A carruagem
Indrodução
O que é?
Este é um blog livro continuo simples com alguns textos livres escritos de forma linear e que acoplados formaram o reflexo de um sonho que tive onde nomeado foi de: A carruagem
Como Assim?
A ideia surgiu quando o autor(eu) teve um sonho estranho e tentou transcreve-lo alguns dias depois. Acreditando que escreveria em alguns minutos, nao conseguiu. A medida em que as lembranças surgiam as palavras multiplicavam-se e começavam a formar varios textos seguimentados. Então, logo, resolveu que vai sair escrevendo cada um destes seguimentos de forma continua sem preocupar-se em retornar para que encaixe forçadamente em algum contexto. Acredita-se que quando todos os pensamentos relativos estiverem em "papel", será mais facil a reflexão sobre..
Regras?
Como regra, e para não deixar que o transcrito torne-se um romance fictício padrão, cada capitulo sera escrito de forma direta e de unica vez sem pausar. Isso tudo para aproveitar ao maximo a mesma linha de lembranças, pois percebi uma vez que em momentos diferentes, quando escrevo do mesmo evento de lembranças surgem sempre novos fatos relevantes, mas estes quero cortar e resumir apenas no que é visto(lembrado) em primeira instancia.
Qualidade dos textos?
O autor não é um escritor profissional e ainda escreverá de uma forma continua, sem revisão textual. Tendo como previsão inicial a escrita em torno de 10 capitulos.
Muitos trechos poderão apresentar incorreções gramaticais e de concordancia, que serão ignorados. O intuido principal é de registrar o conto antes que se perca em esquicimento e talvez debater com outros que tenham passado por algo similar e que tenham interesse em compartilhar de suas interpretações.
Capitulo 1
Era uma manhã de primavera quando acordou Joana sentindo aquele gosto amargo na boca. O fel parecia oriundir-se das entranhas mais profundas de seu corpo palido adoecido após entrar na segunda semana febril. Impulsionada a não mais leitar-se apesar do corpo clamar. Caminhou-se à janela abrindo-a e deixou que o circular de um puro e frio ar das montanhas penetrasse pelas narinas invadindo seus pulmoes após uma inspiração lenta, mas forte e profunda.
Foi quando avistou ao longe uma carruagem que seguia vindo as pressas pela solitaria estrada de terra batida que ligava o centro da cidade a sua nada modesta propriedade. Uma imensa mansão aos moldes coloniais que isolava-se do mundo e repousava ao centro de alguns mil hectares de terras semi-virgens, onde largos descampados fundiam-se com fechadas e densas matas ainda pouco exploradas.
Lembranças de sua juventude quando corria com vigorosidade pelos jardins do bosque tornavam seus sentidos em alegria de outrora, mas logo era tomada pela angustia da agonia de sua solidão atual.
Tinha dias em que a depressão parecia controlar seus atos ao ponto de quase terminar com tudo fazendo-se sentir apenas mais uma unica e ultima dor. Porem, sempre por motivos desconhecidos ou talvez por contra-covardia, alguma mão divina parecia segurar lhe antes que a facada cortasse os pulsos. A imagem destes fatos traziam tantos calafrios que dificultava até o mais simples ato de respirar, que começava rápido e suave até transformar-se em ataques asmáticos crônicos. Um rápido giro nos olhos pelo quarto e encontrou rapidamente a lâmina afiada a sua espera numa cabeceira ao lado da cama. Um estranho laço magnético tencionava sua mão esquerda para com a faca ao ponto dela erguer-se à direção com um estranho sentimento em contra-gosto. O fel agora parecia escorrer lhe como baba..
- CARTA - gritou um mensageiro que chegara conduzindo a pequena carruagem de correspondências. Joana voltou seus olhos para baixo, fixando-se no envelope as mãos do entregador e a simples imaginação de o que ou quem seria a fez esquecer sua angustia e fantasiou algumas possibilidades enquanto rumava a receber o escrito..
Capitulo 2
A água gelada bateu bem forte na face do homem que dormia na calçada a frente do bar.
O despertar nada tênue provocou algumas batidas fortes de um coração meio fraco num peito magro e desnudo de Alcindo.
Uma forte ressaca comprimia lhe o cérebro e parecia pesar mais que tonelada. Seu olhar embaçado quase não reconheceu
o dono do bar que segurava um balde úmido de madeira rustica.
A medida que ia voltando a si, sentia que o liquido gelado que lhe molhava o rosto revelava-se com um conhecido aroma fétido
enquanto secava na pele com os raios de sol daquela estranha manhã.
O odor trouxera consigo uns lampejos de uma vaga lembrança da esbornia vivenciada em noite anterior, enquanto que o balde à mão do sujeito assemelhava-se com algum usado pelo mictório público.
Antes de balbuciar algumas palavras em reclamação, sentiu-se fraco e com fortes dores nas costelas que o limitaram ao arrasto, e rastejando
assim o fez saindo dali ao esbravejar de seu estranho agressor urinário.
Com sangue seco à boca e uma notória ardência em seus olhos, lembrou da aposta que perdera em jogatina e a chuva de socos e ponta pés
que caiam como uma tempestade torrencial que lhe varreram o magro corpo.
