ONÍRICO
ONÍRICO
Bramia sufocada qual víscera pulsante de quimera.
Há milênios nas ruínas... eternizava-se escondida.
Consternou-se Odin daquela alma sem vida.
Pois outra morte até quisera, já como sôfrega besta-fera.
Gemia agora, sem forças, na direção de Bragi em espera, talvez não, de possível cura:
-Transpassa esta névoa sangrenta que sou... Ai, maltrata-me sobremaneira esta dor do viver no alívio de morrer!
Então, daquele negro coração arranca, Bragi, resquício de pura poesia:
-Tome mínima parte da minha, soma-se a tua, pois em teu socorro vim a mando de Odin. E resguarda; aguarda ... Idun vírá numa bela manhã, portando das mais perfeitas e doces maçãs.
Porém, não chegou a manhã esperada: Idun, enciumada, prostrara-se desesperada.
Ia-se, então, acima das ruínas, a besta-fera. Passando por profundas transformações era agora a digna visão, mas... ainda soturna se mantinha.
O tempo estanca e suas místicas poesias, mais do que acalantos e mais do que alívio e conforto, declamadas são por ela aos quatro cantos. Achegam-se, do Céu e da Terra todos os encantos. E apodera-se dos sons, sabores, cores, fragrâncias elementais; vozes de todas as aves; forças de todos os bichos; suavidade de todas as flores; gritos de todos os povos; cânticos de todas as glórias.
Nasce um novo sol.
Brotam verdes gramíneas, heras laceiam as ruínas, germinam sementes latentes, nascem novas espécies; novos habitantes aparecem.
E qual maior espanto? viçosa e frondosa macieira cresce e rejuvenesce aquela que, de besta-fera à névoa sangrenta; de assombração à límpida figura... é agora, da Poesia, Senhora: deusa da fauna e da flora.