ONÍRICO

ONÍRICO

Bramia sufocada qual víscera pulsante de quimera.

Há milênios nas ruínas... eternizava-se escondida.

Consternou-se Odin daquela alma sem vida.

Pois outra morte até quisera, já como sôfrega besta-fera.

Gemia agora, sem forças, na direção de Bragi em espera, talvez não, de possível cura:

-Transpassa esta névoa sangrenta que sou... Ai, maltrata-me sobremaneira esta dor do viver no alívio de morrer!

Então, daquele negro coração arranca, Bragi, resquício de pura poesia:

-Tome mínima parte da minha, soma-se a tua, pois em teu socorro vim a mando de Odin. E resguarda; aguarda ... Idun vírá numa bela manhã, portando das mais perfeitas e doces maçãs.

Porém, não chegou a manhã esperada: Idun, enciumada, prostrara-se desesperada.

Ia-se, então, acima das ruínas, a besta-fera. Passando por profundas transformações era agora a digna visão, mas... ainda soturna se mantinha.

O tempo estanca e suas místicas poesias, mais do que acalantos e mais do que alívio e conforto, declamadas são por ela aos quatro cantos. Achegam-se, do Céu e da Terra todos os encantos. E apodera-se dos sons, sabores, cores, fragrâncias elementais; vozes de todas as aves; forças de todos os bichos; suavidade de todas as flores; gritos de todos os povos; cânticos de todas as glórias.

Nasce um novo sol.

Brotam verdes gramíneas, heras laceiam as ruínas, germinam sementes latentes, nascem novas espécies; novos habitantes aparecem.

E qual maior espanto? viçosa e frondosa macieira cresce e rejuvenesce aquela que, de besta-fera à névoa sangrenta; de assombração à límpida figura... é agora, da Poesia, Senhora: deusa da fauna e da flora.

Marisa Silveira Bicudo
Enviado por Marisa Silveira Bicudo em 24/03/2012
Reeditado em 01/09/2014
Código do texto: T3572479
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