Fato irreal
(A vingança não perdura...
...sendo o injustiçado o vingativo)
- Vá se foder, Steven! O que são essas coisas? Pássaros! Pássaros grandes, Steven, todos mortos aqui. Mortos na minha casa, na minha piscina, Steven!
- Não tive como evitar, senhor. Até os pássaros morrem!
- Continue.
- Os pássaros devem ter batido em algum avião e morreram.
- Steven, o único que vai morrer aqui se não calar esta maldita boca, é você. Está me dizendo que todos os pássaros, simultaneamente, bateram em um... AVIÃO! E caíram justamente na minha piscina?
- Foi o que eu disse.
- Por que os pássaros ainda estão na água? Por que diabos você, Steven, ainda não os retirou da água? Você sabe como deixar a porra de um homem nervoso, Steven... Você não é pago pra fazer essas atividades idiotas?
- Certamente, senhor.
- Então por que os pássaros ainda estão na água? Por que já não trocou a água?
- Ainda não deu tempo. Preferi chama-lo para observar a morte de perto.
- Como?
- Aliás, o senhor sabe o que é a morte? Já sentiu o cheiro ou a presença dela?
- Que merda me pergunta você, Steven?
- A morte senhor, não é fantástica? Num momento você está tomando seu café da manhã, num belo dia, com poucas chances de ser um dia constrangedor. Subitamente, vem seu criado e lhe mostra uma piscina cheia de pássaros mortos, numa cena fúnebre, deprimente e, a partir daí, as coisas começam a piorar. Sua respiração começa, de repente, entrecortar. Sua face plácida e corada pela manha frienta, passa de um rubro atenuante ao mais alto grau de enegrecimento. Então... Senhor, ainda me ouve?
- Seu desgraçado...
- Pois bem, vejo que tem dificuldades em proferir suas lindas palavras, mas eu, seu fiel criado, vou ajudá-lo prescindindo-lhe de qualquer esforço mental, para que sua morte seja tranqüila, assim como foi a dos pássaros. Veja você: Daqui a poucos minutos seu corpo estará boiando nesta piscina junto com as aves. Então cumprirei meu dever, que é limpar a sujeira da piscina, aliás, minha piscina agora. Vou enterrar os pássaros e o senhor, juntos. Sua mulher, com todo o respeito, será enterrada junto com o senhor, para que ambos descansem em paz. Por fim, está casa, como não haverá ninguém morando nela e como vocês sempre foram duas pessoas tão distantes de seus familiares, pertencerá a mim. É só isso.
- Você... nã...
Delegacia de Polícia Civil-5º Distrito Policial
- Continua, Steven.
- Então eu empurrei o velho na piscina facilitando a sua morte.
- Certo.
- Fora premeditado, senhores. Simples, simples. Esvaziei a piscina, fiz um grande buraco nos fundos, perto de uma pequena horta da dona Sandra e enterrei o velho e os pássaros e tudo. Eu só cortei o pênis dele pra depois mostrar pra dona Sandra, aterroriza-la, entende?
- Entendemos Steven!
- Então eu, com a maior naturalidade do mundo,reabasteci com água a piscina e fiz minhas obrigações tranquilamente. Dona Sandra, que às quintas feiras vai ao salão, só chegaria às 18:00, então pude deixar tudo pronto.
- Ela chegou e como sempre fora tomar seu chá, certo? E então o veneno já estava inserido...
- Exato. Na verdade, eu pensei que ela não morreria por consequência do veneno, pois quando eu lhe mostrei o pênis, com todo aquele sangue e veia e secreção escorrendo e disse à ela ser do seu marido, ela caiu desmaiada.
- E por que decidira se entregar?
- Bom, se querem mesmo saber, lhes conto. Mas peço que não caçoem de mim, pois estamos diante da lei e a lei é mais forte do que seus agentes. Ouçam: Exatamente 01:30 da manhã, arrastei o corpo da velha até os fundos onde se encontrava o seu marido. No entanto, ao chegar até o buraco que havia cavado e enterrado o velho, estava ali, em vez de cadáveres em decomposição, um esqueleto já bastante velho. E os pássaros? E o velho? Não consegui pensar em nada além de sair correndo dali. Então corri a toda velocidade por entre alamedas de pequenas árvores que se estendia por toda a propriedade e quando cheguei ao portão, me lembrei que havia deixado a velha no chão próxima ao buraco. Me senti na obrigação de voltar mas quando direcionei o olhar para ela, a desgraçada estava em pé, com um monte de pássaros envoltos em seu ombro. Lugubremente ela assobiava e os pássaros a rodeava. Ela acenou para mim, acreditam? Acenou como que dizendo tchau, levou um braço em direção ao buraco e ajudou, porra, ajudou o esqueleto a se levantar. Minhas pernas tremiam imoveis e só pude observar, desgraçadamente, a cena que se desenrolava. Ambos, esqueleto e velha, voltaram pela porta da frente aos seus aposentos.
- É... Eu receio que o senhor queira que alguém acredite, mas imagino que não será possível. O que sugere que façamos com o senhor? Prenda-o? Meus agentes foram à casa dessas pessoas que, além de estarem vivas, o julgam louco. E além de louco, aliás, eu consigo enxergar uma certa malandragem seguida de desespero e vagabundagem. Você não é o primeiro que inventa histórias bizarras para ser preso e usufruir da comida do estado. Julgas que tais benefícios o livrarão da inconveniência do trabalho, porém, quero que saia desta sala e nos deixe trabalhar, assim como deverias tu, estar fazendo.
- Eu já imaginava senhores, tenham uma boa tarde.
- Ei, Steven! Estamos te observando, meu jovem, é bom que saiba o que estas fazendo. A prisão não é tão boa quanto parece...
Plac!