Sonho
Alicia acorda com os primeiros raios de sol aquecendo o seu quarto. Sai da cama com a felicidade beliscando até mesmo sua alma, afinal, estava em férias e tinha alugado um chalé, para um final de semana, nos confins das matas de Petrópolis.
Depois de um banho pouco demorado, Alicia coloca as duas bolsas de viagem no carro e pega a estrada, rumo à cidade serrana. Atravessa o trânsito arrastado da Linha Vermelha e pega a Rio- Petrópolis. Uma hora depois, Alicia chega ao tope da serra, estaciona para um lanche rápido, porque havia comido apenas uma fruta, antes de sair da Tijuca.
Alicia retoma o seu destino. Pega a 040 cheia de expectativa. Seriam três dias de descanso no mínimo prazeroso, em companhia de seus livros, sem contato algum com o mundo.
Alicia avista o retorno, que a levará a Araras. Atravessa-o... Após uma hora dirigindo por uma estrada sinuosa e úmida, por conta do verde intenso ao redor, Alicia vê o chalé todo em madeira. Estaciona o carro... Pega as bolsas e a chave da casa. Abre a porta, coloca as bolsas na sala, respira fundo e sorri toda descontraída. O ambiente aconchegante ornado por móveis rústicos, lareira e cortininhas de renda lhe enchem de encantamento.
Alicia abre uma pequena valise e tira alguns livros... Coloca-os na mesa de centro, feita de tronco de árvore e tampo de vidro. Pega as duas bolsas de viagem e leva para o quarto, no andar de cima. Abre a única porta do pequeno corredor e se depara com uma cama de casal em madeira toda trabalhada. Abajur sobre o criado mudo, cômoda e guarda roupa em estilo colonial. Alicia segue em direção ao banheiro, todo em branco, com uma banheira estilo século XIX.
Alicia volta para o quarto e corre até a janela, rindo feito criança que acabara de ganhar o brinquedo de seus sonhos. Abre o cortinado de renda e se depara com uma porta e uma varandinha. Alicia apoia os cotovelos no beiral de madeira e atenta para o colorido das plantas, que enfeita o gramado do pequeno jardim. Novamente sorri e prende a atenção ao som do silêncio, interrompido vez e outra pelo canto distante de alguns pássaros.
Alicia encara a floresta fechada bem a sua frente e sente arrepios. Atenta ao entorno, certifica-se que a solidão daquele paraíso é um convite não só à paz, mas, também, ao medo. Alicia balança a cabeça, a fim de jogar os prováveis pensamentos negativos no lixo de seu cérebro, afinal, está como sempre sonhou, em contato com a natureza e consigo mesma.
A mulher olha o relógio de pulso... A tarde está chegando bem lenta, e com ela o russo e o frio da serra. Alicia fecha a porta balcão e volta para a sala. Tranca a porta, que ainda estava entre aberta, depois vai para a cozinha preparar o seu jantar. A despensa e a geladeira estão lotadas, exatamente como havia combinado com a corretora de imóveis. A mulher prepara um espaguete ao molho vermelho e coloca uma garrafa de vinho na geladeira. Certifica-se de que as janelas e portas estão realmente trancadas e vai para o quarto. Desfaz as bolsas e guarda suas roupas nos devidos lugares. Pega uma camisola longa, em malha, de mangas compridas e vai para o banheiro. Enche a banheira e acrescenta algumas gotas de essência de rosas. Alicia tira a roupa, prende os longos cabelos e entra na banheira de água quentinha. Após o banho, coloca a camisola e desce as escadas, cantarolando a música de sua vida, como tem o hábito de dizer aos colegas de trabalho – Stand By Me. Vai à cozinha, pega o jantar e uma taça com vinho, e vai para a sala. Após saborear o espaguete, a mulher pega um de seus livros – A Menina que não sabia ler – e vai para o quarto. Acende o abajur, se deita e abre o livro...
A noite está alta, envolvida ao som de insetos e à luz natural dos vagalumes.