- Estou vivo? - Auto refletiu enquanto ergueu-se com dificuldade numa perna e puxando da outra, caminhou.
O sol que assolava a terra ardia também em sua testa, cozinhava seus pensamentos a ponto de sentir o borbulhar dos líquidos linfáticos de sua têmpora.
Enjoado, ansioso em vomitar, segurou na garganta enquanto pode aos movimentos leves involuntários até uma subida contração diafragmática mais forte.
Ao soluçar não conteve-se e vomitou inteira calçada de pedras, mas ao invés de algum alimento semidecomposto, somente um liquido acido que queimou lhe o esôfago
e manchou aquele chão claro com secreções estomacais. Na hora seus olhos arregalaram-se ao observar que parte da gosma que saíra misturava-se com um sangue escurecido.
Cambaleou pelas ruas sentindo uma fraqueza no corpo, escorando pelas paredes, seguiu por sete ruas até encostar as margens de um portal aberto de um pequeno estabelecimento.
Retirou do bolso de trás da calça um papel dobrado e ligeiramente amassado. Apos desdobrar, passou os olhos numa leitura bem lenta enquanto lacrimejava serenamente.
Respirou profundamente e esperou alguns segundos antes de entrar no estabelecimento, sentindo-se determinado como nunca.
Após alguns minutos lá dentro, saiu de bem devagar e ainda puxando muito de uma perna, caminhou por mais algumas ruas até parar numa larga praça onde estranhamente
estava deserta naquela incrível manhã de sol de primavera.
Sentou-se num banco de pedra que encontrava-se preso na estrutura que segurava as margens de uma riacho que cruzava, ele olhou para o azul do céu e ao ouvir os cantos dos pássaros voavam não muito longe, sentiu os largos trotes do cavalo que puxava a carruagem as pressas, cruzando a praça e o riacho por uma ponte de madeira, e seguiu para o norte por uma solitária estrada de terra batida.
Um leve sorriso surgia ao rosto enquanto acompanhava as galopadas que sumia ao horizonte infinito
Capitulo 3
Entre longos passos largos e firmes, Romão quase atropelou sem importar-se com as lamúrias dos pobres desgraçados que sobrevivem aos escarros da sociedade abastada. Seguido por sua única filha Isadora, uma moça cujos traços corpóreos lembram sua falecida de parto mãe, e com a personalidade firme e de arrogância e frieza aparente que todos dizem ter herdada do pai.
Eles ignoram os pedintes que erguem suas mãos sujas entre seus olhares aflitos em desespero da fome que lhes consome de suas miseráveis vidas quase esvanecidas.
- Essa gente parece se multiplicar a cada dia - Pensou Isadora enquanto tapava suas narinas ao passar por um canto onde os mendigos costumam defecar.
Foi quando seus olhos avistaram uma pequena menina aparentava no máximo ter uns três anos de idade. Estava sentava ao chão imundo e brincava com pequeno rato morto
como se fosse um brinquedo ou uma boneca de criança. Ela segurava-o pelo rabo e a balançava de um lado para outro, sorria e enrolava-o em seus pequenos braços,
aconchegando-o, acariciando seus pelos mortos e ninando-o como se fosse um bebê.
Nesta hora um pequeno tom de emotivo faiscou no coração da jovem moça, mas antes de ter o afago, o fogo apagou-se quando Romão perceberá o olhar sentimental
da filha para com os desgraçados e gritara em tom firme para que seguissem seus caminhos.
Isadora, sem hesitar, obedeceu ao comando de seu pai e trilhou a seguindo-o demostrando seu habitual semblante frígido, mas internamente, ela sabia que havia
sido tocada de alguma forma por aquela imagem consideravelmente inocente.
Iniciou-se com pensamentos comparativos onde ela não conseguia concluir a real diferença entre ela quando criança e a pobre menina. Não conseguia entender como
as injustiças do mundo e lembrava que seu pai sempre dizia que o mundo era assim mesmo. Alguns mandam e outros obedecem, Alguns vivem e outros sobrevivem,
Alguns matam enquanto outros morrem. Essas afirmações foram refletidas tantas vezes mas sem um entendimento maior, ja que sempre foram aceitas como apenas palavras e talvez não
tivera antes uma maturidade para digerir tais reflexões.
Mas aquela imagem da menina havia feito sim algum sentido. Ela sabia que de algum forma relacionava-se com as afirmações de seu pai.
Aquela pobre menina miserável que não tinha nada na vida, somente aquele rato que provavelmente ela matou para usar como brinquedo e ainda ela acredita ser um
bebezinho menor que ela. Era tão doce e bonito vê-la brincar de uma forma tão pura, mas ao mesmo tempo próximo a um bizarro de nausear quase.
Um eufemismo em seu pensamento paradoxal consumiu corrosivamente o seu interior, machucando a ponto de faze-la chorar, sem lagrimas.
Apos passar pelo ruas dos miseráveis e dobrar na esquina, eles chegaram a uma larga rua principal de movimento continuo, onde depararam-se com varias outras pessoas que seguiam o mesmo caminho comum. Todos estavam indo ao cemitério para velar a morte da filha mais nova do prefeito, que morrera de forma brutal enquanto passeava com suas irmãs mais velhas num pequeno parque um pouco afastado do centro, próximo aos limites da cidade.
