A FEITICEIRA E O MÍSTICO - PARTE I

França, século XIV, quando ainda o mundo era movido pela força da natureza e pela magia.

Tarde fria de outono, o inverno se aproximava, a natureza provava mais uma vez sua soberania sobre os humanos.

O céu estava lindo, tons de vermelho e laranja se espalhavam por toda a floresta, o sol estava se preparando para seu repouso, enquanto a lua apontava para o anoitecer.

Então subi a colina para admirar esse espetáculo concedido pela natureza, mais uma vez.

As horas se passavam lentamente, e eu sorvia lentamente aquela energia que me envolvia.

Desculpem-me não me apresentei, sou Emini, para muitos uma bruxa, uma feiticeira.... mas na realidade, apenas uma sacerdotisa, ligada a natureza e a toda sua magia.

Anoiteceu, a lua cheia iluminava lindamente a floresta , era hora de voltas para minha residência. A essa hora seres noturnos já estão despertando e tudo é lindo demais.

Um unicórnio, iluminado pelo luar, pasta tranquilamente, com a certeza de não ser incomodado, protegido pela luz prateada da lua.

Mas existem seres macabros também, não que sejam menos importantes, mas sabemos que não seria bom encontrar com eles durante as noites. Já estava chegando ao centro da floresta, quando ouço um urro estridente, era o Dragão, guardião daquela floresta, algo o estava incomodando, então corri até lá.

Quando cheguei, notei o motivo de tanta irritação, Ele havia encurralado um humano e estava pronto pata trucidá-lo, então dei um grito:

- Drakon... pare!

Nesse momento o dragão olhou para mim e se afastou do humano, este por sua vez, estava imóvel, parecia petrificado pelo susto,, então fui até ele e disse:

- Você está louco! Nunca ouviu falar que jamais deve se aproximar de um Dragão? São seres mágicos, mas não gostam da presença de humanos! Vá.... saia daqui!

Ele simplesmente disse:

- Como fez isso? Você comanda o Dragão?

- Não importa! Saia da Floresta o mais rápido possível! Não é seguro aqui!

- E pra você é?

- Sim... moro aqui na floresta.... venha.....

Quase arrastei-o para longe dali, só então notei quantos livros possuía, mas mesmo assim, não tínhamos tempo para conversas.

Ele simplesmente acompanhou-me , sem dizer nada.

Levei-o até a saída da Floresta, ele não poderia ficar ali, então disse:

- Agora vá... não volte mais, principalmente a noite, a floresta não é segura....

- E você? Vai ficar? Não tem medo?

- Não... faço parte dela e ela de mim... moro no centro da Floresta.

Dizendo isso, deixei-o e voltei para minha residência. Acendi a lareira. Aproveitaria para estudar, e relaxar... e acabei adormecendo por entre os livros. Quando despertei, o sol ia alto, me irritei comigo mesma, não era do meu feitio perder o amanhecer. Então corri para a cachoeira para banhar-me e me recompor.

Estava retornando para minha casa, quando encontro novamente aquele estranho entretido entre seus livros e digo:

- Já não pedi para não vir mais aqui!

- Perdão minha Senhora! Impressionou-me a maneira que tratou aquele Dragão ontem e resolvi procurá-la para aprender sobre isso.

- Não há o que aprender, e nem ao menos sei quem é você!

- Perdão Milade! Sou Alecsander, um aprendiz, estudo as forças ocultas e magia.

- E acha que pode encontrar magia aqui?

- Com certeza minha senhora, depois de tudo que vi essa noite!

- O que viu essa noite deve ser esquecido, sabe que é perigoso!

- Eu sei, por isso decidi ficar aqui na floresta e aprender!

- Mas não pode, é proibido!

- Proibido por que! A Senhora não me quer aqui? Ou tem medo que conte a outras pessoas sobre o que vi aqui?

- Não vão acreditar em você, são incrédulos demais, isso não me preocupa!

- Eu sei, jamais falaria do que eu vi, minha Senhora, só quero uma chance de aprender, evoluir, to cansado de ler, quero sentir essa energia. Permita-me por favor! Seja ,minha Mestra! Serei leal a Senhora!

Fiquei imaginando isso, impossível, como ensinar se nem sei como, nasci assim, jamais estudei, apenas sinto e mais nada. Como confiar naquele estranho. Então disse:

- Me dê três dias! E terá sua resposta. Mas peço-te, afaste-se da Floresta! Aceita?

- Claro minha Senhora. Já é um começo!

- Agora vá! Existe um vilarejo a alguns quilômetros ao sul, não diga nada a ninguém, e em três dias te encontrarei lá, para lhe dar a resposta, tens minha palavra! Não confie em ninguém!

