava todo empoeirado e repleto de teias de aranha. Mas nem naquele cenário arrepiante, o coronel Eustáquio conseguia pensar em outra coisa, que não fosse sua riqueza e se pôs a esbravejar com a moça. Sem a menor paciência, o coronel foi até a porta para mandar que a moça se retirasse e percebeu que estava trancada. Verificou seu bolso e a única chave do quartinho do baú estava lá. O coronel ficou muito intrigado. Foi ver a janela, mas o quartinho estava no segundo andar da casa grande. A parede era lisa, não se podia escalar. Não havia nenhuma árvore ou coisa alguma que ajudasse ao acesso para a janela. O coronel ficou ainda mais intrigado. A moça pálida e vestida de branco, atravessou a mesa e se aproximou ainda mais. Foi aí que o coronel percebeu que se tratava de uma assombração. Sem raciocinar, pegou a garrucha que carregava nas costas, cerrou os olhos, e disparou chumbo em cima da moça...
Ele tinha certeza de que não havia errado um só disparo, mas quando abriu os olhos, a moça ainda se aproximava lentamente. Em desespero ele contornou a assombração e correu para tentar reunir toda a riqueza exposta na mesa. A assombração também se virou para a mesa pra onde ele foi e disse:
____ “Devorve o tisoro do meu pai”
Na tentativa desesperada de proteger sua fortuna, o coronel acabou derrubando as lamparinas e derramando o querosene por todo o quartinho.
O fogo tomou conta dos papéis, da mesa e até do baú de madeira, mas o coronel não conseguia deixar de tentar salvar aquela riqueza e ele nem conseguia gritar, pois a assombração estava tão perto que ele podia sentir seu hálito gelado em meio às labaredas.
A moça levou suas mãos às mãos do coronel e lhe tirou a mecha de cabelos e desapareceu, enquanto o fogo se alastrava por todo o quartinho, consumindo tudo...
Encerra-se assim a história do roubo de uma herança maldita, que fora surrupiada de alguém, que nunca ficaram sabendo. Minha doce velhinha soube dessa história pelo próprio coronal Porfírio seu padrinho, que a contara em uma noite de chuva, na fazenda Engenho Novo.