Rumores de que algum animal circulava atacando aos arredores já corria entre os miseráveis que vivem as soltas em perambulo pela madrugada, porem, os influentes da cidade
só passariam a acreditar após a filha do prefeito ser esquartejada.
Após algumas investidas de caçadores pela mata, não foram encontrados nada além de algumas pegadas que revelavam tratar-se de algum animal de grande porte.
Dois dias após o ocorrido, encontravam-se todos indo para cemitério chorar pela morte da menina rica.
Isadora, quando percebeu que boa parte da cidade estaria indo ao enterro prestar condolências, imaginou qual seria o grau de importância se tivesse ocorrido com aquela
pobre menina que brincava de mamãe com seu ratinho. Foi nesta imaginação que ela perdeu-se nos pensamentos que intensificaram novamente para com a fragilidade dos desafortunados, até que surgiu um pesado sentimento de pena que forçou-a olhar para trás, e avistar na esquina que dobrara a pouco a pequena pobre parada em pé ainda segurando o bicho morto em seus bracinhos e com olhar visivelmente ativo e profundo buscando por Isadora, que parar, continuou caminhando a passos firmes seguindo seu pai.
Sentindo que seu corpo caminhava em sentido oposto ao de sua mente, Isadora sentia que cada passo que dava para frente com suas pernas, andava para trás em pensamentos.
A menina encolhia pelo afastamento físico, mas, porém, por alguma razão aumentava de tamanho como se aproximavam-se.
Chegou ao ponto de estarem tão longe que mal se via, mas tão perto a ponto de quase tocarem-se. Nesta hora a menina ergueu suas mãos pequeninas oferecendo seu rato e Isadora, que sorriu e inclinou-se para apanha-lo.
ISADORA - Gritou seu pai, puxando-a para trás. Uma carruagem passou as pressas pela rua e quase que a atropelou violentamente. Se não fosse o puxão de seu pai era morte certa.
-Onde esta com a cabeça menina? Você quer morrer? - Indagou seu pai, que recebeu de resposta um silêncio e um olhar vago de sua filha que observava desnorteada a carruagem
que voava velozmente sentido seu caminho de origem, passando pela pobre menina e virando na rua dos miseráveis. Este fato foi o bastante para ela abster-se das alucinações e lembrar-se que nesta bela manhã, bem mais cedo e antes de seu pai acordar, ela postara uma carta de havia estimado ser de "vida ou morte".
-Seria ironia morrer atropelada pela minha carta? - Refletiu enquanto sussurrava em tom quase não audível: - "Bom, agora já foi"
Um breve sorriso disfarçado revelou-se ao canto esquerdo de seus lábios secos enquanto continuava consigo em reflexão....
Capitulo 4
O cheiro fétido deste lugar que antes muito incomodava, agora parecia que era exalado de própria pele.
Ha alguns anos, chegava de uma cidade de interior e fugida de condições ainda mais precárias as vividas em estado corrente. Maria prostituiu-se por anos
até cair adoentada apos infectar-se com alguma bactéria degenerativa que começou comendo lhe a carne por de trás da pele de seu rosto liso.
Impossibilitada de continuar ganhando a vida com a venda de seu corpo, acabou por desgraçar-se ainda mais quando juntou-se aos miseráveis levando sua única
filha, Jasmim.
Mesmo tendo se deitado com muitos, Maria nunca teve duvidas de quem seria o pai da criança e apesar de nunca tê-lo procurado para dizer lhe que estaria prenha, ela acreditava
que nunca nenhum homem jamais aceitaria reconhecer uma prole gerada ao ventre de uma puta. Ainda mais tratando-se de alguém tão rico e influente numa cidade onde a reputação era mais importante do que a vida alheia.
Jasmim cresceu tão depressa que parecia desafiar as leis do tempo. Quatro anos haviam se passado desde que viera ao mundo e era notório observar sua inocente
alma ao olhar fixado através do fundo de seus profundos olhos quase esféricos de um negro brilhante que sempre reluzia. Sua pureza de criança ainda não absorvera
sequer alguma malicias afastando-se de qualquer ato repulsivo pelo qual adultos teriam com veemência.
Quando Maria adoecera, todos os que a procuravam fazendo juras de amor pela sua beleza exorbitante afastaram-se deixando-a para morresse ao relento. Como agora no lugar de um rosto bonito encontrava-se apenas uma face deformada em perebas. Ela refugiava-se numa espécie de toca feita de madeira e papelão na rua dos miseráveis e avizinhando-se com outros desgraça-dos que não mais pareciam lutar pela vida e de certo almejavam apenas que a morte chegasse breve, mas indolor.
Quase todas as noites falecia algum mendigo daquela pequena comunidade de rua. As vezes até grandes lotes eram dizimados pelas baixas temperaturas da madrugada.