- Que assim seja feito Minha Senhora, aguardarei como me pede... mas se não aparecer, eu volto e quero minha resposta!

- Eu irei! Agora vá... nos vemos em três dias! Que os Deuses te acompanhem!

Dizendo isso, ele se retirou e eu fiquei ali, perdida em meus pensamentos mais uma vez.

Jamais havia pensado em ter um aprendiz, ensinar-lhe o que sei, mostrar-lhe o mundo como realmente é! Precisava acalmar meu coração e minha alma para realmente me decidir.

Os dias haviam passado rápido, sabia que teria de ajudá-lo a se encontrar, finalmente ele tinha visto o que nenhum humano jamais havia deslumbrado.

Era noite de Lua Cheia, me dirigi a minha coluna preferida, tentando relaxar, amanhã precisaria dar uma resposta e que ela teria de ser a final. Decidi me desligar de todos, apenas me concentrar, nos sons da Floresta e nos seres da noite, quem sabe me ajudariam. Quando ouço uma voz ao longe.

- Do que tens medo minha querida? Sabes que és capaz, estaremos com você! Sabe disso.

Assustei-me por um segundo, so então notei um vulto, era um ancião Druida, aquele que me ensinou a administrar meus dons. Ajoelhei-me.

- Meu Mestre! Sou apenas uma mera aprendiz, nada sei, diante de sua presença, como ensinar?

- Estaremos contigo, minha querida, tenha fé em você! Confie nele! Está escrito assim , ele será teu aprendiz, teu irmão, chega de solidão!

- Não sinto solidão! Tenho meus irmãos da Floresta!

- Mas precisa mais que isso! Acolha-o Ensine-o. É esse teu destino.

- Sim Meu Mestre! Assim o farei!

Instantes depois, aquele vulto desaparece, e uma calma invadiu minha alma, então retornei para minha casa! Precisaria organizar tudo, para a vinda daquele estranho, no dia seguinte. Depois de tudo organizado, adormeci, sei apenas que tive sonhos que não compreendi, mas tentei manter a calma.

O dia estava realmente lindo, pássaros cantavam, aprontei meu cavalo, e parti para o vilarejo. Não gostava de ir lá. Olhavam-me de uma maneira estranha, mas havia prometido a Alexsander que iria, provavelmente estaria me esperando.

Duas horas depois, cheguei ao Vilarejo, não me sentia bem ali, então decidi ir direto a estalagem atrás dele, queria resolver tudo o mais rápido possível. Olhei pela janela, lá estava ele, entre seus livros, então decidi entrar, mesmo sabendo ser proibido, ali apenas homens podiam entrar, criei coragem, fui direto a mesa dele e disse:

- Recolha suas coisas e venha comigo, e não demore!

Ele se assustou, não esperava-me ali, e sorriu: (um sorriso lindo)

- Bom dia Milade! Sente-se!

- Não posso, é proibido! Espero-te lá fora! Por favor não demore!

Dizendo isso, já estava me virando, quando um homem me agarrou pelos braços e tentou beijar-me, desvincilhei-me e ele disse:

- Qual o problema vadia! Tenho dinheiro, não se preocupe!

Dei-lhe um tapa, queria sair dali então ele segurou-me ainda com mais força, quando Alecsander, disse:

- Solte-a! Se não quiser experimentar a lâmina de minha espada!

Olhei-o, nesse momento, estava pronto para a briga, não sabia o que fazer, então notei que aquele homem havia me soltado, e quase que imediatamente corri para fora, odiava o contato com humanos, cheguei o mais rápido possível ao meu cavalo, montei e sai em disparada.

Quando me vi suficientemente distante, não consegui impedir que as lágrimas corressem, então parei, e sentei-me a sombra de uma arvore, tentando me acalmar, temia pela vida daquele estranho, ele não conhecia ninguém no povoado, me senti incapaz de reagir, devia ter me rendido? Evitaria muita coisa. Minha cabeça estava confusa demais.

Alguns minutos se passaram, quando ouço galopes na estrada, tentei me recompor, não queria que me vissem assim... Então Alecsander, vê meu cavalo na beira da estrada, desce... olha em volta e diz:

- Minha Senhora, sou eu Alecsander, nada tema, por favor! Estou aqui...

Apenas olhava-o, não tinha coragem de me aproximar, então ele veio até mim!

- Ele a machucou?

Apenas respondi:

- Não! (tentando esconder as marcas escuras em meu braço)

- Maldito! Vou ensiná-lo como tratar uma dama!

- Não! Vamos embora daqui! Quero voltar para a Floresta...Venha comigo! Esqueça tal incidente... eu já esqueci!

- Se assim deseja... assim o faremos!

