Pensamentos soltos
''...a tragada no cigarro foi procedida de um olhar penetrante ao papel em branco. Olhava, observava o papel. Pensou no que escrever, não havia nada a pensar. No quarto haviam coisas jogadas, roubas sujas misturadas com limpas, papel no chão, um filete de poeira em cima dos móveis. Na cama, estava lá sentado acompanhado de um cinzeiro.
O papel continuava em branco, mas o pensamento fluía numa correnteza afiada. Os dedos começaram a digitar.
-Boa noite
-Noite...
-O que faz por aqui?
Olhando sem graça, respondeu:
-Pensando na vida... nesse mar.
-E o que pensa sobre a vida?
Mais uma vez, a timidez umedeceu o ar do espaço, e uma resposta seca raspou as linhas do ar:
-Eu tento não pensar muito sobre a vida, mas algumas vezes reflito. Vejo a vida de diversas formas e não entendo. As vezes ela me põem distante, outras vezes por perto. Certos momentos ela me busca, me leva, em alguns eu perco a carona, e me perco também.
Mas e você, o que pensa da vida?
Acertando as sobrancelhas, a resposta dita quase em silêncio:
-A vida me ofende, me ignora, me faz amar e me ama. Ela me contorna, me coloca e recoloca. Me constrói e me desfaz. O que pensar da vida se não um caminhar de aprendiz, de respeitar? Mas a vida me ignora sim, me descolore, finge não me ouvir...
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Os dedos não dançam no ritmo de pensamentos. O caminhar tranquilo da vida.