O pobres haviam se instalado naquele ponto da cidade ha muito tempo, e pelo fato de ser uma das principais vias de passagem que interligava dois polos da cidade, era muito comum que pedestres passassem por ali diariamente. Então, ficava sempre a cargo dos pedestres de rua alertar a prefeitura quando o mau cheiro tornava-se insuportável. Este era o principal indicativo de que havia morrido mais alguém. Era acionado então a equipe de limpeza de lixos públicos para a remoção dos cadáveres apodrecidos.
Todos os que morriam eram jogados e empilhados dentro de uma vala reservada ao final do cemitério, mas nunca eram enterrados. Era de praxe esperar que se acumulassem ao máximo para então crema-los de única vez, economizando assim com óleo e madeira.
Todas as manhãs, Maria acordava sua filha para que saísse da toca para calçada, onde permanecia a brincar e esperasse alguém passar, ela sempre pedia dinheiro e comida, do jeito que fora ensinada pela mãe. Porem, naquela manhã, a jovem criança acordou sozinha e percebeu que sua mãe ainda adormecida, deixava que um rato lhe mastigasse o rosto. Um sangue negro que saia era então sugado pelo pequeno roedor enquanto a menina permanecia observando e sem entender o que de fato acontecia e o porque sua mãe não se levantava.
O rato fartou-se até onde pode e seguiu saindo da toca de Maria até a calçada, caminhando lentamente. Seguido por Jasmim, o bicho continuou até parar perto de uma arvore
onde regozijou sangue, e após umas cinco ou seis voltas em torno do próprio eixo, ele caiu morto.
Sem hesitar, Jasmim pegou o roedor com suas mãos e sentindo o calor emanado pelo corpo desfalecido, ela abraçou-o no intuito de aquecer-se. Enquanto acariciava-o, ela observou duas pessoas que passavam pela calçada ao seu lado. Apressando-se em se preparar para pedir comida, ela hesitou quando fixou seu olhos numa jovem moça bonita de vestido claro que seguia. Uma felicidade rapidamente tomou conta de seu coração fazendo-a se esquecer de falar o que havia sempre pedido neste momento.
Jasmim acompanhou a moça que caminhou até quando ela dobrou na esquina, sumindo. Aflita, a menina correu atrás da moça virando também na esquina, parou e continuou observando-a enquanto ainda segurava com força o pequeno rato morto.
A medida que a moça afastava-se, Jasmim entristecia até que uma felicidade súbita retornou ao tempo em que a moça olhara para trás. Ela sorriu para a moça por um curto período de tempo até que uma angustia no seu coraçãozinho a fez dizer: - Mamãe -
Uma carruagem, cruzou pela moça e veio seguindo as pressas dobrando na rua em que morava Jasmim. Ela virou-se acompanhando-a até quando parou exatamente em frente do local onde ela e sua mãe moravam. Um homem vestindo roupas negras desceu gritando alguma palavra em tom firme até que um dos vizinhos apareceu levantando-se de uma pilha de lixo a apontou para o buraco onde Maria dormia.
As lagrimas corriam os olhos de Jasmim enquanto lembranças de quando homens de roupas pretas chegavam , eles sempre levavam os apontados embora. E eles nunca mais eram vistos demovo. Ela um dia ouviu sua mãe dizer para outra criança que eram anjos que vem levar as pessoas boas para um lugar melhor. Neste dia o pai daquela criança nunca mais apareceu.
Tudo indicava que havia chegado o dia que sua mãe iria para outro lugar, levada por anjos.
Mas Jasmim largou o rato morto ao chão quando o homem saiu de dentro de sua casa balançando a cabeça ao sinal de negativo.
A menina viu também que o mesmo vizinho que apontara sua casa, agora entregava uma carta ao homem de roupas negras e apontava em sua direção. Permanecendo imóvel e aos prantos, ela pensou aflita: - Mamãe.
..Algum tempo depois, a carruagem seguia seu destino pela rua dos miserável sentido praça da cidade ao norte.
Capitulo 5
Pequenas larvas esbranquiçadas alimentavam-se de uma carcaça humanoide já irreconhecível. Centenas de pulpas rodeavam o corpo apodrecido, formando um aglomerado nojento de viscosos casulos em iminente eclosão. Fato este que geraria um acumulo significativo ao volume da presente nuvem de varejeiras que em sincronismo, lançavam uma substancia corrosiva sobre orgânicos, liquidificando-os para então conseguirem a ingestão.
Este conjunto de imagens, como um filme, corria a uma velocidade constante e parecia loopar-se ao final de cada minuto aos olhos de Jacir. Um pobre homem que um dia fora um senhor respeitado e possuidor de uma fortuna proporcional aos milhares de hectares de terras férteis ao qual lhe pertenciam.
Casado com Helena, a mulher mais bela e cobiçada da região. Jacir gozava de ostentações nas formas mais hiperbólicas, comprando as joias mais caras e importando roupas e tecidos de todos os cantos do mundo. Contratava sempre os melhores profissionais para que deixassem sua esposa na forma mais impecável sempre. Seus longos e lisos cabelos loiros sequer precisavam de algum tratamento, mas mesmo assim, Jacir gastava uma fortuna para que alguém cuidasse. Não era menor o dinheiro empregado para com o cuidado com a pele macia e lisa e como o tom aproximava-se ao rosado, mais assemelhava-se ainda com um recém nascido bebe. Algumas pessoas acreditavam que ela não era real e que haviam inventado uma forma de darem vida a bonecas ou que a própria Afrodite Vênus encarnara naquela beldade divina.