Montamos em nossos cavalos e seguimos no mais completo silêncio para a Floresta. Todos os dois perdidos cada um em seus pensamentos.

Ao chegarmos, senti finalmente que estava em casa e disse:

- Seja bem vindo meu amigo, que essa Floresta te acolha, te traga alegria e sabedoria!

Ele sorriu. Desceu de seu cavalo, e disse:

- Esta segura agora, vamos caminhando?

- Klaro.....

Desci de meu cavalo, e como um passe de mágica, minha aflição havia desaparecido por completa, estava em casa novamente, e ali ninguém jamais poderia me fazer mal. Ele parecia-me encantado, com tudo a sua volta, só não entendia o porque e disse:

- Venha, quero te mostrar uma coisa!

Ele me acompanhou, sem nada dizer, apenas observava. Chegamos a clareira, fiz sinal pra ele não falar nada, então cheguei ao centro e disse: Drakon, apareça... E o grande Dragão alado desce dos céus. Quando ele pousou disse:

- Esse é Alecsander, um amigo... não quero que machuque ele!

E fiz sinal para Alecsander se aproximar, ele parecia não acreditar no que via, aquela fera parecia tão dócil, então ele veio e disse:

- É seguro?

- Claro. Drakon, guardião da Floresta, precisa saber que você pertence a ela também, para evitarmos problemas entre vocês.... rs

- Drakon, sou Alecsander, é um prazer conhecê-lo – disse ele curvando-se para o Dragão.

Mesmo sem querer, acabei rindo, mas ele estava certo, dragões são seres superiores e devem ser respeitados.

Ficamos ali, por algum tempo, distraídos com a presença do Dragão, quando esse alça vôo, nos assustando... rimos feito crianças.

- Ele cansou de ser paparicado.....rs

- Acho que sim minha Senhora.... rs

- Vamos, irei mostrar seus aposentos, deve estar com fome também!

Dizendo disso, levei-o até minha casa, era simples, mas quente e protegida.

- Espero que não se importe, as acomodações são simples, mas aquecem no inverno!

- De maneira nenhuma minha Senhora....se me permite, cuidarei dos cavalos, enquanto a Senhora descansa!

Dizendo isso, pegou os arreios dos cavalos enquanto eu adentrei em minha casa, precisava preparar algo para nos alimentarmos, já se fazia tarde.

Acabei me distraindo, cuidando dos meus afazeres, quando o vejo a porta, estava a observar tudo e falo:

- Desculpa desaponta-lo mas não tenho caldeirão! Rs

- Perdoa-me minha senhora, é tudo tão lindo aqui, que temo ser um sonho!

- Não é um sonho meu amigo, vamos entre.. venha comer!

- Obrigado senhora, será uma honra servi-la!

- Não! Acho que temos que impor algumas regras aqui! 1º Não precisa me chamar de senhora. 2º Não está aqui para me servir, mas para aprender e 3º Somos amigos. Aceita?

- Certamente minha s... quero dizer.... aceito minha amiga... uma pergunta o Drakon é seu?

- Não! De maneira nenhuma, ele meu amigo, nos respeitamos mutuamente, ele vive aqui na Floresta, respeito-o como ele me respeita!

- Então porque ele te obedece?

- Ele não me obedece... apenas estava curioso... então veio... só isso...rs

- Entendo! Aqui tudo tão diferente, preciso me acostumar.

- E irá... tenha certeza disso!

- Agora sente-se e coma! Espero que esteja de seu agrado.

- Está sim... muito agradecido.

- Mais uma coisa.... você não esta aqui pra me servir, todas as tarefas serão divididas, assim conseguiremos viver em harmonia.

- Se assim deseja....

- É o que desejo...rs

- E como está seu braço?

- Bem melhor.... na se preocupe.. Logo ficará bom, os hematomas vão sumir.

- Espero que sim... Devia ter voltado lá e matado aquele homem!

- Não devia não.... se tivesse feito isso, não estaria aqui... sabe disso! Deixaria seus sonhos e planos.. e não quero isso!

- Tem razão... mas que devia ter voltado devia....rs

- Terá de aprender a amansar essa sua fúria, se quiser aprender...

- Eu sei disso... é que não suporto injustiça....

- Nem eu.... esqueçamos isso, tratemos de assuntos mais alegres, afinal, hoje se inicia uma nova jornada em sua vida!

- Tem razão... como sempre....

Conversamos por mais algum tempo, quando terminamos de nos alimentar, fui cuidar dos afazeres da cozinha, enquanto ele foi se perder novamente em seus livros, (obs. Preciso tirar esse vicio dele..rs)

...continua...

Condessa Drakon
Enviado por Condessa Drakon em 16/02/2012
Reeditado em 01/06/2013
Código do texto: T3503244
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