O Ipê Amarelo
Os pés mal tocavam a grama. Caminhava devagar e observava tudo com muito cuidado, muito tempo havia passado e ela não tinha certeza se ele estaria lá. O céu estava nublado, cinza, pesado. Um dia perfeito na opinião dela, mas para si aquele não era um dia agradável, em partes. Continuou sua caminhada e após alguns minutos o encontrou, estava muito mais lindo. Suas flores caídas formavam um delicado tapete em torno do tronco. Suspirou e fechou os olhos, as lembranças vieram sem esforço.
“Era uma tarde de céu azul e nenhuma nuvem ousava atrapalhar o esplendor daquele dia. No horizonte várias andorinhas faziam a decoração final de uma típica tarde inspiradora. Debaixo do ipê amarelo observavam os insetos adentravam as flores. O zunido completava a música que compartilhavam. Assobiavam a canção em uníssono e se olhavam sorrindo.
Resolveram eternizar aquele momento gravando no tronco algo que só elas seriam capazes de identificar. Despediram-se daquele lugar que esperavam não visitar tão cedo. Caminharam para a saída e a vida continuou, mas a promessa seria para a vida toda.”
Após relembrar tudo ela se aproximou da árvore e olhou cuidadosamente para suas belas flores. Contornou o tronco e um sorriso sincero decorou seu rosto. Apesar dos anos a promessa continuava viva. Sentou bem próximo do tronco, fechou os olhos e aguardou. O vento suave balançava a copa das árvores, agitava o laguinho e trazia consigo uma velha canção. Seguiu o ritmo da mesma e devagar abriu os olhos, levantou e abriu os braços. Esperou alguns segundos e sentiu-se feliz ao ver aquele sorriso novamente. Era impossível que se abraçassem, porém a promessa fazia tudo se tornar possível. Seus corpos translúcidos tornaram-se apenas um. Caminharam para além da nossa visão. Na outra parte daquele lugar o murmurinho contava uma história triste de alguém que se foi cedo demais. Apesar de o dia estar nublado, cinza e pesado ele trazia consigo uma alegria quase palpável, mesmo que os que permanecem aqui sejam incapazes de perceber.
FIM