O que mais Jacir gostava era de ouvir os comentários na rua dizendo que sua esposa era a mais bela do mundo. Quanto ele mais ouvia, mais satisfazia-se em plenitude, fazendo-o chegar em casa com tanta voracidade que lembrava ao leão em caçada na relva. Ele Tomava sua mulher aos braços, mas no lugar de pegadas firmes, suavidade. Como se manuseasse um cristal bem fino e de fragilidade extrema, ele a alisava com a ponta dos dedos quase sem tocar, não queria deixa-la com nenhuma marca aparente na pele. Ele iniciava despindo-a lentamente, apreciando cada curva daquele belo corpo e percorria com seus quase não toques de ponta de indicador, navegando, mergulhando na fantasia de possui-la, se imaginava esbaldando-se naquela pele macia de perfume doce e de suavidade angelical. Depois corria as mãos pelos longos cabelos começando por cima e descendo até o encontro dos seios médios.
Como esmeraldas brilhantes, os olhos dela clamavam quase em suplica para que a possuísse, lhe consumisse, que penetrasse em seu corpo com muita força e virilidade. Ardia como brasa por um fogo invisível, mas que queimava ao mais leve toque. Ela podia até ouvir os sinos e o soar das trombetas que ecoavam-se de um além infinito e que descia pelos céus como uma onda sônica celestial que estava preses a vibrar sua alma fazendo-a explodir em prazer. - Vem - ela dizia ao seu homem, que continuava aos movimentos circulares com dedos pela sua pele. Sempre que passava na região lombar, excitava-se, porém, retornava aos mãos em subida, relaxando seu membro para que um gozo espontâneo não estragasse aquele momento mágico de apreciar. Mas nunca conseguia suportar mais do que alguns segundos. Antes que pudesse consumi-la de verdade, ele explodia ao gozar deixando-a
ao desejo solitário.
Por fim, Jacir acreditava que a satisfazia por completo. As suas fantasias eram tão reais que ele acreditava que de fato havia acontecido um contato carnal voraz, mas tinha medo de que deixasse marcas no seu belo troféu. Então, em mesmo dia envergonhava-se de tê-lo feito o que não havia de fato realizado, mas no dia seguinte renovava suas forças e nas ruas saia para ouvir os comentários sobre sua bela mulher, que quando começavam a cessar, era motivo para que comprasse novas joias ou roupas das mais exóticas possíveis. O importante era estar em evidência.
Um certo dia, chegando em casa, percebeu que a porta estava aberta. Estranhou o fato, mas entrou sorrateiramente, sem alarde. Caminhou até o quarto e percebeu que sua mulher estava deitada nua na cama de costas. Apressou-se a entrar gritando, mas não havia ninguém, somente ela que permanecia deitada e parecia ignora-lo. Sem entender, ele a virou e assustou-se ao perceber as fortes marcas rochas no pescoço e a palidez na face reproduziam o sinal de um estrangulamento brutal.
As marcas de sangue na cama brotavam dos órgãos vaginais de Helena e relevava os claros sinais de estupro. Em estado de choque, Jacir caiu sentado e não conseguia sequer sentir ou chorar. Apenas permaneceu paralisado por algumas horas até levantar-se mantendo sua mente completamente vazia. Ele saiu de casa e caminhou na noite sem rumo, mas andando em círculos. Até que seguiu numa única direção onde foi até que amanheceu o dia, mas ele não parou. Continuou cainhando quando anoiteceu o outro dia, e ainda sim ele continuou a caminhar. Sem parar e sem pensar, ele apenas caminhou para frente e sempre olhando ao horizonte. Até que caiu no chão quando suas forças não mais o conseguiam mantê-lo de pé. No chão, continuou focado ao horizonte e rastejou naquele caminho. Foi quando notou que a imagem de Helena era vista como um arco-íris que cruzava o céu a partir da linha ao seu extremo ponto de visão. Ele parou e começou a chorar lagrimas secas de um corpo desidratado. Deitou de costas para o chão e permaneceu chorando olhando para o imenso azul do céu. Colocou a mão no bolso com o intuito de retirar uma fotografia de Helena, mas percebeu que havia uma carta escrita em papel dobrado. Estranhou, mas desdobrou o papel e leu em balbuciar baixo. As letras pareciam dar lhe forças quando ouviu alguma voz gritar pelo Helena. A voz foi ficando cada vez mais forte até que o despertou de uma espécie de transe.
Com olhos semi-embaçados, Jacir observava a imagem de Helena nos céus. Era para onde apontava com a ponta de seu indicador com uma das mãos e segurava uma carta com a outra.
Uma carruagem estava parada ao seu lado enquanto um homem vestido de roupas negras gesticulava e repetia em tom firme o nome de Helena. Sem pensar e amedrontado, Jacir entregou ao homem a carta e apontava na direção da imagem de Helena, mas sem conseguir falar uma palavra sequer. Somente permaneceu apontando ao horizonte enquanto a carruagem seguia o mesmo caminho, sumindo ao cruzar a linha que servia como base, a imagem celeste de Helena.
