UM CORPO NO QUINTAL

Parecia que minha mãe estava enterrando um corpo no quintal. Mas já era de madrugada e ela não costumava aparecer essas horas. O tempo está frio. Ela não gosta de trabalhar... bom... ela não gosta do frio. Mas algo importante deve ter acontecido para que ela o tenha trazido para cá. Não é um bom momento para ela voltar, meu filho já irá nascer e nunca disse nada a meu esposo. Será um choque terrível. Ah, o que há de acontecer agora? Como ele vai reagir?

“Depois de um longo dia de trabalhos domésticos, ela prepara um jantar especial para ele. Comprou uma garrafa de vinho seco para acompanhar as pernas cerradas sobre a mesa de jantar, no meio, entre copos, pratos, talheres, guardanapos, purê, molho de chouriço. Mas a perna nem estava assada.

Ele chega sorridente. A vê arrumada. Havia uma tampa sobre a perna. Ela o abraça e pede para que se sente a mesa. Sentados, ela serve um pouco de vinho. Oferece a taça e brindam.

- Preciso lhe contar uma coisa. - Disse ela

- Conte querida, o que lhe aflige?

- É um segredo terrível, você não vai m perdoar. - Se vira.

- Nossa! Mas o que pode ser tão terrível?

- Eu tenho mais de 400 anos!

- Diga a verdade. - Pede ele.

- Tudo bem, 579, para ser exata... prometo não mentir mais minha idade. - Da um sorriso.

- Mas quem é você sua velha? Ahha, estou brincando... - Goza ele.

- Sou da família do mal, minha mãe é a coveira da morte, meu pai era do exercito.

- Do exercito?

- Sim, do exercito da morte. - Explicou ela

- Há, sim, mas e você?

- Meu tio avô foi Meistofeles e Satanás é meu tataravô. - Pausa - E o meu irmão é o Diabo.

- Quê? Meu cunhado é o Diabo? Que é isso? - Um pouco assustado. – Então você é quem?

- Não se preocupe, não sou ninguém importante, sou só uma coveira, mas ainda não está na hora de substituir minha mãe. Nesse meio de pessoas, as coisas são muito agitadas e por isso vivo por aquiem segrdo. Ai deu de nos conhecermos e aqui estou, só que, ontem vi minha mãe no quintal, de marugada.

- Mas o que ela estava fazendo lá de madrugada? - Diz espantado.

- Ela estava enterrando um corpo...

- Que é isso querida...? - Ele se levanta.

Ela se levanta também e poe a mão sobre a tapa da bandeja do centro da mesa:

- Nós também somos canibais... - E ergue a tampa.

Ele solta um urro:

- Que é isso? Vocês comem pernas? E crua? Toda cheia de sangue... - Diz louco

- Ela tem de ser flambada.”

Não, não. Acho que não é uma boa forma, talvez fosse melhor nem contar. Dorico vai nascer e não quero que ele tenha pés de bode ou qualquer outra forma, aqui. O melhor que tenho a fazer é partir e ter-lo onde ele deve nascer: com sua espécie, com o mal. São nossas raízes, é a nossa família. Somos do mal, mas os melhores. Só mamãe e eu que somos simples coveiras.

Vou me encontrar com ela.

“ Ela se levanta da ponta da cama onde estava sentada e sai pela porta, com seus longos cabelos negros e sapatos numero 46".

Ana Júlia Marcato
Enviado por Ana Júlia Marcato em 19/07/2012
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