A sétima mala
Leonora abre os olhos e sente sua cabeça latejando e pisca os olhos com dificuldade. Sente seus olhos pesados de sono. A falta de ar a impossibilita de receber o ar do velho ventilador azul. Ela nem sabe se quer receber a brisa do velho ventilador azul empoeirado pelo tempo.
_ Essa poeira Deve ser prejudicial aos meus pulmões judiados pela fumaça do cigarro que fumo a tantos anos.
Leonora procura um dos maços vazios jogados pelo chão. O quarto está imundo, as paredes estão com teias de aranhas e ela não encontra nada no lugar. Ela pensa que não é o quarto que está imundo e sim o chão. Pingos de sangue por todo o chão do quarto, se estendendo pela cozinha e sabe lá até onde vai. Cinco pensa ela.
Cinco malas estão prontas para a mudança, a sexta está no quarto ao lado. A mala maior, de rodinhas, preta, cara. Leonora ainda não consegue respirar direito e seus olhos estõ quase fechando novamente, a implorando que os deixem dormir mais uma horinha ou quatro.
_ Não posso. Tenho que arrumar mais uma mala... Se não fosse essa vontade forte de fazer xixi e ter que arrumar a sétima mala eu dormiria.
FUMAR PRODUCE CANCER Y ENFERMEDADES RESPIRATORIAS "Lo advierte el Ministerio de Salud Pública y Benestar Social" É o que ela encontrou escrito no maço de cigarros. Na verdade Leonora esperava encontrar escritas as toxinas contidas no cigarro o que a fez lembrar que já algum tempo, pela falta de grana, trocara os cigarros Nacionais pelos paraguaios.
Entre malas e pingos de sangue espalhados pelo chão, ela tenta caminhar até o banheiro sem pisar em nenhum empecilho que impedem a casa de estar limpa. A desordem faz aumentar a sua dor de cabeça. Caminha até a casa de banho (como diria D. Sônia vó da Rosa) Rosa... Rosa... Ela não lembra quem é a Rosa. Esse nome soa estranho para ela.
A cabeça de Leonora lateja mal consegue abrir seus olhos que sempre os apelidam de esmeraldas. Ao passar pela cozinha, Leonora para para ver as horas no relógio pendurado na parede.
_ Caramba! Já são 18:40h. Eu sei que tenho que fazer algo as 19:00h. Não lembro qual o meu compromisso, Jesus minha cabeça está uma bosta! Eu sei que estou atrasada mas nõ sei para onde devo ir.
Leonora entre um resmungo e outro chega até o banheiro olha a tampa do sanitário levantada e supõe que não mora sozinha naquela casa. Qualquer coisa menos a tampa do vaso sanitário levantada. Inadmisível para ela uma falta de respeito. O vaso está muito sujo mas Leonora senta mesmo assim.
Leonora pensa no alívio da sua nescessidade fisiológica sendo atendida, sentindo o prazer fora á parte da dor de cabeça, do alívio da urina quentinha esvaziando sua beixiga. Ela lembra de uns meses atráz e os apuros de uma infcção urinária que a deixou de cama. Quero escrever que ela urinava nas calças mas penso que não deveria, corro o risco de estragar o conto.
Alguém empurrou a porta do banheiro lentamente. A porta do banheiro, a porta da vani propietária daquela velha casa na beira de um Ribeirão. Antes de abrir completamente a porta, aquele fuçinho preto deu um espirro e Leonora viu que era um cão. Na verdade uma cadela com pelos negros e peito branco. A cadelinha com olhos tão meigos sorri para ela. A cadela não amada, não reconhecida pela dona abana seu rabo.
O banheiro é a única peça da casa que possui porta. A porta do banheiro, a porta da cadela, a porta da Vani. A cabeça latejante dela quer terminar logo aquele xixi. Com os pés Leonora empurra de volta a porta do banheiro para poder se secar com um pouco de privacidade sem aqueles olhos a observar.
Depois de dar descarga e lavar as mãos, Leonora abre a porta devagar, afinal, ela não sabe se aquele cão a atacaria ou não. Ela nota que o cão está sentadinho ao lado de dois pratos de comida. Um preto e um branco combinando com as cores dela. leonora abaixa, acaricia a cabeça e nota que o cão possui uma coleira com o nome. Lua.
_ Olá garota... quer dizer que tu se chama Lua? É uma menina. Ta com fome Lua? Seus pratos estão vazios. Há quanto tempo não te dão comida garota?
A cadela a observa atentamente com as duas orelhas em pé parecendo uma raposa
_ Onde guardam sua comida Lua?