Capitulo 6
Bela! Bela! Bela! Era o jeito de ser chamada pelo pai aquela linda menininha de olhos esverdeadamente reluzentes e que adorava passear nas manhãs ensolaradas pelos campos e jardins floridos que enfeitavam e perfumavam aquela pacata cidade.
Em época, ela repousava abaixo de uma linda macieira onde do fruto fresco saboreava sugando lhe o doce que adocicava ainda mais a vida perfeita daquela a qual ninguém duvidava que nascera para brilhar.
Desde muito nova, Helena sabia que era diferente. Seu corpo desabrochara ainda quando tinha nove aninhos e suas curvas ja eram notadas não somente pelos meninos ao qual convivia em vizinhança, mas também pelos velhos adultos que já cobiçavam de forma implícita, aquela carne jovial.
Quando fez treze anos, seu pai lhe deu de presente de aniversário um vestido mais curto do que o usual. Ele adorava vê-la usando e pedia para que dançasse girando o corpo feito uma bailarina. Era permitido que ela usasse somente dentro dos limites das paredes de casa. Era proibido que ela saísse sozinha e muito menos que usasse aquele vestido que chamaria certamente a atenção dos urubus pousavam sempre a frente de sua casa a espera de oportunidades.
Era de costume Helena ouvir seu pai dizendo que mulheres não deveriam vestir-se como vadias evitando assim de serem estupradas. De certa forma esta era uma lição que ela custava a entender pois o próprio pai lhe induzia a isto. Mas não demorou para que este aprendizado fosse absorvido na forma mais dura possível.
Certo dia, apos a insistência de seu pai para usar o vestido enquanto ele esbaldava-se em talagadas de uma aguardente feita a base de arroz, pode-se observar a transformação de quem era tido como herói em monstro irracional. Ele enlouquecido tentou lhe arrancar o vestido num desespero frenético e ameaçador. Assustada, chocada e acuada, ela sedia lhe ao toque enquanto ele salivava e lambia lhe o rosto, o pescoço e arranhava com sua barba por fazer. Apertava machucando-a a pele como um animal no cio.
Segurando os lábios de Helena para que não gritasse, ele arrancou violentamente rasgando lhe a roupa enquanto já preparava-se com seu membro enrijecido a amostra para penetração em própria prole. Foi quando ouviu-se um tiro que acertou lhe de raspão a nunca fazendo-o sangrar, forçando-o a sair de seu transe animalesco.
Fixando seus olhos lacrimejados na origem do tiro, Helena observava sua mãe, enquanto empunhava uma carabina que ainda esfumaçava-se na ponta. - ANIMAL - Gritava nervosa e, expulsando-o de casa em seguida, somente como roupa de corpo.
Antes mesmo que amanhecesse o dia, Helena e sua mãe mudaram-se as escondidas e viajaram para uma cidade distante, hospedando-se na casa de uma meia tia que nunca houvera sido apresentada ao seu pai.
Apos alguns anos, aquela menina bonita havia transformando-se numa bela mulher que esbanjava sensualidade, mas com uma certa inocência tímida de menina. Era como se as marcas de seu passado a impedissem de sorrir por completo. Era sempre um sorriso meio travado, pela metade. Parecia nunca estar feliz.
Certa vez, enquanto rumava a uma pequena venda que situava-se próximo a sua residência, Helena, foi questionada por um homem que pedira informações de onde localizava-se a prefeitura da cidade. Não demorou para que ela percebe-se a familiaridade daquele rosto que lhe falava e notou uma reciprocidade antes das interpolações.
-Helena - Disse ela - Jacir - Disse ela. Ambos dizendo praticamente ao mesmo tempo em tom de espanto. - Como você cresceu! -
Helena e Jacir eram avizinhados quando criança, moravam na mesma cidade e estudaram na mesma escola. Ambos foram apaixonados à época, mas Jacir nunca tivera coragem em dizer. Todos os seus amigos sabiam e diziam uns aos outros que era certo que um dia ficariam juntos. Era só uma questão de tempo para que revelassem um ao outro.
Um dia Jacir permaneceu o dia inteiro pensando nas palavras certas que diria a Helena, mas não conseguiu dizer nada na hora. Ficou travado e olhando embasbacado para a beleza facial da menina. Ela, por sua vez, esperava somente que ele dissesse alguma coisa, um simples oi já seria suficiente. Mas como o menino não dissera nada, ela também avergonhou-se e se acanhou.
No dia seguinte o menino foi para escola tomado por uma grande coragem. Desta vez estava disposto a falar o que sentia. Ele colocaria seu coração para fora e ofereceria como um presente. Era necessário fazer pois aquela situação estava tão insustentável que chegara ao ponto de nem conseguir mais estudar ou sequer alimentar-se. A única coisa que fazia era pensar naquela menina bonita. Aquilo já havia virado uma obsessão doentia e ele já sentia isso. Precisava falar algo. Então, naquela manha, Jacir chegou determinado na escola. Nada o impediria desta vez. Não se acovardaria novamente. Seria naquele aquele dia o momento certo de dizer.
