Viagem

O vento tocando ferozmente contra seu rosto era o que motivava sua felicidade. Suas mãos protegidas por grossas luvas pretas apertavam a aceleração da sua moto veloz. A liberdade era merecida! Fim de uma vida errada, o começo de uma nova. Ele queria era curtir o tempo perdido. E isso o deixava mais ansioso para chegar ao seu destino.

Aquela estrada deserta merecia uma comemoração: abriria os braços e correria livremente, deixando a moto o levar para onde quisesse. Era sua paixão. Seus braços abertos sentiam um frio percorrendo-os sem dó e os seus olhos fecharam-se, aproveitando aquela sensação única.

Estava tudo perfeito demais para ter um obstáculo no caminho. Um buraco enorme naquela estrada esquecida seria bem provável...E ele estava lá. A moto, que estava numa velocidade considerável, e o seu dono, esquecido nos seus sonhos, deram voltas e voltas pelo asfalto. A moto sofreu uma explosão ensurdecedora a vários metros dele. Seu corpo, todo dolorido, procurava entender o que havia ocorrido. Sentia o sangue escorrer da sua boca, do nariz, e com certeza, de vários cortes sobre o seu corpo. Mas respirava, sentia dor, estava vivo!

Tentou se mexer, os ossos doíam, teria quebrado algo? Certamente. Tentou se apoiar nos braços e foi se equilibrando aos poucos. Cambaleou por alguns segundos e conseguiu ficar de pé. Era um milagre! Chorou ao ver sua moto em fogo, havia acabado de pagar a última parcela do financiamento.

Mas ele estava bem! Precisava andar um pouco até achar algo...ou alguma carona...

Por aquela estrada, quase impossível. Em todo o percurso que fez até o acidente, não tinha passado uma alma viva. Estou perdido, dolorido e sujo - pensou.

Sua garganta estava seca, deveria ter morrido de uma vez! Morrer aos poucos, não fora tão mal assim...

Andou por aproximadamente duas horas e nenhum carro passou. Não...não era possível! Água fresca! Ao lado da estrada, uma lagoa, cercada de árvores, era a sua salvação!

Correu o mais rápido que conseguia. O cansaço tomava conta do seu corpo e da sua alma, já tinha desistido da vida.

Mas havia recebido uma segunda chance. Merecia tanto? Não importava, continuava correndo. E num só pulo mergulhou naquela água fresca, limpa e saborosa.

Suas risadas poderiam ser ouvidas até no outro mundo! E ele não estava nem ligando se alguém o visse e pensasse que era louco. Ele tinha nascido de novo, recebia o seu batismo. Sim, acreditava em Deus, aclamava-o repetidas vezes.

Afinal, ele tinha encontrado sua nova vida. A sede seria saciada eternamente, seu corpo machucado não sentiria mais dor, sua mente cansada não teria tempo para se preocupar com pensamentos ruins, pois naquele momento, ele só queria agradecer.

Quimera
Enviado por Quimera em 20/03/2012
Reeditado em 16/04/2015
Código do texto: T3565745
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