Resgate

Repentinamente estava em uma construção cercada por um alagado. Nesse alagado havia uma profusão de plantas, como em uma paisagem egípcia triste, porém bonita de certa forma. Os edifícios eram amplos semelhantes a uma escola. Onde deveria haver o muro dos fundos havia um tanque todo recortado na pedra como se fosse esculpido, com saída para o curso d’água. Não me senti sozinha, havia uma pessoa agachada na beira do tanque, coletando folhas e grãos em um cesto raso. Franzina, dourada, pele e cabelos, mas em andrajos. E não era só ela, a garota. Enquanto eu me aproximava para conversar ouvia meus companheiros de intenção chegando. Não me lembro de qual o tamanho do grupo. Com o barulho não sei se de veículos ou passos e vozes ela se virou e me viu. Assustou-se. Caiu no tanque e submergiu toda. Fiquei olhando por segundos até começar a correr para acudi-la, pressenti que estava aflita afogando-se.

Antes que eu chegasse meu companheiro mais rápido mergulhou, mas eu já estava mergulhando também. O choque da substancia fria foi estranho. A água era densa, escura, lodosa. Os caules e folhas das ramagens dificultavam a movimentação. Estava ficando sem ar. Tive que subir. Olhei graças a Deus ela já havia sido retirada do tanque. Meu amor veio em meu auxílio me puxando para fora com um só braço. Na borda ao olhar para aqueles olhos assustados tive a impressão de uma imagem do passado. Vi o mesmo prédio, o mesmo tanque, mas com águas mais límpidas e uma profusão de outras plantas cultivadas. Muitas pessoas sorridentes fazendo a colheita em canoas pequenas. Desapareceram. Todos se foram. Ficou a desesperança. Voltei. Ela estava sendo assistida pelos meus irmãos. Meu amor me embalava em seus braços e eu relatei o que tinha antevisto.

Acordei com uma sensação de paz, de que estava com alguém com quem eu deveria ter estado antes, mas não consigo determinar quem era ele. Quanto ao resgate não sei qual foi o motivo e quem era a garota, só que precisavam de mim para colaborar no envio dela para outro local mais adequado. Não foi a primeira vez que isso aconteceu, uma das poucas de que me lembro com maior clareza. Dessa vez resolvi registrar minhas impressões.

Lucília Rinco
Enviado por Lucília Rinco em 28/07/2012
Reeditado em 28/07/2012
Código do texto: T3802073
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