Leonora sente que deveria saber. Abre a porta de todos os armários e não acha a Ração. Leonora abre a geladeira, pensa em dar leite, sardinha ou macarrão. Mas os ruidos da cadela chamaram sua atenção. A cadela farejava a porta do armário da pia. O último lugar que Leonora iria procurar. Ela abre a porta e se depara com um gigantesco saco de ração. Ração barata. Leonora se aproxima dos pratos com o gigantesco saco de ração que deveria pesar umas dez toneladas no mínimo, onde encontra uma poça de sangue onde a cadela estava outrora sentada.
_ Lua, você está no cio? O que tenho que fazer? Nunca tive cachorros antes. Talvez eu deva deixar um recado para seus donos. Quem são seus donos garota?
A cadela farejou o cheiro da ração perto e ficou louca. Começou a pular e latir desesperadamente, não sabendo se chorava ou se comemorava. Leonora colocou um pouco de ração e um pouco de água para a cadelinha negra de olhar simpático e carinha de raposa. Levantou para voltar para o quarto e olhou novamente para o relógio de parede da cozinha.
Dessa vez o relógio marcava 16:15hs. Leonora não entendeu nada. Ficou uns minutos tentando contar á partir do seis em números romanos. Leonora não sabia mais contar em números romanos? Ela fechou os olhos e por um segundo visualisou a sena de uma sala de aulas e ela dando aulas de história para alunos atentos a sua mini-saia. Leonora abrio os olhos e voltou em segundos para a velha cozinha desarrumada com pingos de sangue de uma cadela desconhecida que atendia pelo nome de Lua.
_Ai que susto!
Leonora se assusta com um cachorrão enorme em pé na sua janela da cozinha.
_ Xô! Sai daqui! Vai te embora! Não tem nada pra você aqui cachorro fedorento! Você está fedendo a marisco!
Leonora Fecha a janela. Única janela aberta na casa.
_ Deu Lua. Não fique assustada nenhum cachorro entrará aqui enquanto você estiver nesses estados. Daqui a pouco a Rosa chega. Rosa? Eu disse Rosa? Quem é Rosa?
Leonora se arrasta até o quarto agora já escurecendo pois a grande janela está fechada no vidro um blecaute tampa o vidro. Ela se olha no espelho do guarda-Roupas de seu quarto. Leonora observa sua aparencia. Está com um vestido azul, cabelos presos despenteados e seus olhos borrados de maquiagem. As bandeiras ao lado da janela desviaram sua atenção.
De um lado a bandeira enorme do Brasil e do outro uma bandeira nas cores do arco-iris. Leonora lembrou que aquela bandeira era a bandeira do movimento Gay. Seus olhos percorreram um pouco mais abaixo e prestou um pouco mais a atenção na cama de onde despertara a alguns minutos atráz. A cama de casal com lençois vermelhos. Leonora leva a mão esquerda na cabeça pois sua dor só aumenta. Pelo espelho pode ver reluzindo uma aliança dourada em seu dedo esquerdo. Na aliança estava gravado um nome. Estava gravado Rosa.
Leonora voltou novamente a atenção para seu rosto. Um pouco cansado para uma mulher de vinte oito anos. Um pouco abaixo uma marca roxa e sem-vergonha marcava seu pescoço. Leonora passou as mãos em seu pescoço, em cima daquela marca roxa e perguntou a si mesma quem era aquela pessoa.
Bate um sono muito forte em Leonora, seus olhos não podem mais ficar abertos nessa claridade pois seu cerebro latejante a implorava por mais e mais descanço. Ela se deita na sua velha cama de casal, com seu lençol vermelho e fronhas de todas as cores que definitivamente não fazem parte do conjunto e lembra porque começou a escrever esse conto.
Na verdade só pegou a caneta para registrar o sonho que teve para poder contar para Rosa que chega as 19:00hs. Leonora não se lembra mais do sonho. Enquanto tenta lembrar ascende um cigarro. Leonora só sabe que seu sonho tem haver com bote gigante, mar, Reality Show, vazamento de gás falta de ar e dor de cabeça.
Com sua quase ausencia de respiração ela curte o balançar da bandeira colorida mexendo com o vento do velho ventilador azul e empoeirado. Esse movimento a faz relaxar. Leonora vai apagando pouco a pouco com a Lua lambendo sua mão em agradecimento pela comida e água que a tanto não recebia. E assim adormecida poderia Leonora nunca mais acordar, já que não tinha mais o beijo da Rosa para despertar.
Lani Leo