UM POUCO G.H.

Clarice, sim você mesma, Clarice! Ontem tive uma experiência inusitada feita sua personagem G.H. Meu encontro com ela, a experiência, não foi em decorrência de um acesso repentino de limpeza, não. Cheguei tarde pisando em algodão para não acordar ninguém em casa, porque ao contrário da G.H, não sou independente, bem sucedido, ou moro sozinho. Ao adentrar o quarto lá estava ela. "Maldita!", gritei internamente.

Sobre suas horrendas patinhas, ela andava majestosa pela lateral da cama, por entre minhas roupas estendidas no peitoral. "Nojenta!", parece que ela ouviu, pois fitou-me por alguns instantes e meio que sabendo o que ocorreria, como acontece de praxis logo após nos depararmos com um exemplar dessa espécie, ela correu. Tentei matá-la, mas escondeu-se.

Tirei os sapatos, bem atento, depois de desistir em procurá-la, desabotoei a camisa, larguei sobre um móvel: a pulseira, carteira e as chaves. Já no banho apressei-me para poder deitar antes que o dia raiasse e ainda parecesse noite no quarto, para ajudar o sono.

De volta ao quarto, a insubordinada, comportamento típico desses seres, estava lá parada, talvés para recepcionar-me, brincadeirinha, ou um simples ato de audácia, fico com a segunda hipótese. e por isso corri para apanhar o SBP. Intoxiquei o quarto inteiro para atingi-la por todos os lados. Ela correu e atrás dela os jatos de spray do veneno. Tentando matá-la quase sucumbi. Entre acessos de tosse e pisões para acertá-la, a nega safada venceu. Fugiu.

Humilhado, recolhi minha momentânea insignificância e deitei-me. O sono não veio, as lembranças da noitada também não, deram lugar à lembrança dela. Qualquer roçar do lençol em minhas pernas pensava ser ela. Captava ruidos e as vezes achava que consiguia ouvir seus passos, tamanho o medo, mas sintia-me ligado a ela, em sintonia.

Há tempos ela não dava sinal nunhum de vida, poderia ficar aliviado com sua ausência, mas não, não me desligava. As vezes pensava que ela poderia ter arranjado outro, ter seguido sua vida com quem relmente se importasse com ela e a tratasse bem. As vezes pensava que ela tinha me visitado, quando sentia o lençol, o traiçoeiro lençol, roçar em minha pernas, mas não, nada!

Conformei-me. Um pouco ressentido é claro, nunca é fácil ser rejeitado! Mas o tempo veio, passou e levou as lembraças dela de mim. Até que um dia, muito tempo depois, a avistei. Ela espantou-se quando me viu, talvés pensou que eu iria atacá-la, quem sabe? Não o fiz. "Ela está mais gorda agora!", pensei. Pacere que ela ouviu, porque baixou a cabeça e foi embora, sem ao menos olhar para trás. Pondo as mãos sobre minha barriga, como quem se exibi, a deixei ir, afinal de contas me sentia melhor que ela.

Wérlen M dos Santos
Enviado por Wérlen M dos Santos em 29/01/2012
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