"MOMENTO F"



     Vivia no cais do porto de Santos, bebendo as próprias mágoas, junto com as prostitutas; numa esperança vã de que uma delas pudesse substituir aquela que um dia foi seu amor! Era assim, desde o dia em que ela partiu com outro... Ele desceu, caiu não conseguindo mais levantar-se.

     O pouco dinheiro que lhe sobrara, de uma indenização trabalhista... Tinha se acabado! Ele ainda tentou beber mais! Pediu dinheiro para as mulheres que riam dele, pediu aos marinheiros, foi maltratado, ficou todo cheio de escoriações, o sangue empapava sua camisa e o fazia sentir-se o mais ultrajado e o mais, humilhado trapo humano, um inútil!

     Como um cachorro escorraçado, ele arrastou-se como pode até a praia, mais próxima, onde já sem a camisa: lavou-se com a água do mar e sentado na areia, olhou para uma lua cheia e brilhante que despontava no horizonte, parecendo nascer no mar... Lembrou-se dela, das vezes que iam à praia em noites assim para namorarem sob a lua era então o mais feliz dos viventes.

     Seus olhos encheram-se de água e ele chorou! Não um choro comum, mas um choro alto sem controle, um choro de animal ferido, um choro que saia da alma, e o fazia soluçar, um soluço que sacudia seu corpo, embaralhava sua mente, fazendo com que ele se levantasse e se jogasse na água do mar e como um joguete das ondas, fosse perdendo a consciência se acalmando... Mais... Mais e dormindo, o sono eterno, o sono do fim... O fim de todo o sofrimento de uma paixão.

     Engraçado eu estou voando, mas como é que pode? Estranho... Aquele corpo deitado lá é o meu! Por que está todo cheio de tubos, que lugar é este: Parece hospital? Deve ser sonho, vou deitar-me ali perto do meu corpo, e esperar... Ouço uma voz longe, muito longe, agora mais vozes, bem longe ainda. Estão mais perto, mais... Já entendo!

     Hei, hei acorde, vamos acorde! Aos poucos, ele abre os olhos e vê. A enfermeira sorri, ele quer fazer perguntas, ela lhe diz com gentileza, descanse, depois conversamos. Três dias no hospital, serviram para recuperar - se quase totalmente dos ferimentos e ficar sabendo por um anjo chamado Mirian. Como ele se salvara de morrer afogado, tirado; das águas por ela e o irmão que estavam fazendo caminhada e viram quando ele jogou se no mar. Felizmente, perdeu os sentidos em um lugar raso, de onde sem muitas dificuldades ele foi resgatado e levado ao hospital.

     Os seus salvadores após ouvir sua triste história sentiram - se comovidos e não o deixaram mais sozinho! Convidaram-no para trabalhar na empresa de turismo de sua propriedade, onde aos poucos, recuperou a confiança e a vontade de viver.

     Casou-se com Mirian que por ele se apaixonara! Amor cura – se com outro amor! A recíproca pode não ser verdadeira, mas, neste caso... Bem, “foram felizes para sempre”!

Trovador.
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 17/04/2012
Reeditado em 09/09/2018
Código do texto: T3618418
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