"PRA BOI DORMIR 2"

Valdemiro Mendonça

La ia eu pelo caminho dos montes na serra do cipó. Vi uma sombra convidativa e apesar de estar só naquela trilha, à grama verde e baixa era uma atração para esticar o corpo e apesar da recomendação do guia para não atrasar o encontro para o retorno à pousada, acho que as duas cervejas e a cachaça tomadas antes do almoço, faziam meus olhos pesarem e esquecer à prudência. Não pensei que iria dormir... Apenas relaxar um pouco. A única coisa que eu carregava era um cantil térmico para água que eu achei ótimo, por ser macio e o coloquei sob a cabeça a guisa de travesseiro. Coloquei o chapéu panamá sobre o rosto e fechei os olhos.

Ouvi um barulho de pés se arrastando devagar, levantei o chapéu e olhei para a trilha... Inacreditável, vi há uns trinta metros a minha amiga Lu subindo devagar a senda batida no serrado, caminhava leve e sorria, quando estava a uns dez metros falou com uma voz suave, pensei que não conseguiria alcançá-lo. Respondi que só o fez porque parei ali para descansar, mas disse que estava contente por ela estar ali. Engraçado... Não questionei o porquê de ela estar ali, afinal ela morava em Ribeirão Preto e eu nem sabia que ela estava planejando subir a serra.

Bom, o importante é que ela estava ali, nos abraçamos, e acreditem não nos largamos mais, ela deitou-se ao meu lado e começou a recitar alguns dos seus bem elaborados poemas que me deixaram maravilhado. Tudo ali era silencio! Só se ouvia o canto de algum pássaro que não interrompia sua voz bem postada, na verdade ajudava como se fosse um coral acompanhando aquele momento mágico.

Foi uma tarde agradável, de repente aquela solidão nos convidou a pensar em coisas mais distantes e cada um mergulhou nos seus próprios devaneios. Acho que acabei dormindo, ou pelo menos não me lembro de ter falado mais com ela. De repente uma voz ríspida de homem me trouxe à realidade, era o guia que me iluminava com um facho de luz de lanterna cegando meus olhos e a me ver movimentar na grama já foi me dirigindo um discurso entremeado de perguntas se eu estava bem, se tinha me sentido mal, ou que acontecera? Custei a compreender o que se passou e respondi que tinha sentido tonteira e deitado ali pensando ser fadiga da subida e pegara no sono... ”Mentira deslavada”, mas eu é que não ia contar que me deitara ali com preguiça de continuar caminhando.

Já era noite e perguntei as horas, ele respondeu com ares de poucos amigos que era mais de meia noite e que tinha acionado os bombeiros e tinha muita gente me procurando na serra, Agradeci pelo empenho e pedi desculpas pela trapalhada. Intimamente eu pensava que apesar disto tinha vali à pena, quando me levantei, recolhi o chapéu e o cantil e ao lado do cantil estava um caderno, não ousei abri-lo ali e só depois, “já a salvo na minha sala de computação,” é que vi ser um caderno de poemas com cheiro de rosas e tinha uma foto da minha amiga Lu e uma dedicatória: “Para meu amigo Miro com muito carinho” Eu hem, Freud explica.

Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 22/04/2012
Código do texto: T3626646
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