Quando chegou na sala de aula, percebeu que Helena havia faltado. Como sabia onde ela morava, ele pensou em ir na casa dela depois da aula. Desistiu pois não teria argumentos e resolveu esperar até o dia seguinte.
Tomado pela mesma coragem do dia anterior, com determinação ele foi para escola e frustrou-se quando não encontrou a menina. Resolveu seguir para casa dela depois da aula, pois como não era uma menina que costumava faltar, ela de certo Deveria ter se adoentado. esta SERIA uma boa oportunidade para visita-la.
Chegando a casa de Helena, Jacir logo estranhou percebendo que estava tudo trancado. Tentou chamar por Helena, depois gritou enquanto ninguém aparecia. - Devem ter viajado - pensou tristonho, enquanto desistia e seguia para casa.
Tendo dificuldades em dormir novamente com seus pensamentos na menina, arrastou-se a noite que parecia não acabar nunca. Até que quando amanheceu ele levantou-se rápido e saiu. Ao invés da escola, ele seguiu direto para casa de sua amada e percebendo que ainda não havia ninguém, sentou-se ao meio fio e esperou por algum tempo. Ficou esperando pela manhã inteira até que se iniciou a vespertina. Esta passou mais rápido ainda do que aquela ligeira manhã.
Quando a noite estava prestes a cair, uma mulher aproximou-se dele dizendo que o observara o dia inteiro parado ali. Ela era vizinha de Helena e dissera que ouvira um tiro de madrugada e uma feia discussão entre os pais da menina. O pai havia saído sozinho naquela mesma noite e mãe e filha haviam se mudado as pressas, despedindo-se apenas de alguns mais chegados da vizinhança.
Como ninguém sabia para onde haviam se mudado, aquela situação batera como um golpe que arrebentava dilaceradamente o coração do pobre menino apaixonado. De fato ele acreditava que nunca mais encontraria a mais bela menina do mundo novamente.
Desta vez não demorou muito tempo. A terceira palavra daquele homem para Helena depois do reencontro já foi uma grande declaração de amor que estava presa desde dos tempos de menino. Helena, que nunca o esquecera, carregava consigo um grande afeto e amoleceu-se. Sem hesitar, aceitou entregando-se aos braços daquele declarante apaixonado. Após algumas horas trocando conversas e caricias, eles resolveram que a melhor forma de recuperar todo aquele tempo perdido era casando-se.
O retorno para a terra natal de Helena aconteceu de forma natural, já que Jacir residia numa nobre mansão após enriquecer subitamente
capitulo 7
Com mais de noventa por centro de aprovação popular, Romão se elegeu após um árduo ano de campanha eleitoral. Seu oponente, um rico contraventor de oposição que tentara comprar votos oferecendo comida aos miseráveis, havia sido esmagado em urnas. Isto por que as vésperas fora noticiado em canais públicos que centenas de pessoas haviam adoecido por alguma espécie de intoxicação alimentar crônica. Mesmo negando culpa, o politico tivera que fugir para não ser linchado pela massa enfurecida.
Administrar uma prefeitura de pequena cidade não era uma tarefa tão fácil como imaginara em tempos de candidatura. Diariamente, o trabalho que consumia boa parte do tempo de Romão, forçava-o a abster-se em dedicação para com a mulher e sua única filha, Jasmim. Uma menina linda que encontrava-se ao auge de sua adolescência e precisava muito dos conselhos do pai nesta fase de tamanha insegurança e muitas descobertas.
Preocupando-se mais com a opinião dos outros do que com o rumo de própria vida. Jasmin era, de certa forma, facilmente influenciável por opiniões que lhe fizessem estabelecer-se ao ápice de sua popularidade. Uma vez que era provida de uma beleza exorbitante que atraia a atenção de todos os meninos da cidade. Ate os mais velhos a observavam deixando suas mentes fantasiar ao caminhar daquele menina que vinha em passadas provocante.
De roupas bem justas ao corpo, Jasmin exibia-se numa sequencia de um rebolado bem suave, que revelava suas curvas definidas e perfeitas de uma já mulher. Aguçando desejos e inspirando poetas. Mas despertando a inveja de meninas e mulheres que disfarçavam seguindo-a aos olhares enquanto compartilhavam de um único pensamento: -Vadia.
