Segunda-feira

Segunda-feira, 15h45min

Querido diário,

Esta foi uma segunda-feira normal, porém, significante. Algumas coisas estavam diferentes se comparadas a semana passada, a anterior e todas as outras. Primeiramente devo dizer que, no domingo, fui dormir estranho. Sei que já sou estranho, mas algo de diferente estava no ar. Sabe quando você vai dormir e as coisas parecem embaraçadas, difusas ou fragmentadas? Então, era assim que o ambiente aparentava estar.

Demorou até a chegada do sono, experimentei diversas sensações enquanto ele não vinha. Uma delas foi a de estar me sentindo em uma espécie de disco de vinil gigante que rodava sem parar. Outra foi sentir minha cama levitando, como se fosse um daqueles shows de ilusionismo. Nada surpreendente, pois já havia passado por isto quando pequeno. O que realmente me deixou pasmo, foi o fato de eu me sentir entorpecido. Mas não só, também me sentia como se houvesse tomado dezenas de pílulas de remédio. Meu corpo estava completamente fraco e frágil. Não conseguia mover um músculo sequer. Apaguei.

Acordei uma hora antes do horário previsto no despertador. Levantei, tomei um longo banho. As finas gotas de água desciam em grande quantidade, fazendo os pelos do meu peitoral brilharem. Não eram muitos, mas também não eram poucos. Não gosto do meu corpo. Nunca gostei de nada em mim.

Vesti-me, preparei um café com pão, mortadela e queijo. Assisti o noticiário local, passava tragédia. Normal. Tinha um cara de terno falando sobre violência nas escolas. Peguei a mochila e fui. Estava todo de preto, era habitual para mim. Preto sempre foi a minha cor. Representava minha alma. A essência do meu ser.

E a segunda-feira se tornou mais estranha ainda quando percebi que Ricardo não me olhava torto e nem fazia piada alguma, quando passei por ele, baixou os olhos. Sorri. Patrícia e suas amigas vadias ficaram quietas. De cabeça baixa também. E Gustavo, o cara que eu mais detestava na face da terra, simplesmente correu quando me viu. Dava altas gargalhadas, afinal, quem sempre correu fui eu. Cheguei a sentar no chão e rir, sem parar. Todos tinham medo de mim agora, era isso? Qual seria o motivo? Não pensei mais, apenas segui para a sala de aula. Quando estava voltando para casa, imerso em meus pensamentos, conclui que uma bala no crânio muda completamente uma pessoa. Viva ou morta.

Walter Frank
Enviado por Walter Frank em 26/06/2012
Código do texto: T3745008
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