A MAIOR BRIGA DE TODOS OS TEMPOS

Tinha fama de durão.Era valente ao extremo e não levava desaforo para casa.

Para se ter uma ideia, no almoço ele tinha que saborear umas duas

ou três pimentas malaguetas,trituradas com um garfo.Se não tivesse esse ingrediente ele,literalmente,soltava fumaça pelas ventas.

De idade avançada,não enxergava muito bem, e as cataratas tomavam conta da sua vista cansada.

Naqueles tempos, homem que era homem tinha que andar armado

para se resguardar de bichos e pessoas.

Usava um punhal que fazia gosto: uns dois palmos de aço,de ponta bem fina, numa bainha de couro trabalhado -com uns arabescos em alto relevo.

Um dia, lá pelas onze horas de uma noite pouco enluarada,vinha

ele da cidade para seu sitiozinho -á beira da estrada de terra. Ao subir uma pequena ladeira ,de pedra meio soltas, vislumbrou uma

sombra, a uns cinco metros á sua frente, na beira da estrada.

Seu instinto matador se aflorou,suas narinas se dilataram, uma energia extra tomou conta do seu corpo.Seus cabelos arrepiaram-se.

Pegou,mecanicamente, o punhal e ficou em guarda!

Um ventinho frio balançava as poucas folhas das árvores.

Um silêncio envolvia e impregnava os viventes da caatinga.

Apurou a vista desgastada,para ver melhor aquilo que estava á sua frente.

Seria um bicho ou uma pessoa?!

Conseguiu vislumbrar alguma coisa de,mais ou menos,uns dois

metros de altura.Quase imóvel, a criatura parecia estar com os

braços meio estendidos para lhe dar um golpe.

Pensou, pensou ... e decidiu.A melhor defesa é o ataque!...

Tomou coragem e, num arranque sensacional, se lançou de corpo,

alma e punhal pra cima da besta-fera como um touro bravo.

A coisa foi feia,minha gente!

Pedras soltas rolando da ladeira, foi enfiando o punhal naquela

criatura que também o espetava de forma violenta. Um auê dos

diabos! Briga feia!Um Barulho dos infernos!

Naquele fuzuê danado conseguiu correr,todo quebrado e

ensanguentado,chegando na sua casinha de taipa num pulo só.

Todo arrebentado,não conseguiu dormir.

Tomou um banho de água com sal, pois os riscos na sua pele eram

muito profundos.A criatura tinha dentes e unhas muito afiados.

No outro dia -bem cedinho,meio desconfiado, foi até ao local para

certificar que criatura -boa de briga- era aquela que tinha lhe deixado

marcas profundas por todo o corpo.Estava todo lanhado!

Devagarinho foi se aproximando,como quem não quer nada,e o que

viu lhe deixou perplexo e ... estarrecido.

No chão,entre pedras e pedaços de pau, jazia um inocente pé de

mandacaru-com seus bracinhos espinhentos furados e triturados, cheios de sangue.

Que cena! Que situação!...

O mandacaru também foi valente.Sucumbiu mas deixou,para sempre,

marcas indeléveis no seu adversário,naqueles cafundós do Nordeste.

Foi Lindo!!!...