Alicia houve ruídos insistentes. A mulher sai da cama e vai para a varandinha de seu quarto. A noite está clara, por conta da contribuição da lua. Tudo está quieto. Alicia olha para a mata... Sente o coração acelerar. A mulher volta para o quarto, pega uma lanterna na gaveta da cômoda e desce as escadas. Acende a luz e abre a porta. Aponta a lanterna para a entrada da floresta... Descalça, e sem saber o porquê, caminha naquela direção.
A cada passo entre as árvores o coração parece bater na garganta, mas ela não desiste, não retorna para a segurança do chalé. Os únicos sons que ouve são o som da noite e o de seus pés em folhas secas. Alicia não para de caminhar, e se afasta ainda mais... Em dado momento, ouve ruídos estranhos. Olha ao redor e o medo domina todo o seu corpo. As árvores escuras e altas pareciam dar-se as mãos, a fim de impedir que ela voltasse para casa. Trêmula dos pés à cabeça, Alicia aguça a audição e os ruídos estranhos parecem mais próximos. A fim de se defender, não faz ideia do quê ou de quem, ela encosta o corpo em uma árvore. O ruído se transforma em passos lentos, mas fortes... A mulher prende a respiração. De repente, Alicia ouve o próprio grito ecoar entre a mata. Um par de olhos mel-avermelhado está próximo de seu rosto. Ela sente a respiração ofegante e o odor da noite. Alicia respira forte e sussurra clemência. Um facho de lua atravessa a copa de uma árvore. Alicia enxerga o ser... A criatura toca o corpo dela com mãos sedentas. Ela tenta fugir, mas não consegue. Ele segura a mulher na nuca e força o beijo. Alicia quer se afastar, mas é inútil. O cheiro entra em suas narinas e ela quase desfalece. Alicia apoia as mãos nos ombros largos e sente algo naquela altura. Arregala os olhos e vê asas negras contrastando com os cabelos igualmente negros. Os olhos não desistem de encarar o rosto assustado da mulher e os lábios não param de beijar. Alicia quer correr, mas ele a impede. Acaricia os seios da mulher e, sem pudor algum, rasga a sua camisola de cima a baixo. Ele beija os seios, enquanto as mãos passeiam pelo corpo, explorando, invadindo... Alicia não sente mais as pernas. O pavor aliado ao prazer exalado pelo odor de macho faz uma verdadeira lambança em seus pensamentos. A boca molhada impede o seu pedido de socorro. Ela não resiste mais... Ele segura a mulher nos braços e a coloca deitada sobre a relva macia. Alicia abre os olhos e o vê de pé. Ele, em seus quase dois metros de altura, exibe asas negras abertas e um corpo tão lindo quanto a sua cor dourada e a sua virilidade. Alicia ousa perguntar quem ele é. O ser uiva na direção da lua e fecha as asas. Alicia tenta proteger o próprio corpo da intenção escancarada naquele olhar, mas não consegue. Ele se abaixa e gentilmente abre as pernas da mulher. A boca ávida de prazer acaricia o ventre e beija sedenta a intimidade feminina. Alicia geme... Ele, então, cobre o corpo frágil com o próprio corpo. Alicia sente o calor que jamais havia sentido. O doce vai e vem lotado de harmonia se fez mais intenso pelo sabor dos lábios e a fúria do olhar. E, sem controle algum, Alicia goza, sentindo o prazer gigantesco do macho...
Alicia acorda com os primeiros raios de sol aquecendo o quarto. Espreguiça e ri de si mesma, relembrando a intensidade de seu sonho. Relembra o olhar mel-avermelhado e mais uma vez ri. Sai da cama, toma banho e coloca um roupão. Começa a descer as escadas quando ouve duas batidas na porta da sala. Para e fica atenta. Outras duas batidas. Alicia vai até a porta e abre. Um homem alto e bonito está a sua porta. Seu coração dispara... Um par de olhos mel-avermelhado a encara.
__ Bom dia...
Rebeca L’Gall
24/06/2012