NA CALADA DA NOITE
Os dedos pousavam sobre as teclas do órgão.
Cada nota ressoava na imensa sala.
Na calada da noite o olhar ausente da bela mulher.
Parada, ela esperava cada som repercutir.
Só um pensamento lhe chegava: partir.
Mas para onde ir?
Tudo fora em vão. Todos os seus sonhos estavam caídos no chão.
A longa camisola de flanela a cobrir o corpo magro demais.
Ainda havia beleza nos traços delicados.
Partir... ir...ir...
Buscar a morte? Não...isto seria covardia.
Viver sem alegria?
Fechar o instrumento musical... Esquecer... Ganhar a rua.
Mas...de camisola? Sabia que se subisse a escadaria para se vestir, desistiria.
Encaminhando-se até a vidraça ficou a olhar uma lua pálida que dava um ar nostálgico ao seu pequeno jardim.
Uma idéia fixa aquela: Partir.
Longe; como dois faróis, os olhos de um gato, brilharam no escuro.
Neste instante o coração já virava um bumbo no peito.
Seria o gato de Marco? Ele teria voltado?
Marco! Marco!
As mãos se contraíam antes de chegarem ao peito.
Uma dor lancinante...
Não!!! Não!!!
Ela queria chamar pelo seu amado, mas a dor a emudecia.
O corpo escorregava, descia, descia e no chão se estendia; ao mesmo tempo que o gato a alcançava.
O dono um pouco atrás o acompanhava e corria para a mulher caída.
Ela já estava sem vida...