De fato, Jasmim era uma exibicionista nata. Ela adorava estar sempre em foco e precisava muito dos olhares daqueles pessoas na rua para sentir-se viva. O dia que ela não tinha isso, frustrava-se tomando-se por um mau humor que arrastava-se até o próximo dia. Quando ela voltaria a desfilar nas calçadas e praças sempre movimentadas, em busca daqueles que lhe admirassem, lhe desejassem. Certo dia, quando ia para escola pela manhã, ela resolveu passar pela praça onde alguns velhos aposentados estavam sempre a prosear. Desabotoou afrouxando o uniforme escolar esboçando um ingênuo decote que relava o inicio das curvas perfeitas de um volume mediano que mal escondia-se atrás daquela transparência de camiseta branca. Provocante, ela selecionou um alvo do mesmo jeito que um predador escolheria sua presa. Aproximou-se com olhar fixado aos olhos da vitima enquanto mordia levemente seus carnudos lábios molhados. Pediu alguma informação inútil enquanto observava a reação do atacado e divertiu-se ouvindo uma resposta mais sem sentido do que a sua própria pergunta. Depois despediu-se saindo a caminhar com seus habituas movimentos pélvicos sensuais acompanhados de então muitos olhares desejosos. Ela agradeceu pela ajuda primeiro com palavras explícitas, e depois em pensamentos por sentir-se viva mais um dia. Apos, seguiu para escola como de costume na intensão de continuar sua vida. Porém, enquanto caminhava pelas ruas rumo ao seu não muito longe destino, iniciava a refletir no que acabara de fazer. Duvidava se as suas atitudes haviam sido corretas. - O que será que aquele senhor pensou de mim - Pensou em voz alta enquanto entre olhava-se com um pequeno bebe de colo que inclinava-se para traz aos ombros de uma senhora que cruzou lhe a frente na calçada de pedra. Com grandes olhos negros arregalados, o menininho parecia encara-la seriamente enquanto ela seguia-o a observar caminhando atrás daquela senhora desconhecida. Após alguns poucos passos, ela acenou com as mãos na tentativa de brincar fazendo-o sorrir, mas não conseguiu. Tentou fazer palhaçadas e caretas que também não surtiram efeito algum. Até que, desacreditando-se, teve uma ideia louca de fazer uma cara sensual de como se fosse seduzir o bebe. Na hora ele esboçou um leve sorriso.
Assustada, ela parou de pé como uma estatua e olhou para uma vidraça de um estabelecimento que refletia sua imagem. Permaneceu por alguns minutos observando-se até que virou-se para frente e seguiu num próximo passo enquanto dizia: -Vazio.
Jasmin começava a ter um sentimento estranho que aguçava a cada passo de seu caminhar. As pessoas que ela observava nas ruas agora estavam diferente. Seus olhares, que antes a acertavam como pétalas de flores lançadas, agora batiam como espinhos que furavam a pele, feriam o corpo e faziam sua alma sangrar. Envergonhou-se, enquanto o rebolado sedutor de outrora transformou-se num caminhar quase robótico ao tempo em que suas expressões sensuais que mantia ao rosto deram lugar a um semblante fechado, tristonho e friorento. Foi assim até chegar na escola, onde sem falar com ninguém, sentou-se na ultima carteira, ao lado de um menino magricela que ela sempre desprezava por ser o único que não a elogiava explicitamente em publico. Todos, incluindo o professor, olhavam para o estranho comportamento dela, já que sempre chegava bem humorada e sentava-se a frente da turma. Após perguntada pelo professor se estaria tudo bem, ela simplesmente mexeu a cabeça em sinal positivo, calou-se e permaneceu a observar o quadro negro ainda vazio. O silencio quebrou-se em seguia quando iniciou-se, entre os alunos, um cochichar que mais parecia um zunido de insetos voadores quando passam ou rodeiam próximo ao canal auditivo, gerando aquele incomodo em agonia que naquele instante persistia por milênios dentro da cabeça de Jasmim. Esta situação piorava levando-a quase ao ponto de explodir, quando acabou sendo salva pelo mestre que abruptamente iniciou em tom firme a leitura da aula que de longe não estava sequer próximo de ser ouvida por ela. As palavras entravam por um de seus ouvidos, inabsorvivelmente rodeavam seu cérebro vazio até ecoarem saindo do outro lado. Não estava com a menor intensão de permanecer ali por muito tempo, mas também não sabia para onde ir, ou o que fazer. Olhou para o lado e encontrou o rosto daquele menino que até então era um desconhecido. Permaneceu olhando fixamente até que ele percebeu encarando-a de volta. Ele trincou-se num semblante assustado quando arregalara os olhos para com a atitude da garota. Ela continuava observando-o em silencio enquanto ele correspondia não desviando o olhar. Permaneceram por alguns minutos assim, somente olhando-se. Até que ela quebrou o gelo perguntando - Qual é seu nome? - Alcindo - ele respondeu.
Jasmim voltou-se a olhar para o vazio do quadro negro, retirou um lapis e começou a escrever numa folha solta de caderno. Desenhando letra a letra que interligavam-se em aglutinações inespaçadas quebrando somente ao final de cada linha. O conjunto de palavras sobre postas e desconexas surgiam aos montes formando frases complexas de uma linguagem singular. Aos olhos de quem nao via, o escrito era de certo um transcrito. Copiado de fatos transpassados ai vazio daquele negro quadro vazio.
Não demorou muito tempo para que Jasmim pedisse licença ao
mestre e ausentando-se com a desculpa de ir ao banheiro, seguiu direto para fora da escola. Cruzou os portões as pressas segurando a folha de papel dobrada em tres. Parou ao meio fio e arregalou os olhos observando um garoto parado e sorrindo do outro lado da rua larga. - Alcindo? - Balbuciou enquanto uma carruagem cruzava lentamente a rua e parava bloquendo sua observancia anterior..
..continua em breve..