O som que ouço...
É ao som fundo e baixo do rádio,que hoje meu sangue jorra,entrando em contato com essa água,que nem se move.Ouço apenas o barulho das gotas caírem na banheira.Do lado,um velho e ferrujado estilete,e uma garrafa de vinho datado de 07 de Outubro de 1976...
Me pego em um lugar totalmente escuro,com fraqueza,tento abrir meus olhos,mas é em vão...Depois de um longo tempo ao som das gotas e do rádio,ouço o barulho da porta se abrindo,e alguém solta um grito desesperado : “Meu Deus”.-a voz aparentava ser da minha irmã. Agora o som das minhas gotas se acalma,sinto uma toalha se enrolar em meus pulsos,cobrindo os cortes,e ela me toma em seus braços me tirando da banheira...
Novamente forço para abrir meus olhos,mas infelizmente eles não me correspondem.
Agora,o som que ouço,é um choro desesperado me pedindo pra não morrer,acho que é minha mãe.A sirene da ambulância toma conta dos meus ouvidos...
Enfim,já em uma claridão,que até meus olhos fechados se incomodam(penso que deve ser o hospital),minha mãe chora muito,e me pede pra ficar.
O som que ouço agora?
Alguém dizendo que não há nada a ser feito,meu coração já parara de bater...Estou morta!
E esse som vai ficando disperso no ar,ecoando em minha mente...
Apago por algumas horas,e quando dou por mim,estou em algo nada parecido com uma maca,e muito menos uma banheira,choros desesperados,cheiro de flor e de vela,sinto um véu cobrir meu rosto,e meus olhos ainda fechados sentem tudo ficar ainda mais escuro...
O som que ouço agora?
É da tampa do meu caixão se fechando.
De repente,sinto “socos”,o caixão balança...”Devem estar me levando para o cemitério”-penso comigo.
Novamente apago por alguns minutos,e posso ouvir o som alto e claro,um coro diz “Amém”...Repentinamente,o barulho da terra que cai sobre o caixão é ensurdecedor,choros desesperados,gritos da minha mãe,a qual eu queria tanto abraçar...
Sinto-me desligar,e acho que agora é permanente,eu me desprendi do meu corpo.
Forço para abrir meus olhos,e finalmente eles me obedecem,me deparo com uma banheira sangrenta,e a foto dele boiando naquela água vermelha,tomo o retrato em mãos,lágrimas rolam do meu rosto enquanto fito-o sem exitar...A dor é incontrolável,suspiro fundo e reflito.O que o amor que senti por essa pessoa me fez fazer?
Valeu a pena sentir dor e ficar toda marcada,com inúmeras tentativas de suicídio?
Tudo não passou de um sonho,e de mais uma cicatriz em meu corpo,tentativa frustrada...
Volto a degustar meu vinho,tomo o velho estilete em minhas mãos,abro-o até o final,e com toda força,passo por sobre a minha garganta,estilhaçando minha pele,e me esvaindo em sangue...
O som que ouço agora?
Desculpe,já não ouço mais nada...
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